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O dia estava aberto mas ainda sim coberto por grandes nuvens espaçadas que Sarah encarava acompanhando como andavam pouco a pouco. Deitada de barriga pra cima tirou seus fones ao sentir alguém sentada ao seu lado. Cobrindo seus olhos da claridade do sol, sorriu levemente. Poucas pessoas a faziam tirar seus fones sem murmurar, pelo menos internamente. Pocah era uma delas.

Sorriu para a menina que já se achegava imitando sua posição na grama. Não que Sarah se considerasse o tipo hippie, gratiluz mas ainda sim apreciava coisas pequenas.  Tinha aprendido há algum tempo. Como por exemplo a sombra perfeita no gramado, o sol que estava gostoso e sua musica em uma altura pouco aconselhável.

-O que está fazendo de bom? - Pocah perguntou. Em momento nenhum pensou em questionar a aleatoriedade de estar deitada. Conhecia Andrade e suas estranhezas não mais estranhas para ela.

- Achei que sua aula hoje terminasse mais cedo. - Comentou também encarando o caminho lento das nuvens. Realmente, a essa hora em outras semanas Andrade já teria metido o pé, mas ali estava ela, deitada no gramado.

-Tenho que fazer um trabalho, tô esperando a Freire. - Falou contendo um grunhido. Não gostava de esperar, mesmo que estivesse agradável ali em sua sombra, a lembrança de que estava esperando Freire para fazer um trabalho a fazia querer ir embora.

-E você? porque tá deitada aqui? - Sarah perguntou virando levemente ao notar a morena pegando um lado de seu fone. Não questionou o sorrisinho da morena depois de ouvir sua última frase.

Virando para o lado, Pocah encarou a bagunça de fios loiros do seu lado.

-Marcela, ficamos de ir até o mercado né, alguém tem que lembrar que a gente precisa comer. - Falou rindo já vendo a loira a distância entre a nova leva de alunos que deixava o portão principal. Caminhando calmamente, Marcela se agachou ao lado de Pocah, segurando a barra de seu vestido preto folgado. Sarah franziu a testa ao lembrar do mercado, ela tinha esquecido completamente. Essa era outra tarefa que dividiam em rodízios.

- Oi, meus amores - Falou se equilibrando com dificuldade. - Ah, Juliette me mandou te dar isso quando saímos da aula. -entregou um papel dobrado a Sarah.

Se levantando para ficar sentada desdobrou o papel, ignorando Pocah, agora sentada, que retirava algumas folhinhas que tinham grudado em seus fios. E sem prestar atenção na dupla que ficou de pé e engatava alguma conversa paralela, Sarah leu o recado em uma letra redonda e desenhada.

Apareceu um imprevisto, não vai dar pra fazer hoje, vamos adiar o trabalho. Juliette.

Curto e direto. Não podia ser mais seco.

Sarah bufou o que mais parecia um rosnado odiava esperar mas, ainda mais, odiava perder o tempo que não tinha. Dobrou o papel e jogou de qualquer jeito em sua mochila praticamente vazia.

-Pão, arroz...

Se pôs de pé e jogou a mochila de qualquer forma nos ombros. Tudo bem, imprevistos acontecem, pensou. E de qualquer maneira, seu tempo deitado foi até bom, uma folga na sua rotina maluca.

-Alho! pelo amor de deus, porque a Thais simplesmente esqueceu do alho! - Sarah falou dramática alcançando as meninas que estavam já a alguns metros a frente. Não aguentava mais comer comida sem alho. O que o grupo tinha pensado ao mandar para o mercado Thais e Arthur? Dois perdidos.

-Ué? - Pocah quem perguntou. Curiosa pela mudança de planos mas ainda focada na lista que anotava em seu celular, não notou o olhar focado da Sarah em um ponto distante.

Do outro lado do estacionamento, não muito longe de onde suas motos estavam estacionadas, reconheceu os cabelos compridos de Juliette. Andava calmamente pelo estacionamento sorriso aberto envolta no braço de Bil. Parecia leve e despreocupada, caminhou até ser escorada em sua moto pelo rapaz. E colocando-a sentada no banco, Bil se posicionou entre suas pernas para um beijo sem pudor. E ignorando todo o resto do colégio passeando por ali após alguns longos segundos se separou apenas para subir corretamente na moto e sumir rua abaixo com o rapaz logo atrás.

Sarah riu sem achar graça.

O imprevisto era do time de futebol.

Balançando a cabeça e inutilmente se dizendo internamente que não ia se estressar - claramente já estressada - continuou sua caminhada do lado das meninas.

-Achei que ia fazer trabalho...

-Mudança de planos, vamos comprar comida, não posso deixar crianças desacompanhadas por aí. - Falou bem humorada depois de uma longa respiração, recebendo um empurrão de Marcela que fez tombar alguns passos para o lado. Riu e caminhou de cabeça abaixada.

 Não estava estressada.






IGNITE  | sarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora