Capítulo 41:Sangue Dourado

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Ainda pouco consciente e fora de si, Lucy procurava alguma forma de encontrar sua tão desejada filha. É difícil para uma mente que instantes antes era calma, compreensiva, receptiva, bondosa; ter se tornado uma mente perturbada pelo medo, pelo desespero e por um amor tão sólido que se perpetuaria mesmo após a morte.


Um dia você está com todas suas forças, no outro você precisa de estímulos cardíacos para continuar existindo... É desesperador.


Era difícil para ela andar pelos corredores naquele estado. Principalmente para mim, que tenho de esperar ela voltar a ser o que era antes, para que ela continue a contar essa história.


~*~



Como dói, não apenas meu corpo, mas minha alma, meu espírito. Me machucaram de todas as formas possíveis.

Digam o que quiser a meu respeito, já me acostumei com o mundo de meu marido. Essas coisas hoje eu as trato com banalidade. A maior importância para mim deixou de ser eu ou o As.


Por quanto eu andei?  Por quanto eu caminhei? Por quanto eu lutei? Ah é: As lutou. Eu apenas assisti como uma criança que assiste os desenhos ou as aulas da escola.


Seria esse o termino da minha lucidez ou as minhas promessas? Deus a muito tempo esqueceu minha vida, ele fez isso me pondo naquela casa de neuróticos. Casa de inverno.


Ainda falta uma ala para eu procurar, tenho certeza que minha filha estará lá, que estará bem.


O que será que vai acontecer com ela? As está distante e talvez morto, meus pais iriam matá-la ou usa-la como moeda de troca. Patéticos. Ela iria ser adotada ou apodreceria em um canto de orfanato transtornada por um desejo de carência paterna e materna. Que sorte a dela não?


E eu morro aqui neste frio piso cinza de hospital, sem fazer nada. De novo, impotente, fadada ao desuso, ao lixo, supérflua, perdida. Frívola!


O que mais me entristece foi não ter nem ao menos ter ouvido sua voz. A voz de uma filha é algo possivelmente mágico. Capaz de quebrar barreiras.


Pelo menos chorando eu sei que ainda sinto algo além de dor. Sinto amor. As palavras de As e de todo mundo ficam percorrendo minha mente. Todos tiveram seus momentos de dor, de fraqueza. As teve de fazer coisas que não se orgulha... É, parece que no fim eu continuo a menina olhando pela janela.


Esse é o meu momento, meu... Meu renascimento. Que eu morra em meus pensamentos, mas não posso deixar as demais coisas que fizemos morrerem aqui comigo.



Me levantei e continuei caminhando. Larguei o bisturi de minhas mãos. Eu só quero encontrar minha filha. Os relâmpagos faziam um concerto de cordas graves, eram belos, eram lindos, eram confortantes. Minha doce escuridão, minha doce chuva, meu doce conjugue...


Parou, minha melodia ardorosa parou quando eu me deparei com uma sala. Eu olhei todos aqueles rostinhos e quando reconheci o nome aquela música tornou a tocar.

O meu DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora