Capítulo 30 _ Maksin

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Alguém já se perguntou:

Qual o preço de ser salvo?

Não estou falando de filmes de super heróis, estou falando da realidade. Essa dura realidade que sempre me faz reviver as coisas desagradáveis que, por alguns instantes, eu apenas gostaria de jamais rever.

Isso faz com que aquela filosofia de yin e yang faça ainda mais sentido. Eu tenho memória eidética e isso é maravilhoso ao considerar diversos âmbitos da minha vida, quantas vezes eu já não ouvi falarem do quanto invejam essa característica minha?

Mas algumas bênçãos podem vir a ser maldições, principalmente quando são boas demais para serem verdades.

Eu não diria que gostaria de ter um cérebro de peixe, esquecido. Entretanto, por algum singelo momento, eu gostaria de fechar os olhos sem viver de novo e de novo os mais monstruosos momentos da minha vida.

Todo mundo tem um monstro e o meu é esta maldita pergunta:

Qual o preço de ser salvo?

Como num filme de terror antigo vejo o mundo em frente a mim, meio travado, embaçado, com as cores mascaradas em cinza. Essa não é a cena principal, não é o ápice, se trata do final. Caos. A palavra encaixa bem, com a confusão dos flashes das câmeras e de uma multidão mal contida pela polícia.

Ainda ao longe, assisto meu eu pequeno, coberto por um edredom grosso e pesado demais, sufocante. O garoto parecendo pequeno e frágil demais perante ao policial e a socorrista que o atende.

Sem me esforçar eu consigo lembrar a sensação... de alguma maneira, enquanto a mulher tratava dos meus machucados e com delicadeza o policial tentava conversar comigo eu me sentia em outro mundo, as palavras chegavam ao meu ouvido e eu não as processava, minha mente ainda flutuava em uma nuvem de pavor.

Eu não conseguia assimilar nada, mal, mal compreendi quando vi meu pai desesperado bradando fortemente e cruzando a barricada da polícia a força, com os olhos curiosos dos fofoqueiros e jornalistas o seguindo, tenho certeza de que vi como ele corria até a mim, mas só senti algo quando ele finalmente cruzou o espaço que nos separava e me abraçou.

Ainda que esteja assistindo, ainda que seja só o eu de agora, recordo muito bem a sensação do abraço quente que cortou o frio que o edredom não conseguiu cortar. Porque foi naquele abraço, depois das piores horas da minha vida, que eu finalmente senti que estava seguro.

E minha mente saiu do estado de choque e me mostrou a realidade novamente.

Uma triste e desesperadora.

Uma onde os monstros existem e que diferente dos contos de fadas eles não são tão óbvios. Eles só estão ali e você nunca sabe quem são eles, até que eles resolvam mostrar verdadeiramente quem e o quê são.

Esse é o mundo real.

Com meus olhos ardendo pelas lágrimas que cismavam de sair, me escondi entre os braços de meu pai, mas eu ainda precisava ver o mundo ao meu redor, não podia ficar cem por cento no escuro de novo.

Então ergui a cabeça e quando o fiz, vi Dominick ao longe, definitivamente mais machucado que eu, o sangue que escorrera da sua testa ao pescoço estava seco, mas ainda assim deixava um rastro de horror.

Por algum motivo, ele gargalhava e sua mãe gritava com ele.

Foi a primeira e única vez que tive o impulso de defender Dominik. Naquela época eu não entendia, mas hoje eu entendo o porquê, não era justo ela gritar com ele, não depois do que ele passou, mesmo que ele nunca tenha sido exatamente fácil de entender.

Como Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora