Vovó nos convidou para passar o final de ano na Inglaterra, mas não pudemos ir. Eu tinha o trabalho e Regina o período letivo que só acabaria em janeiro, por conta de uma greve que houve no segundo semestre. Ainda assim, com esse problema, a turma de Tinker manteve a comemoração da formatura para dezembro, até porque estava tudo pago e foram três dias de festa: colação de grau simbólica, baile e culto ecumênico. Foram belos e animados eventos e nós nos divertimos muito.
Na segunda-feira, imediata às festas de Tinker, houve um tiroteio terrível no morro da Serrinha, e eu na fuga arranhei os cotovelos, machuquei as mãos e torci o pé. Isso foi considerado acidente de trabalho e Arthur me deu quinze dias em casa. Estávamos nas proximidades do natal e tive de ficar de repouso. Regina ficou louca de preocupação. Por conta desse acidente não aceitamos o convite de Sandra e Nara para ir a Cabo Frio. As duas foram acompanhadas pelas outras duas integrantes do "polígono amoroso". Coisa de louco!
Sugeri que Regina convidasse Ruth e Paulinha para passar o natal conosco e ela assim o fez. As duas aceitaram animadas e foram levando um monte de comida. Depois Regina e Paulinha ainda cismaram que faltava coisa, e em plena véspera de natal as duas estavam na rua comprando. Eu fiquei em casa, sentada na cama com o pé para cima, e Ruth comigo batendo papo.
- Mas me conta, loira. Quê que houve com esse teu pé aí? - pegou a cadeira da cozinha e sentou perto da cama
- Eu tava vendo com o pessoal o problema de uma encosta que tá difícil de conter, porque a galera do morro joga lixo direto em todo lugar, quando então o tiro começou. Todo mundo correu sem destino certo e eu achei melhor sair das partes mais expostas do morro, que era onde estávamos. Ali todo mundo era um alvo e tanto! Aí eu pulei numa laje, e mirei de passar pra outra pra depois pular pro chão. - ri - Só que nessa eu me dei mal! Escorreguei e caí num barranco. Me sujei toda, ralei, machuquei e torci o pé. Rastejei até um muro e fiquei quietinha encostada lá. Quando a poeira baixou fui tentar me levantar, mas não conseguia encostar o pé no chão, que doía demais. Um próprio morador me levou de carro pro hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, e lá disseram que eu tinha torcido o pé.
- Meu Deus, que coisa horrível! E a Regina? Quando ela soube o que fez?
- Eu não avisei a ela na hora. Era bobagem e não queria assustar a garota. Pedi pra assistente social ligar pro chefe porque aquilo foi um acidente de trabalho, e ele veio correndo. Quis que eu fosse pro São Lucas, aqui em Copacabana, mas eu só torci o pé e me arranhei! Sem necessidade disso. Mas ele me trouxe de carro até aqui. Então, uma vez em casa, eu liguei pra faculdade e deixei recado pra ela.
- E o pessoal da faculdade avisou a ela?
- Avisou! Ela veio correndo e entrou aqui igual uma bala. Me disse um monte de coisa e tá de mal comigo. - abaixei a cabeça e fiquei mexendo no lençol.
- Mas também pudera! Eu ficaria possessa!
- Eu só não queria preocupar! Só isso. - olhei para Ruth.
- Ah, Emma, mas isso é coisa séria. Quando eu ainda morava em Araras fui pular uma fogueira na festa junina e torci o pé! Foi uma coisa complicadíssima! Arranhei cotovelo, joelho, mãos, a cara, tudo!
Ri e passei a mão nos cabelos. "Lá vem ela com suas estórias!"
- E que diabo de fogueira é essa que você foi pular e se danou toda? - perguntei rindo.
- É que a fogueira tinha cada labareda tão alta, mas tão alta que eu tive que subir no alto da laje pra pular. Ela tava entre duas casas e eu pensei de pular de uma laje pra outra mas escorreguei e caí e aí já viu: me lasquei toda.
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Além do Tempo
RomanceO amor não escolhe clásse social, personalidade, etnia... não escolhe hora, nem lugar. Ele simplesmente acontece. Sem pedir permissão, invade a alma e o coração. Emma Swan e Regina Mills, mostrarão que esse sentimento tão sublime, pode sim quebrar...