76 - Reviravolta

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Quem dissesse a Cora que um dia estaria sentada àquela poltrona com feições preocupadas por uma estranha em um hospital, ela diria para essa pessoa procurar um psiquiatra, pois só poderia estar louca. Porém ali estava ela, velando o sono da mulher que há horas atrás salvara sua vida. Admirou a coragem daquela que se pôs em perigo para que o pior não lhe acontecesse e agradeceu aos céus por ela ter aparecido naquele momento, como também pediu para que se recuperasse. Ter compaixão e empatia para com o próximo também estava sendo novo para Cora, ela não era de mostrar tais sentimentos se não fosse por interesse, por ganância. No entanto, experimentar essas sensações de forma sincera trazia bem estar ao seu coração e iria agradecer à Emma Swan eternamente por ter lhe aberto os olhos.

Havia questionado aos médicos se alguém já havia ido visitá-la, além de seus colegas da 54°DP da capital, e descobriu que Ingrid não tinha parentes no país, era natural da Austrália e morava no Brasil desde jovem.

- Será que eu morri e estou no céu? - Ingrid indagou com a voz embargada pelos remédios e ainda de olhos fechados se mexeu na cama. Cora não notou o momento em que a mulher havia acordado, presa em seus devaneios, levantou-se num pulo da poltrona e se aproximou da cama.

- Não, querida! Do jeito que o mundo anda, considere-se ainda estar no inferno… você está bem viva, graças aos céus! - a repreendeu.

- Pra eu estar vendo um anjo lindo, só poderia estar no paraíso! - concluiu a loira a fitando, percebendo o rubor no rosto de Cora. - Quanto tempo estive desacordada? - mudou o assunto por notar o desconcerto aparente por sua brincadeira.

- Você está há algumas horas inconsciente, o ferimento foi profundo. Perdeu muito sangue, então o médico decidiu que passará essa noite em observação. - explicava à Ingrid que a ouvia atenta e não desgrudava seus olhos dos castanhos.

- E você permaneceu aqui comigo todo esse tempo? - indagou de cenho franzido.

E foi aí que Cora caiu em si e fez-se a mesma pergunta: por que ficou ali? Ela queria expressar seus agradecimentos, mas poderia ter feito isso quando a loira acordasse, não havia precisão de estar lá. Porém a necessidade de estar próxima a prendeu naquele quarto, sentimento esse que a assustou, fazendo-a sacudir levemente a cabeça e desviar seu olhar dos azuis intensos e atropelar as palavras.

- Bem, eu...só queria me certificar de que não precisasse de algo… - pigarreou. - Ter certeza que você ficaria bem!

Ingrid ria do nervosismo de Cora. Uma bela mulher, a loira observou. Linda, portava-se como uma dama, com traços fortes.

- Calma, madame, não precisa ficar assim. Confesso estar aliviada por ter acordado e me deparado com uma bela visão. - sorriu. - Não é nada agradável despertar com a presença de uma enfermeira. Agradeço a companhia, há tempos não tenho alguém que se preocupe comigo assim.

Cora se entiu lisonjeada, mas as palavras seguintes da policial tocou seu peito e ela sentiu uma fisgada no coração pelo relato um tanto melancólico da loira.

- De qualquer forma terei que chamar o médico pra te examinar e acredito que possa estar com fome.

- Estou, de fato, mas meu maior desejo agora é um copo d'água. Poderia, por favor? - apontou para o filtro acoplado à parede e Cora seguiu seu olhar.

- Sim, claro. - foi ao bebedouro, encheu o copo e voltou entregando-o para Ingrid, que levantou-se. - Devagar, Coronel! - segurou-a pelos ombros. - Não queremos que os pontos se rompam, não é mesmo? - a loira assentiu e obedeceu.

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