Fragmentada (DISPONÍVEL POR TEMPO LIMITADO)

Vinte e nove

Assim que abro meus olhos, vejo Melina deitada ao meu lado. Ela está em um sono profundo e aparentemente tranquilo. Sigo diretamente para o banho e após peço nosso café da manhã.

Pego o telefone e ligo para Tábata, porém ela não atende. Provavelmente deve ter bebido todas e está dormindo. Sei que quando ver essa ligação perdida irá ligar de volta no mesmo segundo.

Assim que a comida chega, Melina acorda. Parece que tem radar pra essas coisas. Ela segue para tomar um banho e eu organizo as coisas na mesa. Juntamente com a comida, recebi o jornal do dia.

A manchete é simplesmente sobre a vinda do chanceler da Áustria até nossa cidade. Uma pequena matéria fala sobre mim e minha esposa. Inclusive exaltam o vestido que ela usou.

– Bom dia. – Ela senta e já começa a se servir.

– Bom dia, Melina.

– Gosto da forma como fui de franguinha ou garota para Melina. – Dá de ombros. – Tive um sonho com meus pais. Eles me diziam que estava tudo bem com eles e que eu não me preocupasse com mais nada a não ser a minha felicidade. Acho que isso é um bom sinal né?

Eu estava com a xícara de café encostada nos lábios quando ela terminou de narrar o sonho. Acabei me queimando por pura distração. Solto um gemido de dor e deposito o objeto de qualquer jeito na mesa.

– Droga! – Coloco um pouco do suco gelado no copo de vidro e encosto nos lábios.

– Quer que eu pegue gelo? – Ela aponta para a geladeira e eu nego. – Você ficou distraído do nada. Tem algo acontecendo?

– Nada aconteceu, Melina. – Volto a comer. – Provavelmente o resultado sai hoje. A partir daí vou marcar o último encontro com Maximilian.

– Você o investigou e tem várias provas contra ele. Por que não usa isso logo?

– Eu não me planejei para destruir sua imagem antes da sua vida. Mas estou sendo levado a isso. – Mordo o croissant. –Preciso pensar. Não quero me atrapalhar. Demorei muito para chegar até o ponto que estou.

Ela assente e continua comendo. Na verdade eu já estou bem encurralado. E tenho que fazer isso com ele. Encurralá-lo também. O desespero acaba nos fazendo cometer deslizes.

Matar Maximilian seria o bolo e a cereja dele seria destruir toda sua carreira. Um homem de negócios é feito pelo legado que carrega nas costas. Só saberemos se as nossas ações serão valorizadas, se investidores surgirão ou até se conseguiremos vender nossa empresa a preço justo de acordo com a história que carregamos.

Como o tão famoso chanceler da Áustria seria visto após todos seus esqueletos no armário serem revelados?

Como ficaria seus bens, suas empresas, sua família, seu histórico, sua honra?

Quando tornei de meus pensamentos, Melina já não estava mais à mesa e o café já tinha esfriado. Coloquei tudo no carrinho e empurrei até a portinha para que algum funcionário venha recolher.

Encontro Melina na pequena varanda. Ela estava sentada e abraçada as suas pernas. Era uma imagem melancólica.

– Sua irmã me pressionou contra a parede ontem e me disse tantas coisas... – Suspira. – Estava me perguntando aqui quando esse inferno terá fim e eu finalmente irei me ver livre com meus pais.

– O que de tão grave ela te disse? – Sento ao seu lado. – Pode dizer.

– Pouco importa. – Chacoalha os ombros para cima e para baixo. – As vezes eu penso que a missão de todos vocês é me quebrar toda até não restar nem o pó de mim.