Capítulo 12: A viagem

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Já estávamos a caminho do aeroporto, eu estava com muito sono, não sei como As conseguia ficar tão disposto àquela hora do dia.


Nosso voo sairia as quatro e quinze, mas tínhamos de estar lá antes para fazer tudo do embarque e tudo mais.

Estávamos com poucas bagagens, podia estar com sono só que a expressão da atendente foi inesquecível quando dissemos que só tínhamos bagagem de mão para doze dias.

Comecei a ficar pensativa sobre tudo o que estava acontecendo e com o que já tinha e com o que viria a acontecer.




Era tudo muito, não sei, algo... Prático demais. Como se tudo se resolvesse sem esforço, parecia que todos os desafios que a vida nós dava eram todos esquecidos na maioria das vezes. Eles eram resolvidos assim que apareciam.

As sempre sentou ao meu lado no sofá depois do trabalho e me perguntava sobre tudo o que tinha acontecido mais cedo e sempre que algo lhe incomodava ele me interrompia e questionava as coisas, sobre como aconteciam e como elas eram decididas. E também me ajudava a resolvê-las, eu estava curiosa sobre alguns fatos, mas aquela mordomia toda me fez crer que eles iriam se resolver sozinhos.


A garota Lisa, as fotografias em casa e meus problemas com meus pais... Nada me era assustador, mesmo para uma garotinha que viveu a vida toda com receio e insegurança. Não tinha mais nada para pensar. Até que cheguei a dormir, entrando em um sono profundo como se estivesse mergulhando nas mais profundas e escuras águas de uma piscina, afundando lentamente, sentindo os fios de cabelo tocar meu rosto e se soltarem. Indo e voltando até então poder abrir os olhos e enxergar nada, absolutamente nada... Era quase como um sonho real.



Me levantei daquela colina verde em um horizonte verde como a mais bela grama de jardim, onde o vendo soprava em minhas costas em uma calmaria eterna, estava mexendo meus cabelos. As então se sentou ao meu lado, mas ele estava diferente, era coberto de cicatrizes e tinha uma mancha de vinho na calça, estava sem camisa e sapatos. Ele me olhou de lado e eu sem entender apenas ri em resposta. Pude sentir um chute na barriga e acariciei a mesma.


Voltei a olhar para As, havia olhos que exaltavam ternura e felicidade e fui então cativada pelo brilho dos seus olhos verdes claros e aquele típico sorriso descontente. Lhe beijei, mas ele não correspondeu.


-O que foi As?


-Você não me disse sobre o seus pais, nada, achei que confiava em mim...


-O que? As! –Ele foi se distanciando em mim e foi levado pelo vento –As! Volta aqui!


E todo aquele lindo campo foi começando a ser tomado por uma podridão imensurável, tudo ao meu redor começou a se tornar cinza e seco, as nuvens brancas no céu azul, se tornarem imensas cortinas de poeira em um esplêndido horizonte agora já escurecido. O vento começou a mudar violentamente, me levando embora. Me deixei levar pelo desespero, pânico e calamidade.

O meu DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora