Arranho meus próprios braços no meio do desespero.
— Ângelo, por favor! A gente tem que descer. — Grito vendo o cabeçudo ir para cada vez mais perto da beirada.
— Não enche, Ally, isso é aventura! Que nem o Papi Higor faz. — Ele fala rindo, caminhando mais para cima.
Sigo ele, não tenho outra opção do que não seguir ele e tentar ajudar. E se ele se perder? E se eu me perder? E se a gente cair?
Olho para baixo, vendo a água azul escura e estremeço. Normalmente ela estaria seguindo o curso tranquila, mas não hoje. Tinham se passado algumas semanas de chuva e o rio estava violento, com correntezas fortes. Não algo que seria impossível de nadar, nadamos nele esses dias para trás, mas com Alê e Higor por perto.
Sempre indicando onde a gente podia ir, onde tinham pedras, esse tipo de coisa.
Se a gente cair...
Não quero pensar nisso...
Mas...
— E se a gente cair?
— Não vamos.
— Mas, e se a gente cair?
— Não vamos. — Ele fala sem nenhum tom de irritação. O que me irrita.
— A gente têm que descer, tamo indo muito no alto.
— Eu gosto de me aventurar.
— Eu não!
— Você veio porque quis.
— ¡Solo vine porque tu no podrías venir solo!
— Então aguenta. — Ele dá de ombros, um riso em sua boca, mostrando as covinhas em sua bochecha.
Ângelo tinha completado nove anos há pouco e sempre gostava de aprontar, mas eu ainda sou o mais velho.
— Eu sou o mais velho, me obedeça.
— Só por dois anos bobão. — Ele mostra a língua para mim e ri. — E eu ainda sou o mais inteligente.
As palavras me enfurecem. Garoto chato! Chato! Chato! Se quer arriscar se machucar, que arrisque, mas eu não vou!
Mais inteligente e mais estúpido também.
— Tô indo embora e vou falar com meu irmão o que cê tá fazendo, ele vai te tirar daqui rapidinho. — Ameaço, mas ele só dá de ombros.
Viro as costas, descendo com cuidado a ladeira cheia de pedrinhas e folhas molhadas, com a certeza de que se eu desse mais uns passos logo ele me seguiria e, se não, eu teria que ir correndo no meu irmão para falar para ele colocar juízo na cabeça do pestinha.
— Allysson! — O grito estrangulado dele me paralisa.
Volto correndo e escorregando pelo mesmo caminho, tentando subir rápido mesmo que não adiante porque logo um "tibum" soa. Ele caiu do penhasco.
Corro para beirada tentando ver onde meu primo está, seu vulto se debatendo era o que dava para enxergar, ele caiu próximo as pedras em uma correnteza forte. Talvez se eu corresse....
— Alejandro. — Grito a todos pulmões, já descendo pela beirada sem tirar meus olhos do meu primo. — Alejandro! Alejandro!
Escorrego nas folhas. Pedras, galhos e os troncos das árvores bato contra todos eles sentindo os arranhões na pele e as pancadas dolorosas por todo meu corpo e, de repente, um frio de doer a alma, tento lutar contra a água, mas ela me empurra cada vez mais para baixo e para frente.
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Como Odeio Amar Você
RomanceLivro para maiores de 18 anos. Tem ideia do que é odiar alguém? Desprezar tudo o que vem de alguma pessoa, sua fala, seu modo de agir, sua absoluta e completa existência. Para os fins e para os meios, Maksin Petrov odeia completamente Allysson Gonza...