SE EU NÃO LEMBRO...

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Nem se via a cor do dia passar, era apenas mais um dia de correria na agência. Prazos e mais prazos. Ajustes. O nome do jogo era "Ajustes". Todas as vezes que algum cliente solicitava algum ajuste o humor da equipe já mudava completamente e normalmente não era para melhor.

Carol já não aguentava mais sua cadeira, a tela do seu computador e a nuances de cores que precisava averiguar cuidadosamente, porque o cliente queria algo menos chamativo, mas que não fosse desmaiado, palavras dele. Carol por fim decidiu se levantar e tomar um café, seria um dia longo e ela sabia que não sairia tão cedo, em sua caminhada rumo à copa, esticava pescoço, braços e respirada fundo, o cansaço já dava sinais físicos.

- Então tá, Dan. A gente vai se falando sobre o convite – a voz não era nada familiar e nem com todo som de toda uma área de vendas e seus inúmeros telefonemas, como a que ficava ao lado da copa, conseguiu fazer com que ela não prestasse atenção na moça que saía sorridente da área de recepção. As roupas já entregavam que não era dali, as calças de pano largas, uma mochila colorida simples nas costas, uns papéis nas mãos, a tranquilidade da fala que mesclava com uma energia caótica, mas completamente magnética.

- Quem é essa, Daniel? – perguntou ao colega que estava voltando ao espaço de trabalho e passava pela porta da copa.

- Que? – olhou para Carol em clara confusão.

- Essa – apontou para a garota que andava de costas – quem é?

- Ah! Camila uma amiga e agora cliente... – disse como quem falava que vai chover – Por quê?

- Nada. Achei... – Carol buscava o adjetivo correto, mas não tinha nenhum, não a conhecia, não sabia o motivo de prestar tanta atenção em alguém assim.

- Diferente? – ele sorriu já sabendo que ela não se encaixava em nada ali – É das Artes – disse como quem explicava a origem – Estamos fazendo um trabalho juntos, bem bacana. Aliás... Você podia me ajudar nisso. É algo simples, eu juro – se justificava – Ela está fazendo uma exposição e precisa de uma ajuda na identidade visual.

- Poxa, Dan, eu estou atolada com um catálogo de produtos e... – Tomou ar para continuar – está impossível.

- Alexandre? – perguntou enquanto abria o armário em busca de uma caneca – Ele é chato demais – reclamou – Ano passado esse catálogo ficou comigo, você lembra? – procurava quase na ponta dos pés a caneca predileta.

- Não... Eles fazem um catálogo novo todo ano? – seu tom era um pouco de revolta e incredulidade.

- Todo santo ano – ele soltou um riso fraco – Aqui! Minha caneca sempre some – reclamou.

- Não some, você que sempre chora quando alguém usa e decidiram por colocar no fundo para que só você use.

- Primeiramente, eu não choro por isso, mas ninguém nunca lava essa porra depois – reclamava e enchia a caneca na mesma intensidade.

- Amham. Tá bom... Melhor... Amigo... do ano – leu os dizeres da caneca e riu. Segurava sua cabeça com os braços apoiados na mesa, a vontade era de sair dali e correr para casa, mas o catálogo precisava ficar pronto pela décima vez.

- Eu ganhei... É... – Daniel tentava explicar a caneca e seu apego – Ah... vocês são muito chatos – riu e sentou à mesa de frente para Carol – E a vida, além disso aqui e do catálogo, tá boa?

- Não – ela respondeu rapidamente assustando o rapaz – Mentira, tá sim. Mas agora não tá – deu de ombros como se tudo estivesse explicado naquele instante.

- Nunca mais te vi pelos happy hours, o que você anda aprontando? – tentou puxar conversa.

- Ai, Dan... Eu tô saindo com um carinha sensacional, mas é sensacional demais, sabe? – disse de modo enigmático mais uma vez e viu o silêncio do colega lhes dizer que precisava de mais que isso para que ele entendesse – Ele é ótimo, mas não me sinto...

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