Cinco

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O telefone de Cristine tocou e ela rapidamente empresta sua atenção ao seu aparelho celular. Pelo curto toque foi uma mensagem. Ela corre os olhos rapidamente na tela e depois volta a enfiar o aparelho no bolso.

– Falei que íamos passear. – Ela assobia. – Mas provavelmente não vai gostar do lugar que estamos indo. Isso é até... demais pra mim.

Meu coração acelerou em um passe de mágica. Já imaginei sendo levada para o pior local já existente no mundo. Um porão assombrado, um matadouro de animais, um clube de tiro onde eu serei o alvo...

Ela pede para que eu siga e assim faço. Queria poder desmaiar para não ir. Será que se eu fingir funciona?

– Estou me sentindo mal, Cristine.

– Ele mandou eu levar você de todo jeito, nem que pra isso eu te colocasse focinheira e usasse cordas também. – Ela abre a porta do carro e me manda entrar. – Tô confiando que não precisarei disso com você. Entra!

Mas quem aquele imbecil acha que eu sou?

Não que eu me incomode em ser comparada a um cachorro, pois sei que eles tem mais sentimentos que muitos humanos. Mas ele claramente quis me ofender. Talvez querendo sugerir que eu seja agressiva ou arisca.

Uma selvagem, talvez?

Adentro no carro e ela também. Os homens armados ficam apenas nos olhando. Estranho o fato dela não ter me induzido a pôr uma venda nos olhos.

– Não preciso de uma venda? – Questiono, mas sem contato visual. Olhar as árvores me parece mais interessante.

– Não. Ele não pediu. – Pela fala com dificuldade, presumi que ela estaria com outro cigarro entre os lábios. Mas nem precisei olhar para confirmar. A fumaça me alcançou. – Vou abrir a janela pra você.

Ela deve ter seus 30 anos, mas com esses hábitos autodestrutivos não dura muito. Li uma vez que ser tabagista é um fator predisponente para o câncer de pulmão. Não aceito alguém tão jovem e destruindo tão facilmente o que tem de mais bonito, que é a vida.

A paisagem demorou muito para modificar-se. Isso significa que estou sendo mantida cativa em um local praticamente no meio do nada.

Saímos da estrada de terra socada e adentramos em uma de asfalto. Só por ver coisas diferentes eu me sentia um pouco melhor. É extremamente agonizante estar em um ambiente fechado. Pior ainda pra quem foi criado livre quem nem bicho.

– Para onde estamos indo? Queria ter ideia do que me aguarda.

– A um sexshop. O chefe mandou comprarmos uma fantasia de cadela pra você usar. – Eu senti toda agonia da Cristine ao me falar isso. Ela realmente não queria ir a esse lugar. – Não se preocupe. A fantasia não é pra você usar com ele e nem com homem algum. Acho que me entendes.

– Que porcaria esse homem tem na cabeça? – Sinto minhas mãos tremerem. – Por que ele quer me ver fantasiada de cadela? Eu vou pular desse carro agora!

Quando eu ia colocar a mão na maçaneta, Cristine faz uma manobra rápida e encosta no acostamento. Meu coração quase salta pela boca.

– Olha, garota, não sei ao certo que merda ele quer com você. Mas não é morrendo que você vai resolver tudo. Pode tentar sair do carro, vai ser em vão. A porta está trancada. – Tento abrir, mas realmente está trancada. Bufo alto. – Então não seja bundona e pense que morrer vai resolver tudo. Para com essa história maluca porque você não sabe como é estar à beira da morte. Ok?

Me ajeito na banco e ela volta a dirigir. Não consigo esconder a imensa vontade que estou de chorar. Estou muito ferrada!

Eu já não ansiava mais olhar para as paisagens, nem as casas, prédios, nada. Eu encarava fixamente minhas unhas com o esmalte rosa descascando e as cutículas grandes.

Quando foi que eu errei para merecer isso? Eu queria poder encontrar a resposta o mais rápido que eu puder e só então consertar a raiz do problema e ter minha vida de volta.

– Chegamos. Esse sexshop parece que vai nos servir. – Encaro o letreiro chamativo e sinto minha cabeça doer. – Vamos fazer isso ser rápido, Melina.

Desço do carro e vejo quando ela tira a arma da cintura e joga no banco antes de fechar a porta.

Ela está desarmada. Não tem como me impedi de fugir. É minha chance!

Olhei para todos os lados traçando mentalmente minha melhor rota, mas assim que dei um passo sinto a mão de Cristine no meu ombro.

– Estou sem arma, mas não preciso dela para te pegar, Melina. E sei que não é com armas que o chefe está te ameaçando. Lembre-se antes de tomar atitudes impensadas.

– Ok, ok. Não se preocupe. – Levanto as mãos como se estivesse me rendendo. – Já entendi que estou ferrada e sem opções. Não vou tentar mais nada. Prometo.

Cristine está certa. Deon não está me ameaçando com armas, mas sim com a coisa mais importante que tenho: minha família. E isso é baixo demais. Pode não ter uma arma física envolvida, mas é como se eu estivesse sob a mira de cem fuzis.

A atendente da loja remove sua expressão de tédio assim que nos ver entrando. Observo o lugar enquanto ouço Cristine pedir opções de fantasia de cadela. A atendente solta um risinho e pede um minuto para ir no estoque.

Observo os grandes e pequenos órgãos sexuais masculinos de borracha pendurados na parede. Sinto que minhas bochechas estão quentes e consequentemente vermelhas. Acabo optando por ficar na bancada, perto da minha guarda-costas.

– Temos três opções, senhora. – Ela tira cada uma das embalagens e exibi as peças. – Esse conjunto aqui é todo rosa, esse outro é estilo dálmata. E esse aqui é tipo cadelinha de rico, todo no dourado. Até a coleira imita pedrarias pra esbanjar glamour e riqueza.

– Gostou de algum, Melina?

– Odiei todos. De jeito nenhum que eu vou vestir algo assim. Fere minha honra e meus princípios, Cristine. – Seguro uma das calcinhas dos conjuntos e questiono silenciosamente como que aquela peça minúscula cobrirá algo em mim. – Não vou escolher. Vamos embora, Cristine.

– Infelizmente, se não escolher eu terei que passar para o chefe escolher. – Ela roda a coleira no dedo indicador como se a peça fosse um bambolê. –  Só cumpro ordens.

Dei de ombros e vi quando ela puxou o celular e tirou foto de cada conjunto. Que humilhação!

Para que esse homem quer que eu vista uma fantasia desse tipo? É simplesmente ridícula!

Não cobre nada direito. Tudo fica à mostra ou sugestivo. Sem contar que isso é usado para fins sexuais. É deplorável!

Se há quem gosta, ok, mas me obrigar a usar já é demais. Bem que a irmã dele avisou que meu inferno está só começando.

– Ele escolheu a cadelinha de rico. Segundo ele, condiz mais com o momento. – Cristine me avisa e depois vira para a atendente. – Vou levar!


Olá, tudo bem? Essa história encerra aqui e encontra-se totalmente  disponível na plataforma da Dreame. É só pesquisar pelo nome dela e descobrir o que acontecerá com nossa querida Melina. Conto com vocês. Abraços!

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora