IGNITE | sariette

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Domingo chegou rápido para Juliette. 

Não tinha dormido muito bem, muitos pensamentos corriam na sua cabeça e a flor na sua cabeceira a assombrava.

Suspirou voltando para a realidade. Seu grupo estava jogado na entrada do ginásio com a senhora Moraes alguns metros na frente esperando por Andrade e companhia, que obviamente estavam atrasados.

Não ligaram para a bronca sobre o horário e notou dois ou três caçoarem internamente a diretora mas não pôde virar completamente porque o motivo de sua falta de sono, alguns passos atrás, a observava fazendo seus olhos se encontrarem toda vez que olhava por cima dos ombros. Juliette tratou de virar a cabeça de imediato. Não espiou até que terminasse a explicação e pudessem começar a tarefa.

Respondeu o "oi" da garota com apenas um sorriso com medo de puxar qualquer assunto do dia anterior e ter que se explicar para seus amigos. Não que imaginava que Sarah fosse falar "chegou bem ontem?" ou "a flor que eu arranquei do mirante que você se orgulha de ser só seu e te dei de uma forma completamente fofa e surpreendente ainda está viva?" mas Juliette ainda sim apenas sorriu.

Só esqueceu de lembrar que o sorriso foi suficientemente estranho para seus amigos desatualizados. E mais ainda para Bil, que infelizmente estava junto no saco das obrigações comunitárias. Preferia mesmo, e até cogitou, fazer o trabalho por dois a encontrar com o rapaz. Não confiava no seu sangue frio para conviver sem trazer a tona a informação que descobriu e não poder confrontá-lo. Optou por ignorar sua presença momentaneamente, um problema por vez. Não ia diminuir a força tarefa e demorar mais para pintar as paredes, não era lógico.

Juliette olhou ao redor, era... diferente. Por falta de uma palavra melhor. O grupo que está sempre de jaquetas e botas estava descalço de bermudas jeans e regatas. Algumas coisas apenas Juliette podia apontar que mantiveram, como algumas das meninas que usavam a bandana na cabeça, como lenço ou amarrando o cabelo. 

Apesar de estarem dispersos na longa quadra, estavam em pares entre suas próprias gangues, com exceção de Gil e Lucas, que mais conversavam do que pintavam. Em outro canto Pocah e Marcela estavam agachadas pintando o rodapé em cima de camadas de jornais para não sujar o chão. Seus cabelos amarrados para o alto e chinelos no pé conseguiram tirar o ar intimidador da primeira vez que as viu entrando em sala. 

Ainda analisando o lugar, viu Arthur com seu boné para trás, três passos depois, Carla e Rafa, e um pouco mais longe estava Andrade, na outra extremidade da quadra e parede oposta.

A Andrade morena, Juliette pontuou internamente, tinha um chapéu preto de pano na cabeça e mesmo de longe já sabia o que o sorriso da garota significava. A cara de irritação da loira ao seu lado também dava uma dica, estava pentelhando a mais alta. 

Juliette parou seu movimento na parede e se deixou reparar na cena por captar sua curiosidade mas também pela primeira sólida oportunidade de olhar para a loira. Bianca dava risos altos fazendo-a se curvar com a mão na barriga exposta por seu cropped, ao contrário de Andrade que vestia uma regata comprida que quase cobria seu short jeans, um boné preto e uma cara de irritada. Estava despojada e sinceramente Juliette pensou que ela deveria usar o acessório de cabeça mais.

Bem, não mais tão preto já que ao se virar para Bianca Juliette pode ver a grande listra branca no objeto.

Juliette sorriu, a garota parecia leve e simples.

E saber que estava sendo alvo da palhaçada de alguém fez seu interior esquentar. Parece que a impenetrável Andrade também era caçoada por seus amigos. O restante da sua pose de bandida que ainda não tinha sido quebrado sumiu naquele mesmo instante.