O DESEJO DE RECONHECIMENTO O ESCRAVIZA

82 3 0
                                    


▲──────◇◆◇──────▲

Jovem: Estou insatisfeito há séculos. Os adultos dizem aos jovens: "Faça algo que você goste de fazer." E dizem isso com um sorriso no rosto, como se de fato entendessem as pessoas, como se estivessem do lado dos jovens. Mas é tudo da boca para fora, e eles só dizem isso porque não conhecem esses jovens de verdade, por isso estão completamente livres de qualquer responsabilidade. Aí, pais e professores nos dizem: "Entre em tal faculdade" e "Procurem uma profissão estável". Esse conselho concreto e desinteressante não é uma simples intervenção. Na verdade, eles estão tentando cumprir suas responsabilidades. Como estamos intimamente ligados a eles e eles estão preocupados com nosso futuro, não podem dizer coisas irresponsáveis como: "Faça o que lhe dê prazer." Tenho certeza de que você também adotaria essa fachada compreensiva e me diria: "Por favor, faça algo que lhe dê prazer." Mas não vou acreditar nesse conselho! É completamente irresponsável, e parece que o adulto fala como se não fosse nada de mais, como se estivesse tirando uma lagarta da sua roupa. Mas, se o mundo esmagar a lagarta, ele vai dizer "Não é minha tarefa" e se afastar como se nem fosse com ele. Bela separação de tarefas, seu monstro!

Filósofo: Nossa, você está se descontrolando. Então, em outras palavras, você está dizendo que quer que alguém intervenha até certo ponto? Que quer que outra pessoa decida seu caminho?

Jovem: É, talvez eu queira! É o seguinte: não é tão difícil julgar o que os outros esperam de você, ou que tipo de papel está sendo exigido de você. Viver como você gosta, por outro lado, é extremamente difícil. O que você deseja? O que você quer se tornar? Que tipo de vida pretende viver? Nem sempre se tem uma ideia tão concreta das coisas. Achar que todos têm sonhos e objetivos claros é um erro grave. Não sabe disso?

Filósofo: Talvez seja mais fácil viver satisfazendo as expectativas alheias, porque assim você confia a própria vida a elas. Por exemplo, imagine uma pessoa que segue o caminho traçado pelos pais. Mesmo que discorde de muitas coisas, ela não vai perder o rumo enquanto permanecer na trilha. Mas, se estiver decidindo o caminho por conta própria, é natural que se perca às vezes. A pessoa se depara com a barreira do "como se deve viver".

Jovem: Por isso estou buscando o reconhecimento dos outros. Você estava falando sobre Deus antes, e, se ainda vivêssemos na época em que as pessoas acreditavam em Deus, talvez a máxima de que "Deus está vendo" poderia servir de critério para a autodisciplina. Se Deus desse o devido reconhecimento, talvez elas nem precisassem do reconhecimento alheio. Mas essa época se encerrou faz tempo. E, neste caso, elas não têm alternativa senão se disciplinar com base no fato de que outras pessoas estão observando, aspirar ao reconhecimento dos outros e viver uma vida honesta. Os olhos das outras pessoas são meu guia.

Filósofo: Devemos escolher o reconhecimento alheio ou o caminho da liberdade sem reconhecimento? Esta é uma questão importante – vamos pensar nela juntos. Se você escolhe viver de acordo com o direcionamento dos outros, está sempre tentando avaliar os sentimentos das outras pessoas e preocupado com a visão que elas têm de você. Você vive para realizar desejos alheios. Sim, pode haver sinais guiando você pelo caminho, mas essa não é uma forma livre de viver. Por que você escolhe viver com tão pouca liberdade? Você usa o termo "desejo de reconhecimento", mas o que está realmente dizendo é que não quer ser detestado por ninguém.

Jovem: E quem quer? Não existe ninguém, em lugar algum, que chegaria ao ponto de querer ser detestado.

Filósofo: Sim. É verdade que não existe ninguém que queira ser detestado, mas reflita: o que você deve fazer para não ser detestado por ninguém? Só existe uma resposta: estar sempre avaliando os sentimentos das outras pessoas e jurando fidelidade a todas elas. Se existem 10 pessoas, você precisa jurar fidelidade às 10. Quando alguém faz isso, consegue não ser detestado por ninguém – temporariamente. Mas aí surge uma grande contradição. Você jura fidelidade às 10 pessoas porque tem o desejo sincero de agradar todas elas. É como um político populista que começou a fazer promessas impossíveis e a aceitar responsabilidades que não cabem a ele. Naturalmente, as mentiras acabam sendo reveladas em pouco tempo. Ele perde a confiança das pessoas e transforma a vida num grande sofrimento. E claro que a tensão de viver mentindo gera todo tipo de consequência. Entenda: se alguém vive para satisfazer as expectativas alheias e confia a vida aos outros, está mentindo para si e estendendo a mentira para incluir as pessoas à sua volta.

Jovem: Então você deve ser egocêntrico e viver a vida do jeito que quiser, sem se preocupar em agradar ninguém?

Filósofo: Separar as tarefas não é uma atitude egocêntrica. Por outro lado, intervir nas tarefas alheias é uma forma egocêntrica de pensar. Os pais forçam os filhos a estudar. Se metem na vida deles e dão palpite até na hora de escolherem com quem vão se casar. Isso sim é egocentrismo.

Jovem: Então o filho pode ignorar as intenções dos pais e viver como bem entende?

Filósofo: Não existe razão alguma para um indivíduo não viver a vida como gosta.

Jovem: Além de niilista, você é um anarquista e hedonista. Estou me segurando para não cair na gargalhada.

Filósofo: Um adulto que escolheu uma vida com pouca liberdade, ao ver um jovem vivendo livremente o aqui e agora, critica-o e o chama de hedonista. Claro que esta é uma mentira da vida que o adulto conta para aceitar sua vida sem liberdade. Um adulto que escolheu a verdadeira liberdade não fará esse tipo de comentário. Em vez disso, vai incentivar a vontade de ser livre.

Jovem: Tudo bem. Então o que você está sustentando é que a questão aqui é liberdade, certo? Vamos ao ponto principal. Você vem usando a palavra "liberdade" o tempo todo, mas o que liberdade significa para você?

 ▲──────◇◆◇──────▲

A Coragem De Não Agradar Onde histórias criam vida. Descubra agora