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-Senhorita Andrade! -O homem falou chamando atenção turma inteira inclusive a menina que mexia em seu celular. - Me lembrou que preciso recolher a lista de exercícios que vale um terço da nota, vamos começar pela sua.

Juliette virou para ver a menina sentada no fundo, na fileira do lado três carteiras atrás. Levantando o rosto de onde seus cabelos o escondiam ela sorriu sorrateira. O apoiando o cotovelo do braço em que antes digitava no celular na mesa após enfiar o aparelho em seu bolso.

A tinha visto pelo corredor e no refeitório vez ou outra. Na altura do campeonato era quase impossível passar um dia sem vê-la. Não porque se sobressaia com suas roupas e cabelo claro mas porque de alguma forma era impossível não reparar, nem que seja pelo canto dos olhos enquanto tentava não demonstrar que a percebia no ambiente.

E todas as vezes pode sentir os olhos verdes passando rápido, reconhecendo sua presença, talvez até caçoando de sua atenção, mas não houve mais sorrisinhos ou piscadas. Nenhum aceno ou comentário idiota. Apenas um gelo completo.

Juliette observou a cena se desdobrar. O homem estendeu a mão e a balançou no ar esperando que algum papel fosse entregue.

-Parece que é sua segunda tarefa sem entrega e vou ter que te encaminhar uma advertência -Falou rude e pareceu estar gostando da situação.

Estranhamente não viu mais a menina de atitudes como a veria normalmente. Não porque seu sorriso de lado ou sua postura debochada não estivesse lá mas podia ver um pouco mais do que só isso.

Sem pensar duas vezes no que estava fazendo se levantou bruscamente de sua cadeira. Engoliu em seco ao chamar atenção de todos pelo barulho do metal arrastando no chão. Notou Andrade franzir a testa e se recompôs da sua impulsiva ação coçando a garganta.

-Hmm, a Sarah acabou esquecendo o dela comigo quando fomos estudar ontem- mentiu entregando um punhado de papel devidamente grampeadas para o homem surpreso. Olhou de Sarah para Juliette que parecia convencido.

Andrade guardou seu sorriso, a garota era muito atriz mesmo para não rir da cara de idiota do professor, a loira pensou. Recebendo sua lista e acreditando na sua história, voltou a dar a matéria após os outros alunos passarem suas listas para frente. Criando uma confusão de papéis que Juliette aproveitou para arrancar de seu caderno as folhas onde tinha resolvido as questões. Essa era a parte boa de sempre passar as coisas a limpo, pensou. De forma desleixada juntou as folhas com um pequeno clipe e passou para a frente. Suspirando quando viu a enorme pilha de papéis na mesa do professor.

Seu coração batia rápido de nervoso. Porque tinha feito isso? Arriscado sua nota assim.

Respirou profundamente e pegou sua caneta para acompanhar a matéria, sua perna balançando inquieta. Não teve muito tempo de concentração porque foi atingida por um papel pequeno.

Franziu a testa desamassando o papel. Em uma letra corrida largada leu, "obrigada mas não precisava, uma advertência é fichinha". Riu e procurou com a cabeça a autora daquela nota encontrando a loira a olhando. Voltou a cabeça para frente e pegou a caneta.

Sarah viu a menina checando para ver se o professor estava de costas e logo o papel estava de volta. Levantou os olhos para ver a morena mas já tinha virado ao seu lugar.

"Andrade agradecendo? O mundo acaba amanhã! Tô só pagando pelo que fez na festa"

Riu olhando o papel, até por nota era marrenta.

Juliette passou a mão no cabelo ao sentir ao a tocando e após um segundo de procura achou o mesmo papel preso em seus fios soltos. Virou para trás irritada pelo papel ter ficado em seu cabelo mas só recebeu um sorriso de canto e mãos como quem diz "foi mal".

Virou para frente antes que pudesse Sarah pudesse vê-la sorrir e abriu o pedaço de papel com mais animação do que o primeiro.  Seu gelo tinha acabado pelo visto.

"Então pelo que eu entendi é você que está agradecendo? Awww de nada Freire"

Revirou os olhos e bufou. Sarah sempre seria Sarah. Querendo estar irritada, brigou para suprimir um sorriso que nasceu em seu rosto.

"Deve ser estranho para você ouvir um obrigada né que é até difícil reconhecer um" e desenhou dois olhinhos revirados. Virou e tacou o papel de uma só vez acertando a loira em cheio. Pena que a arma era apenas uma bolinha de papel.

Rindo decidiu fazer diferente. Anotou sua mensagem em outro papel e pediu para que passassem de mão em mão.

-Juliette? -virou para ver uma mão deixar um papel em seu ombro. Balançou a cabeça com um sorriso divertido. "Como você consegue ser marrenta até por cartinha? consigo ouvir seu tom julgador"

"É meu dom" e uma carinha feliz. Enviou. O papel voltou mais algumas vezes.

"Claro que é seu dom, ninguém é tão irritante assim"

"Claro, claro... mas falando sério, me desculpa por gritar no seu quarto no dia da festa, espero não ter acordado ninguém" Decidiu por agora começar pelo começo. Não tocar no jantar do outro dia.

Sarah teve que reler a própria mensagem algumas vezes antes de finalmente enviar o papel.

"Gritar no meu quarto? Podemos organizar isso" Juliette engasgou quando abriu o papel. Sentiu suas bochechas queimarem na hora. Não foi assim que tinha dito. Andrade filha da puta que não conseguia receber um pedido de desculpas que foi difícil dizer. Teve que vencer muito seu ego para conseguir.

Por um segundo sua mente traiçoeira criou o cenário da mensagem insinuadora. Se imaginou deitada no quarto da mulher, gritando de outras formas.

Droga de mente que funciona rápido demais.

Demorou a enviar a próxima mensagem para dar tempo do rubor em sua bochecha se dissipar. Virando veloz jogou o papel de volta. Não rápido o suficiente para não perceber o sorriso de lado convencido da loira. Argh.

"Você tem que estragar tudo não é mesmo, sério Andrade? Só nos seus sonhos!"

"Ficou nervosa porque? Não fui eu que escrevi que estava gritando no meu quarto... a ideia de ficar comigo é tão terrível assim?" Sarah se assustou com o barulho estridente do sinal. Sem esperar por nada jogou seu caderno na mochila e se levantou da carteira.

Se não conhecesse a garota diria que foi um flerte. Juliette notou o vulto loiro passar por ela deixando o rastro de seu perfume agora já conhecido. Inspirando profundamente ela juntou seu material e catou o bilhete.

Mas justamente por conhecê-la sabia que se estive frente a frente com ela a loira teria os braços cruzados e seu tom de deboche. Talvez até seu tão irritante sorriso de canto. Puxou o ar enchendo seu pulmão antes de levantar e sair da sala.

Antes fosse, Andrade...





A/N: tá vindo aí

IGNITE  | sarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora