Prólogo

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No momento em que coloco Dani no carro, ele desmaia.

— Isso porque você disse que não estava cansado. — Resmungo, vendo-o se ajeitar em posição fetal, a respiração ficando cada vez mais tranquila.

Este é, definitivamente, o momento perfeito para ir embora, mas a visão de Ally chateado vem à minha cabeça. A mera ideia dele infeliz torna-se cada vez mais e mais odiosa para mim e só por hoje eu não queria entrar em uma crise mental por conta disso.

Por hoje eu gostaria de consolá-lo. Mas eu poderia ver isso outra hora, certo? Dani deveria ser minha prioridade, leva-lo para casa e consolar ele

Por outro lado... penso enquanto observo o garoto completamente apagado, o que seriam uns cinco ou quinze minutinhos?

Deixo a janela apenas um pouco aberta e ligo o ar condicionado para ficar mais fresco. Tranco o carro, de forma que se Dani acordar e sair, o alarme disparará e eu virei vê-lo num instante, então não haveria problemas.

Entro novamente na casa iluminada por leds, a visão me dando um pouco de dor de cabeça. Vasculho o local em busca de Allysson, mas não o vejo em lugar algum, felizmente ou não, minutos depois encontro sua desagradável companhia desta noite.

— Sabe onde o Allysson está, Renan? — Questiono quando me aproximo o bastante para que ele me ouça sem o som alto interferir.

Os olhos esverdeados me sondam, ele acena e os "capangas" que o rodeiam se dispersam.

— Que que tu quer com ele?

— Você sabe exatamente o que eu quero com ele.

— Mas eu quero ouvir da tua boca. — Ele ergue o queixo, desafiador.

Reviro os olhos. Jamais vou entender porque Allysson gosta dele, ou o desmiolado do meu primo.

— Apenas responda à pergunta, Renan. Sim ou não, não é muito difícil.

— E se eu não quiser? — Ele fala provocante.

É fácil controlar minhas ações, mas não meus sentimentos. A raiva que sinto por ele, que não é de hoje, faísca em meu olhar. Suficientemente ameaçadora para fazê-lo recuar, erguendo as mãos como quem se rende.

— Sim.

— Sim? E onde é, Renan.

Ele lambe os lábios, pensativo. O brilho de deboche em seu olhar me faz ranger os dentes.

Renan.

— Maksin. — Ele prolonga meu nome em seus lábios, como se disfrutasse ao dizê-lo. — Talvez, se você implorar um pouquinho, de joelhos...

A imagem de meu amigo na posição forçada é o gás que faz com que eu o jogue contra a parede.

— É melhor você parar de me provocar Renan, primeiro o Arthur depois o Dani, minha paciência está ao limite com você.

— Você sabe do Arthur? — Ele fala entrecortado, a expressão assustada.

— Sei, e você só não está pior que ele, por causa que ele me pediu, quase implorou, para eu não retribuir. — Sussurro entredentes, ainda furioso com aquele cabeça oca. — Allysson também pediu, mas é melhor você parar de fazer essas merdas. E, se não for pedir muito, responda o que te perguntei.

Ele encara meu braço com ressentimento. Há muito já percebi que essa perseguição com as pessoas que me importam é a forma dele sobressair ao fato de que tem alguém ali com mais força e habilidade do que ele.

— Não preciso da merda desses dois me defendendo. — Ele fala amargurado, mas depois de alguns segundos finalmente responde minha pergunta. — Ele está lá em cima. Ocupado.

E isso bastava, o soltei. Essa nossa rixa ficaria para próxima vez que ele encostasse em Arthur.

— Bastante ocupado. — Ele fala quando começo a subir o lance de escadas. — Extremamente ocupado, Petrov.

Apenas o ignoro e me lanço escada acima, mas ainda consigo escutar sua risadinha, ouço-o falar a um de seus amigos: "Ele não vai gostar disso."

Em primeiro momento tudo que eu pensei foi: Apesar de tudo Ally e eu vamos ficar bem, ele vai querer me ver, mesmo chateado. Mas bastou alguns poucos passos para eu entender a indireta.

Atrás da porta de um dos quartos a boca de Allysson, aquela com os lábios muito carnudos e vermelhos que assombravam meus sonhos, estava sendo devorada por um homem que não parecia querer só a boca, mas também Ally inteiro, ele mordia, chupava e o apertava contra si.

Eu não estava preparado.

Definitivamente não estava preparado para o que senti.

Meu estômago afundou, ao mesmo tempo em que bile ácida subiu por minha garganta, deixando um rastro amargo por onde passou. Senti meu coração acelerar e diminuir em questão de segundos. E então veio.

A raiva.

A falta de controle das minhas emoções.

A raiva fria. Ódio de como aquele cara tomava todos os gemidos de Ally, irritação por como suas mãos exploravam partes íntimas demais. E, o principal, fúria por eu não poder sentir tudo isso.

Porque eu não tenho o direito de me sentir assim por ele. Traído.

Não quando fui eu quem disse que não haveria compromissos.

Que não havia nada entre nós.

Afinal...

Mal, mal somos amigos, foi o que lhe disse da última vez que nos vimos, porque essa é a sincera verdade. E também há a questão de que eu tenho que priorizar Dani, além do fato de meu coração não poder ser dele.

E é o correto.

O correto.

E ainda assim cada promessa sussurrada por ele vem à tona, cada pedacinho de palavra que se tornaram juras que eu não queria ouvir emerge. Cada uma de suas frases e ações que aos poucos reivindicaram sua parte em meu coração, passam uma e outra vez por minha mente.

E...

Vendo aquele outro homem ali, e sem querer entender, pela primeira vez em anos... eu surtei.

Como Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora