A META DOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS É A SENSAÇÃO DE COMUNIDADE

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Jovem: Muito bem, tenho uma pergunta. Por favor, dê uma resposta simples e direta. Você disse que a separação de tarefas é o ponto de partida dos relacionamentos. Qual é o objetivo deles?

Filósofo: Indo direto ao ponto, é a “sensação de comunidade”.

Jovem: Sensação de comunidade?

Filósofo: Sim. É um conceito-chave na psicologia adleriana, e os pontos de vista de sua aplicação têm sido o tema de muitos debates. Na verdade, o que Adler propôs como conceito de sensação de comunidade levou muitas pessoas a divergirem dele.

Jovem: Parece fascinante. Como é esse conceito?

Filósofo: Dois encontros atrás, acredito, abordei a questão de como uma pessoa enxerga as outras. Quer dizer, se são inimigas ou companheiras. Agora vamos aprofundar a ideia. Se as outras pessoas são nossas companheiras e vivemos cercados por elas, deveríamos ser capazes de encontrar nosso lugar de “refúgio”. A partir daí, em tese, começaríamos a ter o desejo de compartilhar com nossos companheiros – de contribuir para a comunidade. A sensação de ter os outros como companheiros, a consciência de “termos nosso refúgio”, é chamada de “sensação de comunidade”.

Jovem: Mas qual parte disso está aberta a debate? Parece um ponto quase irrefutável.

Filósofo: A questão é a comunidade. Em que ela consiste? Quando você ouve a palavra “comunidade”, quais imagens lhe vêm à mente?

Jovem: Existem referenciais como nosso lar, escola, escritório ou a sociedade local.

Filósofo: Quando Adler se refere a comunidade, vai além do lar, da escola, do ambiente de trabalho e da sociedade local. O conceito é mais abrangente, e inclui não apenas nações e toda a humanidade, mas todo o eixo do tempo, do passado ao futuro – e inclui também plantas, animais e até objetos inanimados.

Jovem: Hein?

Filósofo: Em outras palavras, ele defende que comunidade não é meramente um desses referenciais que a palavra pode trazer à mente, mas se estende a literalmente tudo: o universo inteiro, do passado ao futuro.

Jovem: Agora você me deixou confuso. O universo? Passado e futuro? De que você está falando?

Filósofo: A maioria das pessoas que ouvem o que eu acabei de dizer têm as mesmas dúvidas. Não é algo fácil de compreender. O próprio Adler reconheceu que a comunidade que estava defendendo era “um ideal inalcançável”.

Jovem: Que desconcertante, hein? Que tal inverter? Você compreende e aceita essa sensação de comunidade – ou seja lá o que isso for – que inclui o universo inteiro?

Filósofo: Eu tento. Porque acho que não dá para entender bem a psicologia adleriana sem compreender este ponto.

Jovem: Tudo bem, então!

Filósofo: Como venho dizendo o tempo todo, a psicologia adleriana sustenta que todos os problemas têm base nos relacionamentos interpessoais. Eles são a fonte da infelicidade. E podemos dizer o inverso: os relacionamentos são a fonte da felicidade.

Jovem: Nisso eu concordo.

Filósofo: Além do mais, a sensação de comunidade é o que mais importa para alcançar a felicidade nos relacionamentos interpessoais.

Jovem: Continue.

Filósofo: A sensação de comunidade também é chamada de “interesse social”, ou seja, “interesse pela sociedade”. Agora eu tenho uma pergunta: sabe qual a menor unidade da sociedade, do ponto de vista da sociologia?

Jovem: A menor unidade da sociedade? Eu diria que é a família.

Filósofo: Não, é “você e eu”. Quando duas pessoas estão juntas, a sociedade emerge na presença delas, e a comunidade emerge ali também. Para compreender a sensação de comunidade a que Adler se refere, é aconselhável usar “você e eu” como ponto de partida.

Jovem: E o que você faz tendo isso como ponto de partida?

Filósofo: Você faz a mudança do apego ao eu (autointeresse) para a preocupação com outros (interesse social).

Jovem: Apego ao eu? Preocupação com os outros? De que você está falando?

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