Cinquenta e oito

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Melina Martins

A voz de Deon me trás uma sensação tão boa. É tão bom saber que ele está bem, mesmo que cheio dos seus problemas para resolver.

Só quero me ver livre dos meus problemas também. Precisamos de um tempo de qualidade juntos. Temos tanto a conversar...

– Comecei a resolver meus problemas... – Suspira. – Logo tudo ficará bem. Não se preocupe, por favor. E os exames?

– Tudo certo. – Aquela voz insistente no meu subconsciente pede para que eu fale com ele logo. – Deon... Sexta-feira estarei indo para a fazenda.

– Está confortável com isso? Porque não quero que faça isso se ainda não se sente bem. Eu apenas não posso estar sempre perto de vocês, mas caso queira pode permanecer ai.

– Não quero permanecer aqui. Cris tem a vida dela aqui e agora um noivo. E eu não posso passar a vida na companhia de babás. Uma hora ou outra eu teria que ir para junto de você. – Observo minhas unhas. – Seria egoísta fazer você dirigir semanalmente para vir nos ver. É mais fácil eu ir morar perto.

Seria altamente egoísta fazer Deon se desdobrar de lá até aqui sendo que a empresa dele é lá. Ele precisa estar de perto, acompanhando tudo. Eu ainda não tenho meu negócio, mas posso claramente montar perto do dele.

Há sacrifícios que olhando direitinho nem são sacrifícios. Passamos mais algum tempo falando sobre a minha mudança e de como será minha readaptação na fazenda.

Sei que Murilo irá me auxiliar em muita coisa, mas sei que depois de sexta não tem como esconder o que fiz. Precisarei falar com Deon sobre Jonas e tudo que aceitei para nos vermos livre dele.

– Você sabe que amo você, não é? – A linha fica muda bons segundos porque o nó que se formou na minha garganta me impede de responder. – Amo vocês, na verdade. Sou capaz de tudo por vocês e não estou brincando quando digo isso.

– Saiba que... Que partilho da mesma opinião. Perdi demais nessa vida para não lutar com todas as minhas forças pelo que me restou. Eu amo você também, Deon.

– Sexta-feira, depois que você se instalar, quero que jante comigo. Pode ser? – Afirmo. – Ótimo.

– Agora preciso ir. Tenho muito a ajustar antes de me mudar. Qualquer coisa manda mensagem ou liga, por favor.

Nos despedimos e eu encerro a ligação. Desço para a sala e encontro Apolo jogado no sofá. Ele se levanta e vem em minha direção.

– Cris me disse que vai se mudar. – Ele me abraça. Apolo sempre foi um cara emotivo. – Sinto muito. Não queria separar vocês duas. Eu disse a Cris que se ela quiser ficar com você até o casamento eu não me oponho. Jamais.

– Fica tranquilo. Eu que não quero que ela vá comigo. – Me dirijo até a cozinha. – Está na hora da minha amiga trilhar seu caminho e eu trilhar o meu. Isso não quer dizer que nunca mais vamos nos ver, mas que deixaremos de morar juntas e dividirmos as contas. Vou sentir muita falta dela. Falando nisso, cadê ela?

– Foi no supermercado. Ela disse que precisava comprar algo. – Dá de ombros. – Você quer ajuda com alguma coisa, Melina?

Acabei papeando um pouco com ele sobre a mudança e ele me conseguiu contato com uma transportadora para levar tudo que me pertence. Na verdade, ele não só me deu o contato como não me deixou pagar. Disse que era presente de despedida. Aceitei, claro.

Cris vai ficar legal com ele. Eu sinto. Quando me dou conta disso, meu coração se enche de alegria e alívio. É automático, eu sempre comparo a imagem daquela Cristine que conheci no galpão, quando eu era uma refém de Deon, com a Cristine de hoje.

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora