DOIS CAMINHOS TRILHADOS PELOS QUE QUEREM SE TORNAR "SERES ESPECIAIS"

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Jovem: Você ainda não respondeu à minha pergunta. Talvez eu realmente possa aprender a gostar de mim mesmo através da contribuição para os outros. Talvez sinta que tenho valor, que não sou um ser inútil. Mas é só disso que eu preciso para ser feliz? Acho que, se eu não obtiver o tipo de realização grandiosa pelo qual serei lembrado pelas gerações futuras, se não conseguir me mostrar como um "eu que não sou ninguém mais senão eu", nunca acharei a verdadeira felicidade. Você está tentando enquadrar tudo nos relacionamentos interpessoais, mas não diz nada sobre a felicidade da autorrealização. Quer saber? Você está tentando me enrolar!

Filósofo: Não entendi exatamente o que você chama de "felicidade da autorrealização". A que se refere?

Jovem: Cada pessoa tem a sua. Existem pessoas que almejam o sucesso na sociedade e as que têm objetivos mais pessoais: um pesquisador tentando desenvolver um remédio milagroso, por exemplo, ou uma artista que busca criar um conjunto de obras gratificante.

Filósofo: E para você? O que é a felicidade da autorrealização?

Jovem: Ainda não sei o que estou buscando ou o que vou querer fazer no futuro. Mas sei que preciso fazer alguma coisa. Não existe a menor chance de eu passar o resto da vida trabalhando em uma biblioteca universitária. Quando eu achar um sonho ao qual possa dedicar a vida e alcançar a autorrealização, vou sentir a verdadeira felicidade. Meu pai vivia atolado no trabalho desde a manhã até a noite, e não faço ideia se aquilo foi felicidade para ele ou não. Aos meus olhos, pelo menos, ele sempre parecia ocupado e nunca feliz. Não é o tipo de vida que eu queira levar.

Filósofo: Certo. Se você refletir sobre este ponto usando crianças com comportamentos problemáticos como exemplo, ficará mais fácil entender.

Jovem: Comportamentos problemáticos?

Filósofo: Isso. Em primeiro lugar, nós, seres humanos, temos o desejo universal conhecido como "busca da superioridade". Você se lembra de quando conversamos sobre isso?

Jovem: Lembro. Resumindo, é um termo que indica "esperança de melhorar" e "busca de um estado ideal".

Filósofo: Existem muitas crianças que, nos estágios iniciais, tentam ser especialmente boas: obedecem aos pais, comportam-se de forma socialmente aceitável e se dedicam aos estudos e aos esportes, além de se destacarem nas atividades extracurriculares. Com isso, tentam obter o reconhecimento dos pais. Mas, quando isso não funciona – não vão bem nos estudos ou nos esportes, por exemplo –, elas mudam da água para o vinho e tentam ser especialmente más.

Jovem: Por que fazem isso?

Filósofo: Se estão tentando ser especialmente boas ou más, o objetivo é o mesmo: chamar a atenção das outras pessoas, sair da condição de alguém "normal" e se tornar um "ser especial". Esse é o único objetivo.

Jovem: Certo, continue.

Filósofo: De qualquer modo, seja nos estudos ou nos esportes, é preciso fazer um esforço constante para produzir resultados expressivos. Mas as crianças que tentam ser especialmente más – ou seja, que se envolvem em comportamentos problemáticos – estão tentando atrair a atenção das outras pessoas, por isso evitam atividades saudáveis. Na psicologia adleriana, isso é chamado de "busca da superioridade fácil". Pense, por exemplo, na criança problemática que atrapalha as aulas atirando borrachas nos outros ou falando em voz alta. Ela tem certeza de que vai ganhar a atenção dos amigos e professores. Mesmo sendo algo limitado àquele espaço, ela provavelmente conseguirá se tornar um ser especial. Mas isso é uma busca da superioridade fácil e uma atitude doentia.

Jovem: Então o jovem que comete ações delinquentes também está em busca da superioridade fácil?

Filósofo: Está. Todos os tipos de comportamentos problemáticos – como se recusar a ir à escola, cortar os pulsos, beber, fumar, etc. – são meios de buscar a superioridade fácil. E aquele seu amigo confinado, que você mencionou lá no começo, também está nessa busca. Quando um jovem apresenta comportamentos problemáticos, ele é repreendido pelos pais e por outros adultos. A questão é que, mais do que qualquer outra coisa, a repreensão pressiona o jovem. Mesmo que seja na forma da repreensão, o jovem quer a atenção dos pais, quer ser especial, e a forma da atenção não importa. Assim, em certo sentido, é natural que ele não pare de se envolver em comportamentos problemáticos, por mais dura que seja a repreensão.

Jovem: É por causa da repreensão que ele mantém o comportamento problemático?

Filósofo: Exato. Porque, ao repreender, os pais e outros adultos estão dando atenção a ele.

Jovem: Mas antes você falou que o objetivo do comportamento problemático é se vingar dos pais, certo? Existe alguma relação?

Filósofo: Sim. Não é difícil ver a conexão entre a vingança e a busca da superioridade fácil. Para tentar ser "especial", você dá trabalho a outra pessoa.

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