Quarenta e dois

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Deon Castilho

Depois de ser deixado do lado de fora da casa dela, liguei para Lídia. Depois de duas tentativas foi que ela me atendeu. Solicitei amigavelmente que ela viesse me buscar de carro. Infelizmente, só eu aluguei carro quando cheguei na cidade. Aconselharei ela a alugar um para seu uso.

Depois de uns dez minutos de espera, e sei que foi propositalmente, ela chega. Abro a porta e sento passando o cinto logo depois. Ouso olhar para seu rosto antes de agradecer, mas me assusto com sua expressão carregada. Precisamos conversar e começará aqui e agora.

– Lídia... Você quer falar alguma coisa? – Mantenho meu olhar no caminho. Sei que ela é tímida diante de olhares intensos.

– Sobre a cena que presenciei mais cedo? – O tom de voz que ela usa é ríspido. – Pensei que... Deixa pra lá. Não vale a pena. Você vai ser pai e justamente da mulher que ama.

– Eu pensei que tínhamos deixado claro que não nos envolveríamos, que nossa amizade é mais importante que qualquer relacionamento amoroso. – Suspiro sentindo-me constrangido por estar falando sobre isso. – Lídia, eu lembro de ter falado que não estava aberto à isso. Que amava muito minha ex-esposa e que dificilmente eu a esqueceria. Pensei, de coração, que tinha ficado nítida as minhas intenções.

– E eram nítidas, droga! – Ela bate no volante e faz uma voz chorosa. Ela está querendo chorar? – Mas a gente não manda nos sentimentos, Deon. Sua ex tinha sumido e deixado claro que não queria nada de você e nem com você. Como não ter esperanças quando nossa amizade vai ficando mais forte e eu vou conhecendo cada vez mais o cara legal que você é? Como não amar você quando estou de dentro dos seus problemas, da sua família, do seu dia a dia? Você sempre foi tão aberto comigo que eu achei impossível resistir. E estar te confessando isso em voz alta é duplamente constrangedor. Então, por favor, não me julgue sem antes se colocar no meu lugar.

Lídia sempre foi uma boa amiga. Me ouvia, aconselhava. Apesar de que em determinados momentos eu ligava para Fernando também. Existem assuntos que só falando com outro homem para sentir-se compreendido.

Eu vinha sentindo que nossa amizade havia deixado de ser sadia e sem intenções fortes por trás. Os olhares e as palavras que ela direcionava à mim estavam ficando diferentes e eu acabei procrastinando essa conversa importante. Erro meu.

Ela é uma boa amiga e eu jamais me submeteria a ter algo com ela. Não por achá-la inferior ou feia ou qualquer coisa parecida, mas por saber que no meu coração não cabe mais ninguém. Melina preencheu todos os espaços do meu coração.

– Eu sinto muito, Lídia.

– Não sinta. – Seu suspiro alto me faz virar o rosto para olhá-la. – A errada foi eu. Perdão. Espero que me perdoe, de coração. Espero também que você consiga reconquistar o amor da sua vida. Ouvi tanto sobre ela que sinto-me íntima. – Sorri. – Ela é linda e me parece um ser humano incrível. Que o bebê de vocês venha com muita saúde.

– Isso me soa uma despedida.

– E é. – Ela estaciona na frente do hotel que estamos hospedados. – Liguei para a locadora e solicitei um carro pra você. Sei que ficará mais uns dias por aqui. – Desprendo o cinto. – Preciso me reorganizar. Vou viajar um pouco.

– Mande notícias, Lídia. – Abro a porta do carro e saio. – Espero que fique tudo bem com você.

– Ficará. – Ela dá tchau com a mão. – Até breve, Deon.

Ela rapidamente vai embora deixando-me um pouco atônito pela nossa conversa que acabou se tornando uma despedida. Eu sabia que Lídia era impulsiva, mas nunca imaginei que ela iria embora por algo tão... Sei lá.

Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora