▲──────◇◆◇──────▲Jovem: Então como ficam as pessoas confinadas dentro de casa? Por exemplo, alguém como meu amigo. Mesmo no caso dele, você diria que é uma questão de separação de tarefas, que não tem relação com os pais, e por isso ninguém deve interferir?
Filósofo: Ele é capaz de sair do confinamento ou não? Ou melhor: de que maneira pode sair de dentro de casa? Em princípio, essa é uma tarefa que a própria pessoa deve resolver. Não cabe aos pais intervir. Mesmo assim, como não são estranhos a ele, provavelmente alguma forma de auxílio é necessária. A essa altura, o mais importante é saber se o filho é capaz de conversar francamente com os pais sobre o dilema que está vivendo e se eles têm desenvolvido uma relação de confiança forte o suficiente de forma regular.
Jovem: Então, supondo que seu filho tenha se confinado, o que você faria? Responda à pergunta não como filósofo, mas como pai.
Filósofo: Primeiro, pensaria: Esta tarefa é do meu filho. Tentaria não intervir na situação e evitar dar atenção excessiva a ela. Depois, passaria a mensagem de que estou pronto para ajudá-lo sempre que ele precisar. Desse modo, o filho sentiria uma mudança em seu pai. Com isso ele não teria alternativa senão assumir a tarefa de pensar sobre o que fazer. Provavelmente pediria ajuda em algumas coisas, mas tentaria resolver outras sozinho.
Jovem: Você agiria de maneira tão decidida se seu próprio filho se tornasse recluso?
Filósofo: Um pai sofrendo pelo relacionamento com o filho pode pensar: Meu filho é minha vida. Em outras palavras, ele está assumindo a tarefa do filho e não consegue pensar em mais nada além do filho. Quando percebe, o “eu” já desapareceu de sua vida. A questão é que, por maior que seja o peso que ele carregue por causa da tarefa do filho, o filho continua sendo um indivíduo independente. Ele não se torna o que os pais desejam que se torne. Não vai escolher a faculdade, o emprego, o cônjuge ou as ações cotidianas de acordo com o desejo dos pais. Claro que os pais vão se preocupar com ele e vez ou outra vão até querer interferir. Mas, como eu disse, as outras pessoas não vivem para satisfazer as suas expectativas. Embora o filho seja seu, ele não vai viver para satisfazer suas expectativas como pai.
Jovem: Então, mesmo na família, é preciso haver limite?
Filósofo: Na verdade, nas famílias a distância é menor, por isso é ainda mais necessário separar as tarefas com todo o cuidado.
Jovem: Isso não faz sentido. Por um lado você está falando de amor, por outro está negando. Ao impor um limite entre você e a outra pessoa, você não consegue acreditar mais em ninguém!
Filósofo: O ato de acreditar também é a separação de tarefas. Você acredita no seu parceiro: esta tarefa é sua. Mas a forma como essa pessoa age em relação às suas expectativas e à sua confiança é tarefa dela. Quando você impõe seus desejos sem impor limites, acaba se envolvendo numa intervenção invasiva. Suponha que seu parceiro não tenha agido como você desejava. Você ainda conseguiria acreditar nele? Ainda seria capaz de amá-lo? É dessas questões que trata a tarefa do amor.
Jovem: Isso é difícil! Muito difícil...
Filósofo: Claro que é. Mas pense da seguinte maneira: quando você intervém nas tarefas da outra pessoa e as assume, transforma sua vida em algo pesado e cheio de provações. Se você está vivendo uma vida de preocupações e sofrimento – que nascem dos relacionamentos interpessoais –, primeiro aprenda a se impor limites dizendo: “Daqui para a frente, esta tarefa será minha.” Depois, descarte as tarefas da outra pessoa. Esse é o primeiro passo para aliviar a carga e tornar a vida mais simples.
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A Coragem De Não Agradar
Não FicçãoIndicação De Leitura Do Min Yoongi-Suga A Coragem de Não Agradar é uma conversa entre um jovem frustrado e um filósofo inspirado nas ideias de Alfred Adler, figura que é um dos pilares da psicologia. Durante o livro, a conversação vai proporcionando...