22 - Minha Rainha

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Nunca soubemos o que aconteceu na casa de Regina quando seu pai chegou, mas dois dias depois disso, André, o motorista, sobe o morro à noite e chega com seu Neneco na porta de minha casa. Até que ele foi esperto e veio vestido de gente normal ao invés do uniforme de pingüim com o qual trabalha. Estava muito assustado e deu apenas um recado dizendo que Henry queria nós duas lá na cobertura, no sábado pela manhã.

Estávamos desconfiadas e, chegando o dia, Regina telefonou para casa pedindo para que os dois nos encontrassem em um quiosque no posto 6. Chegamos a pensar que poderia haver polícia nos esperando lá no apartamento, e então não facilitaríamos. Muito a contragosto os pais dela aceitaram. Estávamos escondidas e vimos quando os dois chegaram no carro com André e ninguém mais. Aparentemente, barra limpa.

- Francamente, Regina, nos fazer passar por esse constrangimento?- disse Cora apreciando o quiosque com cara de nojo.

- Achei que nossa conversa deveria ser em território neutro.

Henry me olhou com ódio nos olhos.

- E pensar que você pisar em meu casa!

- Se iremos começar assim, vamos embora agora! - Regina ameaçou.

- Não! Já que viemos até aqui, que não seja em vão.

Pela primeira vez eu concordava com minha "sogra". Para quebrar o clima ruim, Regina pediu côco para nós.

- E então? Quem começa a falar primeiro? - perguntei.

- Você não querer Europa, não é filha?

- Não, papai. Nem insista com isso! Nem mesmo se a vovó cortar minha pensão.

- Anteontem seu pai e eu conversamos longas horas com sua avó ao telefone, e ela disse que não vai mexer em um centavo de sua pensão. Até me pareceu que ela está concordando com isso.

"Grande vovó Granny!"

- Cora please. Let me talk to my daughter. (Cora por favor. Deixe-me falar com minha filha.)

- Pai, Emma está aqui e se quiser conversar será em português.

- Regina, quero que volte para seu casa! Seus coisas lá, seu vida lá também.

- Eu não vou desistir da Emma, se é o que veio me pedir. - olhava firme nos olhos do pai com os braços cruzados..."Sempre amei essa sua pose de rainha! Rainha?". Ri com meu próprio pensamento.

- Eu não dizer isso, só pedir para você voltar.

- Precisamos de um tempo pra resolver tudo isso, minha filha! Volte pra casa, por favor! - Cora pediu com cara de choro.

- "Resolver tudo" o que, mamãe? - Regina perguntou desconfiada.

- Tudo, como vai ficar. Eu já nem sei o que responder quando me perguntam por você. E olhe suas mãos - segurou as mãos da filha - Anda lavando louças ou fazendo limpeza?? - perguntou chocada - Uma Mills não faz isso, jamais! E olha seu cabelo, sua pele... Oh, filha está tão maltratada! Daqui a pouco vai ficar uma mulherzinha como essa daí! - olhou-me com desprezo.

Não perdi meu tempo respondendo. Regina recolheu as mãos do contato com a mãe.

- Mãe, eu não vivo na casa dela para ser servida e ficar à toa. É claro que eu trabalho, mas não estou "maltratada". Além do mais estou no Cantagalo só há alguns dias e nem daria tempo para tanta coisa!

- Não se chega a acordo com conversa vazia. Regina, volte seu casa e chega isso tudo! Eu não vou interferir nesse seu... relacionamento. - olhou-me com nojo.

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