Quarenta e oito

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Cristine Morris ( Bônus)

Eu queria poder não ter trilhado o caminho que trilhei. De várias coisas tenho profundo arrependimento. Me envolvi com pessoas e coisas erradas. E isso é inapagável. Vai me perseguir o resto da minha vida.

Antes, eu pouco me importava com isso. Só queria poder fazer tudo que me desse vontade e absorver as consequências sem o mínimo de reflexão.

Tomei porrada? Ok, próxima.

Era exatamente assim que eu agia. Sem me importar com nada. Vazia. Solitária. Triste.

Quando perdi meu bebê, com pouco mais de 6 semanas, eu sentia que nunca mais iria sorrir como sorria antes. Era uma dor, um vazio. Eu sentia que todos os meus órgãos tinham sido arrancados e agora eu era só uma carcaça.

Um triste, solitária e desprezível carcaça. Quem iria se aproximar de alguém assim?

Minha tristeza começou com meus pais. Eu era a única filha deles, a filha que deveria ser médica, advogada ou empresária. Minha opinião não importava.

Meu pai, Hélio, era cirurgião dentista e tinha um consultório conhecido na cidadezinha onde morávamos. Ele era bom no que fazia e isso me fazia querer ser boa no que eu viesse a querer fazer um dia.

Minha mãe, Flávia, foi professora de crianças até eu completar cinco anos. Depois ela parou de lecionar porque adquiriu ima séria anemia. Mesmo recuperada, meu pai pediu para ela não voltar a trabalhar. Era bonito o cuidado entre eles.

Eu, Cristine, pressionada pelos pais a ser um grande gênio, queria ser educadora física ou algo similar. Eu amava mexer com o corpo, amava a disciplina alimentar, amava academias. Achava tudo o máximo.

Adivinha o que ouvi quando fui dizer aos meus pais, tendo apenas 16 anos, que queria seguir essa profissão?

"Eu não pago escola particular pra filha minha ir se meter no meio de um monte de machos e ficar de shortinho tentando seduzi-los."

"Escolhemos profissões respeitadas na sociedade, por que você quer seguir isso, Tine? Ensinar homens a ficarem musculosos? Você não tem vergonha, filha?"

Lembro que me tranquei no quarto o dia inteiro e fiquei chorando. Chorei até adormecer. Era a minha primeira desilusão amorosa.

Eu amava os meus pais mais do que tudo. Eles eram os amores da minha vida, meus maiores exemplos. Eles eram tão incríveis aos meus olhos que suas palavras tiveram um peso enorme sobre mim.

A partir desse dia, eu resolvi ser quem eu quisesse ser. Comecei a me enturmar mais com as pessoas, a fugir pra ir nas festinhas, a beijar garotos e garotas. Eu comecei a viver.

Decepções faz a gente cometer burrices. Experimentei bebida aos 17, super incentivada por uma amiga minha. O famoso cigarro veio aos 18, juntamente com a minha vontade de trans@r.

Taylor Mautner era o cara com quem todas as garotas queriam beijar. Ele era bonitinho, mas a fama dele se dava por ele jogar basquete.

Ele pegou meu número e saímos algumas vezes. Foi quando, na terceira vez que saímos, ele me convidou para ir na sua casa. Eu sabia para que era. E eu fui.

Eu sabia que iria ser obrigada a seguir uma profissão que eu não desejava, sabia que teria que estudar que nem louca para realizar as vontades dos meus pais, então eu queria mesmo era viver. Curtir, beijar, trans@r.

– Tem certeza que quer isso, gata? – Taylor pergunta pela segunda vez. – Nunca... Sabe como é... Você nunca fez. Eu não tenho experiência com a primeira vez de ninguém.

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora