Vinte

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Deon Castilho

Eu sentia que precisava imediatamente ver Melina. Depois que Maximilian deu sinal de que estava vindo para um chá da tarde, eu não podia mais mantê-la longe.

Agilizei tudo sobre nosso casamento e mandei que a trouxessem para o hotel.

Esses dias que passei me recuperando senti bastante a sua falta. Mesmo falando verdades duras na minha cara, eu gosto de ouvi-la e sei o quanto assumir isso, mesmo que apenas no meu consistente, é perigoso.

Estar envolvido com Melina é perigoso. Tudo que a envolve grita perigo e foi justamente eu que a arrastei pra isso. Sei que jamais me perdoaria por tudo que fiz.

Eu realmente quero seu perdão?

Mesmo avisando a Maximilian no dia do atentado contra mim que ele tinha uma semana para me procurar, o infeliz demorou mais do que isso. Ainda teve a audácia de me enviar sua agenda de compromissos.

Sedento por vê-lo e resolver nossas pendências, resolvi aguardar. Tudo bem. Esperar não é uma virtude que eu goste, mas aprendi a conviver. As vezes é extremamente necessário.

E falando sobre esperar...

Ver Melina na minha frente, mesmo que seja de jeans surrado e uma blusa clara esquisita, trouxe em mim uma sensação esquisita no peito. Sem contar que seu tênis também não era nada bonito, mas nela ficava.

Enquanto caminhávamos em rumo ao elevador, eu sentia seu olhar queimando em mim. Seguro um riso contido ao me dar conta que ela também se sente diferente ao estar perto de mim. A tensão toda é quase palpável.

– Não vem, Melina?

Seguro mais uma vez a minha imensa vontade de rir. Melina parecia absorta em uma densa nuvem de pensamentos e tenho quase certeza que boa parte deles são comigo. Digo isso devido a forma com que ela estava me olhando fixamente.

– Ah, sim. Desculpe.

Ela entra no pequeno cubículo e eu aperto o botão que vai para a garagem. Observo-a pelo imenso espelho e ela está alisando seu cotovelo direito e de cabeça baixa, como que se estivesse feito algo errado.

– Como você está, Melina? Como tem passado, na verdade.

– Não posso dizer que bem, Deon. Olha que situação, cara. Tô indo casar obrigada. – Ela ergue o rosto para mim e seus olhos estão inundados. – Não tenho vontade própria a muito tempo. Pareço uma marionete. Quando minha vida vai voltar ao normal? Cadê esse desgraçado que você quer se vingar? Não aguento mais...

E lá estava ela, chorando dentro do elevador. Ameacei me aproximar, na intenção de abraçá-la, mas ela de imediato me repeliu. Eu respeitei. Voltei minhas mãos aos bolsos.

– Vamos.

Digo assim que a porta se abre. Ouço seus fungados atrás de mim, mas não viro para vê-la. O peso de tê-la envolvido nisso está se tornando muito pesado.

Assim que estávamos dentro do carro, apoiei meus braços no volante e bufei. Vi que ela prestou atenção nos meus gestos.

– Melina, não vai adiantar eu dizer quanto tempo eu sonhei com o dia da minha vingança ou quanto dinheiro gastei no processo ou até mesmo os motivos da minha insistência para isso ir até o fim. Nem você e nem ninguém consegue compreender. E tudo bem. – Dou de ombros. – Jurei que não pararia, mesmo que tivesse que passar por cima de quem fosse. É o meu destino ir até o fim, fazer justiça.

– Você é...

– Tudo que você quiser que eu seja. Pode me xingar do que quiser, mas a minha filosofia de vida sempre foi ter poder o suficiente para acabar com seu pai. – Coloco o cinto. – E eu sinto muito que esteja doendo em você. Isso não tem sido confortável pra mim, mas eu não posso parar. Os espinhos são necessários.

– Os espinhos não estão te espetando, Deon. – Ela ri sem humor. – Os espinhos estão perfurando a minha pele, me machucando, acabando comigo. E é você que está usando cada um deles contra mim. Por favor, vamos logo. O mais rápido que puder.

Engulo seco e saio do estacionamento. Resolvo fazer o trajeto em silêncio. Vez ou outra eu a olhava pelo espelho, mas ela não estava me olhando de volta. Melina tem perdido o brilho de quando eu a vi pela primeira vez.

Tem estado cada vez mais apagada e tenho certeza que nem a melhor comida do país a fará ter aquela face radiante que ela tinha.

Sim, Melina, infelizmente estou de espetando. Perdoe-me.

Levo-a até um ateliê pacato, mas de muita qualidade que conheço. Na verdade, o dono dele é ex-namorado da Tábata. Ainda continuamos amigos.

– Precisamos de uma peça de roupa mais...formal pra você vestir. Tudo bem por você? – Ela assente olhando para a fachada marrom do local. – Vamos.

Assim que entramos, rapidamente eu fui recebido pela recepcionista. Aviso que estou com minha noiva e preciso de um vestido legal para um casamento no civil. Prontamente a mulher leva Melina para a parte dos provadores. Antes de ir, ela me olha rapidamente.

Minutos depois, Edgar surge com um sorriso no rosto. Com certeza deve ter feito algum negócio lucrativo ou comprou mais cavalos para seu haras.

– Que sorte a minha ver meu amigo em uma das minhas lojas. – Apertamos as mãos. – Como vai, Deon? Veio buscar alguma encomenda para sua irmã?

– Não. Você sabe que desde que se separaram ela se recusa a comprar roupas em qualquer loja sua. – Ele sorri e cruza os braços. – Vim escolher um vestido para minha noiva.

– Noiva? Uau! Saí da família não faz nem cinco meses e você já está noivo? Meus parabéns! – Assinto em forma de agradecimento. – Espero ser convidado para o casamento. Bom, preciso ir ao meu escritório. Hoje comprarei o cavalo que tanto esperei para ter. Fique à vontade e até mais, amigo.

Apertamos as mãos mais uma vez e ele foi embora. Poucos minutos depois, Melina surge em meu campo de visão. Ela estava vestida com um vestido perolado, de mangas curtas e decote quadrado.  A peça exaltava muito suas curvas deixando de lado todo ar de menina que ela possui.

– E então? Não vai falar nada? – Ela olha para o vestido em seu corpo e o alisa. – Eu gostei desse.

– Arrisco dizer que quem desenhou o fez pensando exatamente em você. – Aproximo-me e ela me olha. – Esse é perfeito. Eu gostei, Melina.

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora