19 - Decisão Tomada

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Rolava para um lado e para o outro. Regina não sabia o que estava me cobrando. Minha cabeça pensava em mil coisas para falar com ela, mas aquela menina era muito firme em suas decisões e quando punha uma ideia na cabeça era para valer. "Ela não sabe o que me pede. Já pensou como seria? Vovó, por exemplo. Demorei anos pra me aproximar dela e de repente chego e assumo que mantenho um relacionamento com uma garota. Pronto! Ela vai achar que não me bateu o suficiente, vai ficar ainda mais frustrada e ainda me põe na rua. E os pais de Regina? Aquele inglês metido vai mandar me pegarem, igual fez meu bisavô com o tal de Juvenal. E a mãe? A piruona vai dar um chilique, gritar pela casa toda e mandar Regina pra Inglaterra de volta. E como seria na faculdade? Lá todo mundo me respeita e de repente eu seria motivo de chacota pro departamento. E ela também! Tinker iria me excomungar, Lily não falaria comigo e Ruby ia começar levando na sacanagem, mas iria acabar se afastando também. E no laboratório? Se precisasse de uma carta de recomendação para um emprego, era capaz de me darem uma "carta de desconsideração". O povo da capoeira, o povo do vôlei... Ia ser uma sacanagem só pra cima de mim! E em relação às aulas pras crianças era bem capaz das mães não deixarem os filhos nem falarem comigo. Também, pra que eu fui prometer que a gente assumiria quando ela fosse maior de idade?? Mas eu nem pensei que ela fosse realmente me pedir isso. Achava que ia cair na real e deixar tudo como vinha sendo. Meu Deus, quê que eu faço???"

Dormi só depois de muito tempo.
Deixei dois dias passarem para procurar por Regina. Inclusive eu tinha duas provas nesses dias e era até melhor assim. Ela, eu sabia que também ia fazer uma prova. Passei na sala onde sabia que estaria e esperei do lado de fora. A turma saiu conversando sobre um trabalho de grupo e ela vinha com duas garotas e um rapaz.

- Oi, oi gente! Regina, posso falar contigo?

Ela me olhou impassível e disse: 
- Fica para depois, Swan. Temos um trabalho de grupo criado em cima da hora e é a prioridade nesse momento.

Fiquei muito sem graça e respondi: 
- Tá! Eu vou estar no laboratório...você sabe.

Afastei-me deles e fiquei muito chateada com ela. Fui para o laboratório, mas ela não me procurou. Deixei passar mais dias e a semana acabou. Pensei em ir à sua casa no sábado, mas tive medo de ser enxotada. Vovó me falou de um grupo que iria em Aparecida neste mesmo sábado e dei o dinheiro para que viajasse. Levei-a na Rodoviária Novo Rio e conheci as pessoas que seriam suas companhias; todos colegas de dona Penha, sua falecida patroa. Eles passariam o dia pela cidade e voltariam no domingo. Típico programa de índio!

Fui para a praia, corri e tomei banho. Encontrei a galera no Posto 6 e jogamos vôlei por várias horas. Todos me acharam diferente, triste, mas enganei culpando o trabalho.

Ao final da última partida dei mais um mergulho e, saindo do mar, encontrei Regina. Vestia um shortinho preto e uma blusa branca de alcinhas. Segurava suas sandálias estando descalça.

- Sabia que estaria aqui. Assisti à última partida e esperei que acabasse. Bom jogo, aliás.

- Acho que já deve ter cuidado de todas as suas prioridades. Sobrou muito tempo pra mim? – perguntei com certa ironia

Ela abaixou a cabeça e remexeu um pouco de areia com os pés.

- Acho que agi mal com você.

- Morri de vergonha! – passei as mãos no rosto removendo o excesso de água - E doeu também. Você não me procurou nem nada. Sinal de que eu não sou prioridade nenhuma pra você. 

- Não diga isso! Você sabe que a amo! Está sendo injusta por julgar meus sentimentos assim!

- E você não é injusta quando diz que eu só quero transar? – coloquei as mãos na cintura – Depois de tudo me diz isso! Se eu quisesse só transar já teria dado no pé há muito tempo!

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