Bella
Quando alguém morre, todos choram a sua desgraça. Todos nomeiam os bons momentos, os bons sorrisos e as conquistas antes não destacadas. Poucas eram as ocasiões em que estes deixavam ir más memórias dos falecidos, as quais em vida não deixavam de ser repetidas nas costas uma e outra vez.
Alguns deixam cair lágrimas sinceras e soluços de saudade e tristeza. Outros enchem de hipocrisia os seus olhos e choram com exageração e falsidade fingindo a dor que nunca chegou aos seus corações, tal como o afeto pela pessoa morta. Irónico, não?
O meu olhar fixou-se no caixão enquanto o vento fazia voar o meu cabelo como se da alma do meu pai a gritar comigo se tratasse. Deveria dar um passo em frente. Deveria tirar um lenço e chorar mostrando a suposta tristeza que deveria inundar a minha alma pintando-a de preto e cinzento. Mas aí estava, com o olhar perdido no horizonte e o queixo bem levantado. Mantive-me de pé e o meu vestido preto fazia com que a morta da situação parecesse eu.
Não tinha vontade de chorar, já nem sequer espreitava pelos meus olhos algum tipo de ardor prévio ao ato. Nada. Absolutamente nada.
O Harry estava ao meu lado. O seu fato preto tapava o seu corpo tão bem que parecia ter sido cosido especificamente para ele. O vento também mexia o seu cabelo; jogava com ele. Apertou a sua mão na minha cintura e apoiei o meu corpo nele.
A minha mãe chorava exageradamente a escassos metros de mim. Ainda não lhe tinha olhado nos olhos nem trocado alguma palavra com ela.
O Lucas e a Gemma também tinham comparecido ao evento, tal como os pais do rapaz. Eles tinham sido amigos familiares durante muitos anos e, mesmo que o Lucas fosse um idiota, ainda parecia estar com vontade de ser mais hipócrita ao ponto de comparecer no funeral do meu pai depois de toda a merda que fez.
Estava tudo preparado para descer o caixão até ao fundo do buraco e esquecer o assunto que sabíamos que não iria ser esquecido. Pouco a pouco, o meu pai ia desaparecendo da minha vida, até se ir embora para sempre. Toda a sua empresa ficaria a cargo da minha mãe para minha sorte mesmo que eu visse pouco viável o facto de que ela se encarregasse disso; temia que a carga caísse sobre mim, mesmo que tivesse bem claro que em caso de que isso acontecesse não duvidaria em vender a empresa. Eu não a queria.
O caixão chegou ao final e então as primeiras camadas de terra começaram a cair sobre ele. Enterrando o meu pai.
Foi aí que a minha visão se nublou e por pouco achei que fosse soluçar; não o fiz. O Harry manteve-me nos seus braços com a cabeça apoiada no seu peito.
-Tranquiliza-te, está tudo bem. É a lei da vida, mas chora se quiseres. Estou contigo. - sussurrou no meu ouvido. Assenti mas não disse nem uma palavra, não tinha de dizer.
Marcel
Merda, merda e mais merda.
Como ia eu saber que a minha irmã estaria no funeral?
A Gemma não parava de olhar para mim. Parecia que me matava com o olhar e ao mesmo tempo me pedia auxílio. Os meus olhos também estavam fixos nela enquanto sustinha a rapariga perto de mim. Eu mantê-la-ia a salvo, mesmo que não houvesse muito do que a salvar.
Em pouco tempo, as pessoas presentes espaireceram quando esteve tapado por completo. A mãe da Bella ajoelhou-se no espaço justamente em cima de onde o seu falecido marido se encontrava e chorou com exageração. A Bella separou-se de mim uns centímetros, sequei as suas lágrimas e beijei a ponta do seu nariz.
-Calma. - acariciei a curva das suas costas.
Ela assentiu de novo e nesse momento foi quando uma mão tocou as minhas costas; o meu sangue congelou-se no instante mas recuperei disso relativamente rápido quando encontrei o Luke, o primo da Bella. Os seus olhos estavam vermelhos. Pelo que tinha entendido, o pai da Bella tinha discutido com os pais do Luke há muitíssimos anos atrás, mas aí estava, no funeral do seu tio.
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Os Trigémeos Styles 4: Dreams (tradução)
FanficQuarto livro da coleção "Os Trigémeos Styles". 4/5