Capítulo 19 _ Allysson

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Tento correr de forma silenciosa, e ágil. O que não dá muito certo já que passo boa parte do caminho trupicando e quase caindo no chão, isso quando eu não pulo o "quase" e vou literalmente ao chão. Resultado? Demoro o dobro do tempo para chegar ao alçapão.

Mas eu chego e isso é tudo o que importa.

Me ajoelho na grama ali mesmo, e procuro o cadeado com as mãos. Na hora em que vou fincar a bendita chave, sinto meus dedos suados a deixarem escorregar. Procuro com os olhos, mas graças a escuridão não consigo enxergar nada. Sinto minha garganta secar quando o desespero bate por completo.

Vocês vão ser pegos. Vocês serão pegos. Vocês serão pegos.

Como um mantra do mal, as palavras se repetem uma e outra vez na minha cabeça. Deixando minha ansiedade a mil. Segurando a vontade de me bater por minha estupidez continuo apalpando a grama tentando encontrar com os dedos a chave.

— Não, não, não... — murmuro já completamente, completamente... fodas, apenas completamente.

A mera ideia de ser atrapado nisso me dá arrepios.

— Allysson tô escutando sua voz. O que aconteceu? — Renan sussurra baixinho pela frestinha formada entre o alçapão e a grama.

— A chave caiu aqui agora a pouco, e eu não estou conseguindo ver.

— Usa a lanterna do seu telefone. — Ele fala após dar um muito longo suspiro.

Isso deu o click que minha mente precisava. Já quase surtando, eu pego o celular e ligo a lanterna. Prontamente, enxergo o pequeno pedaço de metal azulado.

Em menos de dez segundos o cadeado é destrancado.

— Finalmente. — Renan fala aliviado quando sai, mas logo sua expressão muda a uma raivosa. — Droga de Petrov, porque sempre aparece nas horas erradas?

— Que nem aquela vez do cara e da merda? — Apesar de ser uma pergunta retórica, minha grande boca resolve responder.

Infelizmente, desde que vi Maksin conversar com a professora esse "evento", tais como as lembranças que vivi por causa dele, simplesmente não saem da minha cabeça.

— Sim! — Ele fala passando a mão no rosto com tamanha fúria que o local fica avermelhado. — Eu deveria ter imaginado isso... ou não, eu não teria como saber, não convivo com ele todos os dias.

Ele lança a frase ao ar, como quem não quer nada. E apesar de eu literalmente morar com ele sei que não é uma indireta para mim. Quer dizer, NÃO pode ser uma indireta para mim, certo?

Só que, no momento em que Marcus se vira lentamente na minha direção e me encara com os olhos arregalados, percebo que sim, foi uma indireta.

— Está dizendo que eu deveria saber?

— Você é o colega de quarto dele, é só uma possibilidade.

— Ah tá! Compreendi, quer o que mais, gracinha? Quantas vezes ele vai no banheiro, quanto tempo demora para mastigar? Quanto papel ele usa depois que caga?

— Larga de ser cínico, Allysson, se vocês são tão amigos...

— Você nem sabe se somos amigos! E mesmo se fossemos isso não é a promessa para que ele me conte da vida toda dele!

— Promessa? Cê quis dizer premissa? — Marcus questiona ao lado, me irritando ainda mais.

— Você sabe que sim!

Como Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora