COMO VIVER SEM SER CONTROLADO PELO PASSADO

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Filósofo: Em que sentido estou sendo niilista?

Jovem: Pense bem. Você está simplesmente negando a emoção humana, dizendo que as emoções nada mais são que ferramentas, simples meios para alcançar metas. Mas, se você nega a emoção, está sustentando uma visão que tenta negar nossa humanidade também. Porque nossa emoção e o fato de sermos dominados por todos os tipos de sentimentos são o que nos torna humanos. Se negamos as emoções, nos reduziremos a simples máquinas em versões inferiores. Se isso não é niilismo, o que é?

Filósofo: Eu não estou negando que a emoção exista. Todos nós temos emoções. Ninguém pode negar. Mas, se você me diz que as pessoas são incapazes de resistir ao apelo delas, eu contesto. A psicologia adleriana é uma filosofia diametralmente oposta ao niilismo. Nesse sentido, embora ela mostre que “as pessoas não são controladas pelas emoções”, também mostra que “não somos controlados pelo passado”.

Jovem: Quer dizer que as pessoas não são controladas nem pela emoção nem pelo passado?

Filósofo: Vamos inventar um personagem cujos pais se divorciaram no passado. Isso é algo tão objetivo quanto a água do poço que está sempre a 18 graus, certo? Mas esse divórcio parece frio ou quente? Ora, isso é uma questão subjetiva, do “agora”, que independe do que possa ter acontecido no passado. É o sentido atribuído ao fato que determina como será o presente de alguém.

Jovem: Então a questão não é “o que aconteceu”, mas “como foi resolvido”.

Filósofo: Exato. Não podemos retornar ao passado em uma máquina do tempo. Não podemos voltar os ponteiros do relógio. Se você se fixar na etiologia, permanecerá preso no passado e nunca conseguirá encontrar a felicidade.

Jovem: Concordo que não podemos mudar o passado, e exatamente por isso a vida é tão difícil.

Filósofo: A vida não é apenas difícil. Se o passado determinasse tudo, não seríamos capazes de dar passos significativos. Qual seria o resultado? Um tipo de niilismo e pessimismo que mata qualquer esperança no mundo e faz desistir da vida. A etiologia freudiana, tipificada pelo argumento do trauma, é uma forma diferente de determinismo e é o caminho para o niilismo. Você vai aceitar valores como esses?

Jovem: Não quero aceitar, mas o passado é tão poderoso...

Filósofo: Pense nas possibilidades. Se você supõe que as pessoas são capazes de mudar, um conjunto de valores baseados na etiologia se torna insustentável, e você é compelido a assumir a teleologia como algo normal.

Jovem: Então devemos sempre partir da premissa de que as pessoas são capazes de mudar?

Filósofo: Claro. E, por favor, entenda: é a etiologia freudiana que nega o livre-arbítrio e trata os humanos como máquinas.

O jovem parou e examinou o gabinete do filósofo. Estantes do chão ao teto cobriam as paredes e, numa mesinha de madeira, havia uma caneta-tinteiro e o que parecia ser um manuscrito ainda não finalizado. “As pessoas não são impelidas por causas do passado, mas avançam para cumprir metas que elas próprias fixam”: esta era a alegação do filósofo. A teleologia que ele defendia derrubava as bases da psicologia fundamentada na causalidade, e o jovem considerou a ideia inaceitável. Assim, a partir de qual ponto de vista deveria começar a argumentar? Ele respirou fundo.

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