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Jovem: Concretamente falando, como devemos agir? Não se deve elogiar, não se deve repreender. Que outras opções existem?
Filósofo: Pense numa ocasião em que recebeu ajuda no trabalho – não de um filho, mas de um colega igual a você – e você provavelmente verá a resposta de cara. Quando um amigo o ajuda a limpar a casa, o que você diz?
Jovem: Digo: "Obrigado."
Filósofo: Certo. Quando diz "Obrigado" ao colega de trabalho, você transmite palavras de gratidão. Você também pode exprimir toda a sua satisfação com um "Estou contente". Ou transmitir seu agradecimento dizendo: "Você ajudou bastante." Esta é uma abordagem de encorajamento baseada em relacionamentos horizontais.
Jovem: Só isso?
Filósofo: Sim. O mais importante é não julgar outras pessoas. Julgamento é uma palavra que nasce de relacionamentos verticais. Se você desenvolve relacionamentos horizontais, surgem palavras de gratidão, respeito e alegria mais diretas.
Jovem: Seu argumento de que o julgamento é criado por relacionamentos verticais parece verdadeiro. Mas a palavra "Obrigado" é capaz mesmo de trazer de volta a coragem? Acho que, no fim das contas, eu prefiro ser elogiado, mesmo que esteja em um relacionamento vertical.
Filósofo: Ser elogiado essencialmente significa ser julgado como "bom" por outra pessoa. E nesse caso a medida do que é bom ou ruim é critério dessa pessoa. Se você está atrás de elogios, precisará se adaptar aos critérios de outra pessoa e tolher a própria liberdade. Já a palavra "Obrigado" não contém nehuma carga de julgamento. Em vez disso, é uma expressão clara de gratidão. Quando você ouve palavras de gratidão, sabe que deu uma contribuição a outra pessoa.
Jovem: Então, mesmo sendo julgado como "bom" por outra pessoa, você não sente que deu uma contribuição?
Filósofo: Exato. Este ponto também está associado à nossa discussão subsequente: na psicologia adleriana, existe uma forte ênfase na "contribuição".
Jovem: Por quê?
Filósofo: Bem, o que uma pessoa precisa fazer para ganhar coragem? Na visão de Adler, "uma pessoa só tem coragem quando é capaz de sentir que tem valor".
Jovem: Quando é capaz de sentir que tem valor?
Filósofo: Você se lembra de quando discutimos o sentimento de inferioridade? Eu falei que era uma questão de valor subjetivo. Se alguém sente que tem valor, pode se aceitar como é e ter coragem de enfrentar suas tarefas da vida. Assim, surge a questão: como alguém pode passar a sentir que tem valor?
Jovem: Sim, é exatamente isso! Preciso que você me explique isso com muita clareza.
Filósofo: É bem simples. Quando alguém é capaz de sentir que é benéfico para a comunidade, consegue ter uma sensação real de seu valor. Esta é a solução oferecida pela psicologia adleriana.
Jovem: Benéfico para a comunidade?
Filósofo: Sim, quando você consegue agir na comunidade, ou seja, sobre outras pessoas, e sentir que tem utilidade para alguém. Em vez de ser julgado por outra pessoa como "bom", você sente, através do seu ponto de vista subjetivo, que pode dar contribuições a outras pessoas. É nesse ponto que, enfim, podemos ter a sensação real do nosso valor. Tudo que temos discutido sobre sensação de comunidade e encorajamento se conecta aqui.
Jovem: Isso está ficando meio confuso.
Filósofo: Estamos chegando ao núcleo da discussão agora. Por favor, me acompanhe mais um pouco. É uma questão de ter preocupação com os outros, desenvolver relacionamentos horizontais e adotar a abordagem do encorajamento. Tudo isso está ligado à profunda consciência da vida que diz que "sou útil a alguém" e, por sua vez, à sua coragem de viver.
Jovem: Ser útil a alguém. É para isso que vale a pena viver minha vida?
Filósofo: Vamos fazer uma pequena pausa. Aceita um cafezinho?
Jovem: Sim, por favor.
A discussão sobre a sensação de comunidade tinha se tornado confusa demais. Não se deve elogiar nem repreender.
Todas as palavras usadas para julgar outras pessoas nascem de relacionamentos verticais, mas precisamos desenvolver relacionamentos horizontais. E só é possível ter uma consciência real do próprio valor quando você sente que é útil a alguém. Havia uma grande falha em algum ponto daquela lógica.
O jovem sentiu isso instintivamente. Enquanto tomava o café, ele pensou em seu avô.
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A Coragem De Não Agradar
No FicciónIndicação De Leitura Do Min Yoongi-Suga A Coragem de Não Agradar é uma conversa entre um jovem frustrado e um filósofo inspirado nas ideias de Alfred Adler, figura que é um dos pilares da psicologia. Durante o livro, a conversação vai proporcionando...