▲──────◇◆◇──────▲Filósofo: Bem, vejamos essa questão de maneira mais concreta. Para que tudo fique mais claro, em vez da expressão “apego ao eu” vou usar a palavra “autocentrado”. Na sua opinião, que tipo de pessoa é um indivíduo autocentrado?
Jovem: Acho que a primeira coisa que me vem à mente é o tipo de pessoa que age como um tirano. Alguém dominador, que não está nem aí se incomoda os outros e só pensa as coisas em seu próprio proveito. Acha que o mundo gira em torno dele e se comporta como um ditador que governa com força e autoridade. É o tipo de pessoa que vive criando problemas para todos à sua volta. Alguém como o Rei Lear de Shakespeare, um típico tirano.
Filósofo: Entendo.
Jovem: Por outro lado, não seria necessariamente um tirano. O tipo de pessoa que perturba a harmonia de um grupo também pode ser considerado autocentrado. É incapaz de atuar num grupo e prefere agir sozinho. Nunca reflete sobre suas ações, mesmo quando se atrasa para um compromisso ou não cumpre suas promessas. Em suma, é um egoísta.
Filósofo: Realmente, esse é o tipo de imagem que costuma vir à mente quando pensamos numa pessoa autocentrada. Mas existe outro tipo de indivíduo a ser levado em conta. Pessoas incapazes de realizar a separação de tarefas e obcecadas com o desejo de reconhecimento também são extremamente autocentradas.
Jovem: Por quê?
Filósofo: Considere a realidade do desejo de reconhecimento. Quanta atenção os outros prestam em você? Como julgam você? Ou seja, em que medida satisfazem seu desejo? Apesar de parecer que as pessoas obcecadas com o desejo de reconhecimento estão olhando para as outras, na verdade, estão olhando para si mesmas. Elas não se preocupam com os outros, só com o “eu”. Resumindo, são autocentradas.
Jovem: Então você diria que pessoas como eu, que temem ser julgadas pelos outros, são autocentradas, mesmo que eu me esforce ao máximo para ter consideração pelos outros e para me ajustar a eles?
Filósofo: Sim, você está preocupado somente com o “eu”, por isso é autocentrado. Quer ser bem-visto pelos outros, por isso se preocupa com a forma como olham para você. Mas, na verdade, isso não é preocupação com os outros. Não passa de apego ao eu.
Jovem: Mas...
Filósofo: Eu abordei este tema da última vez. O fato de pessoas não gostarem de você prova que você está vivendo em liberdade. Você pode achar que algo nisso parece autocentrado, mas parece que entendeu uma coisa a partir da discussão de hoje: viver preocupado com a visão que os outros têm de você é um estilo de vida autocentrado, que tem como única preocupação o “eu”.
Jovem: Esta, sim, é uma afirmação surpreendente!
Filósofo: Não apenas você, mas todas as pessoas ligadas ao “eu” são autocentradas. Daí a necessidade de fazer a mudança do “apego ao eu” para a “preocupação com os outros”.
Jovem: Sim, é verdade. Estou sempre olhando só para o meu umbigo. Reconheço isso. Vivo preocupado com a forma como as outras pessoas me veem, mas não com a maneira como eu as vejo. Você diz que sou autocentrado, e não há nada que eu possa dizer para refutar isso. Mas pense da seguinte forma: se minha vida fosse um longa-metragem, o protagonista certamente seria esse “eu”, certo? Então apontar a câmera para o protagonista é algo tão repreensível assim?
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A Coragem De Não Agradar
SaggisticaIndicação De Leitura Do Min Yoongi-Suga A Coragem de Não Agradar é uma conversa entre um jovem frustrado e um filósofo inspirado nas ideias de Alfred Adler, figura que é um dos pilares da psicologia. Durante o livro, a conversação vai proporcionando...