Capítulo 6 _ Maksin

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— Cara tem certeza que tá bem? Cê tá meio aéreo. — Arthur questiona com cenho franzido.

— Eu já te disse mil vezes que tô bem. — Mas não é verdade, minha mente está em um turbilhão desde aquela noite.

Não consigo deixar de pensar naquela última vez com Allysson e em suas reações, a imagem gravada de seu rosto choroso, vindo uma e outra vez, e deixando aquele estranho e pesado sentimento afundar meu coração.

— An-hã, tu não engana ninguém, cê tá assim a mó tempão e só tá ficando pior. Aposto que cê nem lembra o tópico da reunião no grêmio.

— Mas é claro que lembro.

— Lembra? — fala cético. — Então diz aí.

— A organização dos próximos eventos escolares, a eleição dos representantes dos clubes estudantis e refutamos a proposta de um sem noção que sugeriu a demissão das cantineiras.

— Porque a comida tá péssima.

— Não está em nosso poder demitir funcionários, caramba! Supera isso, Arthur.

— Ainda assim cê podia tentar uma intervenção.

— Já fiz, mandei uma carta formal para o diretor e ele deixou bem claro que é preciso, no mínimo, duzentas assinaturas de estudantes insatisfeitos.

— O que é completamente injusto, as tias da cantina são mó legais, e o povo daqui vê os sentimentos e não o raciocínio lógico.

— Bom isso já é um problema seu, invista seu tempo nisso e busque assinaturas.

Ele soltou um bufar irritado, e eu dei de ombros. O gesto, apesar de parecer rude, é uma espécie de brincadeira entre nós o que arrancou uma risadinha dele.

— Vocês dois! — Alain Reginald, nosso professor de teatro, vem em nossa direção parecendo belamente furioso. — Estão aqui para treinar improvisação, não para discutir assuntos de cunho pessoal, sejam mais sérios.

Apesar de não parecer, pelas roupas com estampas de animais, as calças coloridas, os lenços extravagantes e a maquiagem excêntrica e artística, o senhor Reginald, é bastante sério em relação a suas aulas, ele gosta de equilíbrio, um toque de diversão e um bom recheio de foco.

— Muito bem, todos, todos, foco, foco, venham já aqui.

Ele agita as mãos tentando chamar a atenção de todos, embora a calça de camurça vinho, com a regata amarelo gema de ovo, os saltos de oncinha, junto as luvas brancas e o cachecol de franjinhas cor de rosa, façam um trabalho beem melhor.

— Muito bem, queridos, como eu vejo que o senhor Petrov e o senhor Azevedo não são os únicos a enrolar aqui, vamos fazer uma improvisação verdadeira. — Ele fala com seu jeito cheio de trejeitos e me encara, antes de guiar o olho para o palco. — Senhor Petrov.

Subo de imediato encarando meus colegas de clube dali de cima, alguns já entregando prévias risadas de divertimento, outros sérios concentrados na lição. Nesse exato momento faço parte do segundo grupo, o tempo de enrolar passou.

— Prestem atenção por que isso será apenas uma demonstração, eu falarei a Maksin o que ele deve interpretar e ele o fará por tempo indeterminado. — Ele fez com se olhasse um relógio imaginário. — A partir de agora! Vai, quero um cachorrinho.

O encaro por alguns segundos tentando transmitir um "Fala sério?". Ao qual ele me respondeu com um significativo olhar de "Sim, isso é um castigo, agora vai, cachorrinho."

Então eu apenas sento como se fosse um, e coloco a língua para fora, arfando.

— Um pinscher!

Começo a fingir tremedeira e lato esganiçado.

Como Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora