Capítulo 29 _ Allysson

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Já dizia o velho ditado:

Um animal sem chifres é um animal indefeso!

Ser corno ou não ser.

Um animal sem chifres é um animal indefeso... um animal sem chifres é um animal indefeso... um animal...

Que se dane o animal!

Ser corno ou não ser. Eis a minha indagação.

Eu não quero ser um boi.

Eu quero ser uma águia, já viu alguma águia com chifres?

Elas têm garras afiadas, bicos poderosos, uma visão maravilhosa

Também têm inteligência... Foca nisso. Inteligência. Tu não é inteligente.

Estraga prazeres!

Mas de qualquer forma isso não é desculpa para ser corno.

Mas ainda assim tu não é uma águia. Se fosse, um pardal conseguiria te predar.

Soy un hombre conformado. Escuto a voz do coração

Ok. Eu não posso ser uma águia, mas não quero ser uma vaca. Posso ser outro predador, predadores não precisam de chifre para se defender...

Caçadores, no geral, devem ser inteligentes.

Que se dane então, sou um ser humano, um ser humano burro que não vai aceitar ser chifrado! Posso até não ter um cérebro funcional, mas isso não quer dizer que eu seja um trouxa que odeia a si mesmo.

Jura?

Ok. Eu me odeio, mas não ao ponto de aceitar isso.

Que bom que temos limites então.

Temos uma ova, é "tem" somos um só.

As vezes acho que você é louco.

Somos! Sou! Merda! Que música irritante!

O meu nome é Dejair. Facinho de confundir...

— Allysson. — A voz preocupada quebra minha linha de raciocínio (ou de falta de dele). Com o baque da realidade, sem querer solto um:

— Eu não sou João do caminhão!

— O quê? — Agora confuso, Ricardo me olha. — Você está bem, Ally?

Pisco duas vezes, ainda entrando em sintonia com o mundo real e tentando de sobremaneira ignorar a irritante música que batuca na minha cabeça. Amo mamonas assassinas, mas este não era o momento mais apropriado para isso.

Não depois de ter meu coração dilacerado. O cheiro salgado de sexo ainda tá forte no ambiente, mesmo que o ato (sabe, o sexo) não esteja ocorrendo mais. Assim que me viu Ricardo saiu de cima do garoto, aí tudo meio que ficou em branco porque eu saí de órbita e só agora voltei ao momento presente.

Ele me encara parecendo preocupado. O rosto vermelho graças ao "exercício", misturado aos cabelos e as sardas ruivas, faz ele parecer um pimentão.

Com mansidão Ricardo se aproxima de mim, os ombros para trás e expressão cautelosa no rosto.

— Tá tudo bem?

Mas que cara de pau! Seu filho de uma...

— Você tá fodendo com outra pessoa. O que você acha? — Grito, esbravejando toda minha raiva. — E eu que pensava ser minha pessoa a fazer as perguntas idiotas.

Como Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora