Trinta e dois

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O que adianta encenar se o principal é real?

A minha dor é real. A morte dos meus pais é real. A desilusão é real. A decepção é real.

Eu apenas desejo que isso termine do jeito que me faça ficar com meus pais. Nada mais tem sentido na existência sem eles.

– Não, Melina. Morrer não. Você tem que viver. Você precisa seguir.

– Eu perdi meus pais por sua culpa. Como seguir? Ou você quer que eu seja igual a você e fique por anos planejando uma vingança na qual o final dela é com você morto? – Encaro seus olhos escuros e perdidos. – Eu não vou discutir isso com você, Deon. Vamos logo encontrar Maximilian.

Tento passar por ele em rumo ao lado exterior do galpão, mas ele me puxa e me abraça. Permaneço imóvel.

– Tudo foi real. Por favor, não desacredita da pureza do que aconteceu entre nós. Eu não te usei. Eu te amo muito. – Sua mão passa pelos meus cabelos. – Depois disso tudo eu quero que você seja feliz. Sem mortes. Eu só quero que você realize seus sonhos.

– Que sonhos, Deon? Meu único desejo agora é que essa dor suma. Eu preciso que essa dor suma. E você já ouviu de minha boca qual a forma que eu quero fazê-la sumir. – Tento sair do seu abraço, mas ele me prende. – Solta.

– Faça sempre escolhas sábias, ouviu? – Ele me solta. – Hoje a noite nos encontraremos com ele aqui. Vou deixar você descansar.

Ele me indica ir para minha antiga prisão e eu sigo para lá. Assim que ponho os pés no local saio quebrando tudo que vejo pela frente. Tudo.

Com as mãos sangrando e ofegante, sigo até o banheiro e tomo um banho. Sorte a minha que esqueci um par de roupas aqui.

Assim que saio do banheiro já vestida, ouço a porta abrir e Cristine surge com sacolas. Pelo cheiro é comida. Ela se aproxima cautelosamente, como se eu fosse uma fera indomável. Estou mais para ursinho chorão.

– Sai daqui, Cristine. – Respiro fundo. – Já sei da parte da encenação, mas isso não importa. Sai daqui!

– Eu não sabia sobre seus pais até a pouco. Desculpe. – Ela deixa as sacolas em cima do sofá, que era uma das poucas coisas que não virei de cabeça pra baixo. – Eu gosto de você, Melina. De verdade.

– Todo mundo resolveu gostar de mim do nada. – Rio sem humor. – Péssima forma de tentar consolar alguém. Mentir é feio, Cristine.

– Eu me abri com você. Não estava e nem estou mentindo. – Continuo ignorando-a. – Vamos te tirar dessa bem. Você vai ver. Apesar do Deon ter culpa, quem matou seus pais foi Maximilian. Ele também merece seu ódio.

– E ele tem. Não precisa me lembrar disso.

Ela abaixa um pouco e tira da bota uma faquinha coberta por uma capa de couro. Ela estende o objeto em minha direção.

– Acho injusto você ser a única que não usará algo para se defender. – Pego o objeto e exponho a faca brilhosa e afiada. – Quero deixar tudo de igual para igual.

– Você está fazendo isso por quê? – Devolvo a faca para a capinha.

– Porque eu gosto de você de verdade e porque eu sei que você saberá usar bem essa faca. Você é mais forte do que imagina, Melina. Deon não sabe que te dei isso. Por favor, esconda ou me darei mal. – Ela abre a porta, mas antes de ir embora ela me olha mais uma vez. – Faça sempre escolhas sábias.

– Ensaiou isso com Deon?

Ela ri balançando a cabeça em negação e vai embora. Enfio a faquinha no vão entre os meus seios. Aqui fica ficará firme por causa do sutiã.

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora