Melina Martins
Um dia achei que a sensação de estar casada fosse diferente do que estou sentindo agora. Mas não podia esperar muita coisa de um casamento falso.
A única coisa verdadeira nisso tudo foram os papéis assinados sob o juiz. Eu ainda não estava acreditando que estava casada e, pior, sem amor.
Sem amor?
Não posso ser hipócrita e dizer que não sinto nada por Deon. Eu apenas não posso denominar de amor pois não sei ao certo como é amar.
Ouvi-lo assumir que também sente algo por mim foi um baque e tanto. Mas isso não mudaria nada.
Deon continuava sendo a raiz dos meus problemas e o causador principal das minhas dores atuais. Isso não se apaga. E também sei que ele não desistiria de nada que planejou por mim. Ele estava simplesmente concretizando seu sonho louco de vingança e não pararia até alcançar.
Depois de tudo que sofri e ainda sofrerei, não há como arrumar espaço pra qualquer sentimento bom entre nós. Eu apenas quero distância.
Assim que ele me deixou na frente do hotel e foi embora, o alerta que soava em minha mente duplicou seu barulho. Desde a ligação que ele atendeu quando saíamos do cartório eu sabia que algo estava errado.
Sigo até Cristine, que me olha de forma diferente do habitual. Isso já confirmava que algo estava de fato errado.
– Vamos, você vai ficar comigo ainda. Depois Deon leva você de lá.
Deixei que ela pensasse que eu estava de boa e apenas segui sem falar nada. Assim que chegamos no quarto, tinha um papel no chão, como se estivesse sido empurrado por debaixo da porta. Abaixei e peguei o papel lendo o seu conteúdo logo após.
Querida Melina, sinto-me na obrigação de avisá-la que estou com seus pais sob a minha proteção. Alerto que, para vê-los bem outra vez, é preciso que você seja a moeda de troca. Meu interesse é todo em você. Já deves saber o porquê. Mande lembranças a Deon, ele é um amigo especial, porém muito ingrato.
Maximilian Hartmann
Minhas mãos tremiam desde que li a primeira palavra. Soltei o papel e encarei Cristine. Ela estava com um olhar interrogativo.
– Desde quando você sabia?
– O que, Melina? – Ela junta as sobrancelhas. – Tá louca?
– Ele está com meus pais. – Ando em sua direção como uma leoa pronta para dar o bote. – ME LEVA AGORA ATÉ ELE, CRISTINE!
Não sei o que deu em mim, mas eu avancei em cima de Cristine. Ela prontamente me mobilizou e foi ai que eu enlouqueci mesmo.
– EU QUERO MEUS PAIS! ELE VAI MATAR OS MEUS PAIS! ME SOLTA, CRISTINE!
Ela vacila e eu acabo me soltando. Quando chego até a porta e tento sair acabo encontrando a porta fechada. Olho para Cristine e ela balança a cabeça em negação.
Pego qualquer coisa que vejo pela frente e arremesso em direção a parede. Eu gritava, chorava e arremessava as coisas.
Iria adiantar? Não sei. Mas eu me sentia bem a cada vez que quebrava algo.
Aquele infeliz vai matar os meus pais. Ele não vai poupá-los. Qual garantia de que sairiam vivos se eu o encontrar?
Deon me paga! Aquele maldito!
– Melina, cassete! Se acalma! – Escuto os gritos de Cristine por cima dos meus altos e angustiantes pensamentos. – Deon vai resolver isso! Para!
– ELE VAI MATAR OS MEUS PAIS! TUDO POR CULPA DE DEON! – Jogo um vaso em direção ao espelho enorme do quarto. – COMO EU VOU VIVER SEM ELES?
Deixei de ouvir Cristine e continuei. Quando cansei, fui até a janela e comecei a pedir socorro. O que adianta ficar quieta se o que Deon usava para me ameaçar não está mais sob sua proteção?
Gritei, gritei, gritei...
Mas ninguém aparecia. Eu parecia que estava gritando no escuro. Cristine estava sentada, de cabeça baixa digitando algo no telefone.– Você não está entendendo? – Me ajoelho em sua frente. – São os amores da minha vida, Cristine. – Soluço. – Esse louco que matou os pais do Deon pode muito bem matar meus pais. E quem sou eu sem eles?
– Melina...
– EU NÃO SOU NADA SEM ELES! – Escondo meu rosto nas minhas mãos. – Se eles morrerem.... Meu Deus! Eu morro junto. Eu morro, Cristine. Eu vou junto com eles.
Nesse momento a porta do quarto é aberta e Deon surge. Levanto correndo e avanço em cima dele. O mesmo tenta se esquivar, mas é em vão. Eu bato nele inteiro, inclusive no seu rosto.
– Merda, Melina! Está possuída? – Grita. – Vai atrás de um calmante para ela, Cristine. Anda!
Vejo quando Cristine sai e eu aproveito para correr, mas ele me segura pela cintura. Grito tentando me soltar, mas ele é muito mais forte.
– Deon, pelo amor de Deus! – Suplico começando a ficar sem forças. – Por favor... Meus pais... Eu não vou suportar. Eu quero trocar com eles.
– NÃO! – Ele me joga na cama. – Olha pra mim, merda! Estou querendo conversar civilizadamente com você. Se acalma ou isso vai ser impossível.
Coloco meus cabelos para trás e passo as mãos enxugando as lágrimas do rosto. Olho em volta e vejo que destruí o quarto inteiro.
– Você não pode trocar com seus pais, Melina. Na verdade não haveria troca alguma. Ele mataria vocês. – Ele pega uma cadeira e senta na frente da cama. – Marquei um encontro e você vai comigo.
– Prefiro morrer com eles do que viver sem eles. – Declaro cansada. – Estou cansada dessa lama toda pra onde você me arrastou. Tem noção disso? – Encaro seus olhos. – Como você consegue dormir sabendo disso, Deon? Você está destruindo tudo que eu me importo, acabando comigo.
– Não posso parar pra sentir remorso, Melina. Eu preciso concluir isso tudo antes que... – Ele engole seco e eu sei exatamente o que ele quer dizer. – Mantenha a calma. Vamos tentar de tudo pra salvar seus pais.
– E se não conseguirmos?
– Eu só poderei lamentar, mas tenha fé que isso não vai acontecer. Eu vou me esforçar ao máximo e vamos conseguir resgatá-los. Por favor, apenas mantenha a calma.
Assinto sentindo um gosto amargo na boca. O gosto do desespero. Acabei de ouvir que se eu perder meus pais ele só poderá lamentar. Só isso. Mais nada.
Como me dar a oportunidade de viver algum sentimento bom com Deon? Ele simplesmente é o agente causador de todo terror psicológico que vivo.
Não, eu não seria idiota de fazer isso comigo. Tenho certeza que há alguém merecedor de todo amor que pode haver dentro de mim. Deon não. Ele não.
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Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)
RomansaSem luxo ou qualquer dinheiro sobrando, Melina Martins leva uma vida simples, morando no campo e cuidando dos pais. Nunca teve maldade em seu coração ou ambição em nada que não fosse seu. Contentava-se com a realidade que vivia; tirando leite da vac...