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Jovem: Acho que ainda não captei bem a ideia.
Filósofo: Sem problema. Pergunte o que quiser.
Jovem: Adler reconhece que a busca da superioridade – a tentativa de ser uma pessoa superior – é um desejo universal, certo? Por outro lado, faz um alerta para sentimentos excessivos de inferioridade e superioridade. Seria fácil entender se ele cortasse a parte da busca da superioridade. Minha pergunta é: afinal, o que devemos fazer?
Filósofo: Reflita sobre essa questão nos seguintes termos: quando nos referimos à busca da superioridade, costumamos pensar nela como o desejo de ser superior às outras pessoas, como o desejo de subir mais alto, mesmo que isso signifique pisar na cabeça dos outros. É como subir uma escada e ir empurrando as pessoas para fora do caminho a fim de chegar ao topo. Claro que Adler não defende esse comportamento – pelo contrário, ele diz que, no mesmo campo de jogo, algumas pessoas vão adiante e outras seguem atrás, como se aproveitassem o caminho trilhado. Guarde essa imagem na mente. Embora a distância percorrida e a velocidade de caminhada sejam diferentes, todos estão se movendo no mesmo plano. A busca da superioridade é a mentalidade de dar um passo à frente com os próprios pés, e não a mentalidade da competição que requer ser superior às outras pessoas.
Jovem: Então a vida não é uma competição?
Filósofo: Exatamente. Basta continuar avançando, sem competir com ninguém. E claro que ninguém precisa ficar se comparando aos outros.
Jovem: Não, isso é impossível. Nós sempre vamos nos comparar às outras pessoas, aconteça o que acontecer. É exatamente daí que nasce o sentimento de inferioridade, certo?
Filósofo: O sentimento de inferioridade saudável não nasce da comparação com os outros, mas com nosso próprio “eu” ideal.
Jovem: Mas...
Filósofo: Veja bem, somos todos diferentes. Sexo, idade, conhecimentos, experiência, aparência: não existem duas pessoas iguais. Devemos ver com bons olhos o fato de que os outros são diferentes de nós. E que não somos idênticos, mas somos iguais.
Jovem: Não somos idênticos, mas somos iguais?
Filósofo: Exato. Todos somos diferentes. Não confunda essa diferença com bom e ruim, superior e inferior. Quaisquer que sejam nossas diferenças, somos todos iguais.
Jovem: Nenhuma distinção de nível entre as pessoas. Em termos idealistas, pode ser, mas estamos tentando ter uma discussão honesta sobre a realidade, certo? Você realmente diria, por exemplo, que eu, um adulto e uma criança que ainda não sabe fazer conta somos iguais?
Filósofo: Em termos da quantidade de conhecimentos e experiências, e da responsabilidade que cada um pode assumir, claro que há diferenças. A criança pode não saber amarrar o sapato direito, resolver equações complicadas ou assumir as responsabilidades de um adulto quando surgem problemas, porém nada disso deve ter relação com os valores humanos. Minha resposta é a mesma. Os seres humanos são todos iguais, mas não idênticos.
Jovem: Então você está dizendo que uma criança deve ser tratada como um adulto crescido?
Filósofo: Não, em vez de tratar a criança como um adulto, ou como uma criança, devemos tratá-la como um ser humano. Você deve interagir com a criança com sinceridade, da mesma forma que trataria outro ser humano igual a você.
Jovem: Vamos mudar a pergunta. Todas as pessoas são iguais. Estão no mesmo campo de jogo nivelado. Mas existe uma disparidade, não acha? Aquelas que avançam são superiores, e aquelas que perseguem as que estão na dianteira são inferiores. Assim, no final temos o problema da distinção entre superior e inferior, certo?
Filósofo: Errado. Não importa se alguém está tentando andar na frente ou atrás dos outros. É como se todos estivéssemos nos movendo por um espaço plano sem eixo vertical. Não andamos para competir com alguém. O valor está em tentar evoluir em relação ao que somos agora.
Jovem: Você se libertou de todas as formas de competição?
Filósofo: Claro. Não penso em conquistar status ou me distinguir e vivo a vida como um filósofo forasteiro sem qualquer ligação com a competição mundana.
Jovem: Isso significa que você caiu fora da competição? Que, de algum modo, aceitou a derrota?
Filósofo: Não. Eu me retirei de lugares que estão preocupados com vitória e derrota. Quando tentamos ser nós mesmos, a competição inevitavelmente atrapalha.
Jovem: Negativo! Isso não passa de um argumento de um velho cansado. Jovens como eu precisam subir pelo próprio esforço em meio à tensão da competição. Eu só consigo me superar porque tenho um rival correndo ao meu lado. O que há de errado em pensar que existe competição nos relacionamentos interpessoais?
Filósofo: Se seu rival também fosse um companheiro, talvez a competição levasse ao autoaperfeiçoamento. Mas, em muitos casos, o competidor não será seu companheiro.
Jovem: Como assim?
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A Coragem De Não Agradar
NonfiksiIndicação De Leitura Do Min Yoongi-Suga A Coragem de Não Agradar é uma conversa entre um jovem frustrado e um filósofo inspirado nas ideias de Alfred Adler, figura que é um dos pilares da psicologia. Durante o livro, a conversação vai proporcionando...