TODOS OS PROBLEMAS TÊM BASE NOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS

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Jovem: Espere um minuto! Você quer que eu deixe essa passar? “Para se livrar dos problemas, tudo que se pode fazer é viver isolado no universo.” Como assim? Se eu vivesse sozinho, não me sentiria extremamente solitário?

Filósofo: Ah, mas estar sozinho não é o que faz você se sentir solitário. Solidão é ter outras pessoas, a sociedade e a comunidade à sua volta e, mesmo assim, se sentir excluído. Para nos sentirmos solitários, precisamos de outras pessoas. Em outras palavras, uma pessoa só se torna um indivíduo em contextos sociais.

Jovem: Se você estivesse realmente sozinho, ou seja, se apenas você habitasse o universo, não seria um indivíduo e tampouco se sentiria solitário?

Filósofo: Imagino que o próprio conceito de solidão nem sequer viria à tona. Você não precisaria da linguagem, e tampouco haveria necessidade da lógica e do senso comum. Mas isso é impossível. Mesmo que você vivesse numa ilha deserta, pensaria em alguém do outro lado do oceano. Mesmo que dormisse sozinho, você se esforçaria para ouvir o som da respiração de alguém. Enquanto houvesse alguém em algum lugar, você seria atormentado pela solidão.

Jovem: Mas desse jeito você poderia parafrasear sua ideia da seguinte forma: “Se alguém pudesse viver sozinho no universo, seus problemas acabariam.” Certo?

Filósofo: Em teoria, sim. Adler diz que “todos os problemas têm base nos relacionamentos interpessoais”.

Jovem: Pode repetir?

Filósofo: Podemos repetir quantas vezes você quiser: todos os problemas têm base nos relacionamentos interpessoais. Este é um conceito que vai à raiz da psicologia adleriana. Se todos os relacionamentos desaparecessem no mundo – ou seja, se alguém estivesse sozinho no universo e o resto da humanidade tivesse desaparecido –, todos os tipos de problemas desapareceriam.

Jovem: Mentira! Isso não passa de uma falácia acadêmica.

Filósofo: Claro que não conseguimos viver sem relacionamentos interpessoais. A existência de um ser humano, em sua essência, pressupõe a de outros seres humanos. Em princípio, viver completamente separado dos outros é impossível. Como você mesmo disse, a premissa de que alguém pode viver sozinho no universo é infundada.

Jovem: Não é disso que estou falando. É óbvio que os relacionamentos interpessoais provavelmente são um grande problema. Reconheço isso. Mas dizer que tudo se reduz a problemas de relacionamento é uma posição extremista. O que você me diz sobre o medo de ser excluído dos relacionamentos e as situações em que o indivíduo tortura a si mesmo? São problemas direcionados para si próprio. Você nega todos eles?

Filósofo: Não há preocupação completamente definida pelo indivíduo. A chamada preocupação interna não existe. Qualquer que seja a preocupação, as sombras de outras pessoas estão sempre presentes.

Jovem: Mas, mesmo assim, você é um filósofo. O ser humano tem problemas mais relevantes, maiores do que questões de relacionamentos interpessoais. O que é felicidade? O que é liberdade? Qual é o sentido da vida? Não são estes os temas que os filósofos vêm investigando desde a Grécia Antiga? E então você diz “E daí?” e “Os relacionamentos são tudo”? Isso me parece meio prosaico. Difícil acreditar que um filósofo diria essas coisas.

Filósofo: Bem, então parece que preciso explicar de uma forma mais concreta.

Jovem: Sim, por favor! Se você me diz que é filósofo, então precisa me explicar as coisas de verdade; do contrário, nada disso faz o menor sentido.

Filósofo: Você teve tanto medo dos relacionamentos interpessoais que passou a se detestar. Você começou a se odiar para evitar os relacionamentos.

Essas afirmações abalaram o jovem até a alma. As palavras tinham uma verdade inegável que parecia dilacerar seu coração. Mesmo assim, ele precisava encontrar uma refutação clara à afirmação de que todos os problemas que as pessoas vivem têm base nos relacionamentos. Adler estava banalizando os problemas. Meus problemas não são tão triviais assim!

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