Quando começou na campanha, Carol não estava muito animada, foi convencida por Liz e seus inúmeros argumentos de que participar de uma campanha seria interessante, abriria portas, entraria uma grana. Não pensou que duraria uma semana sequer na equipe, o tempo veloz e as demandas dispersas seriam sua ruína, tinha certeza disso. A faculdade nem bem tinha acabado, ela entendia muito pouco do mercado de trabalho, só alguns trabalhos que surgiram aqui e ali, e menos ainda de campanhas publicitárias voltadas para política. Não que Carol fosse uma pessoa completamente alheia à questão, mas estava longe de ser a mais atenta. Tudo que sabia, ou melhor, o pouco que sabia era por acompanhar as longas discussões entre Thiago e Liz e suas análises que surgiam em mesas de bar.
A insegurança era total, estudou por vários dias a estética voltada para os produtos visuais de uma campanha, os textos comuns e o que poderia ser interessante. Não que tivesse grande escolha sobre o que faria, mas não queria se sentir completamente deslocada ou perdida, pelo menos não gostaria que soubessem quão deslocada e perdida estava ali. Além dela, havia mais dois designers e um monte de estagiário voluntário, o que julgava enormemente, jamais se colocaria naquele trabalho voluntariamente.
O ritmo era intenso, nem sempre conseguia acompanhar as áreas diferentes da sua, o coordenador de comunicação da campanha era um tanto quanto ausente e sempre exigia coisas que não havia pedido. Tudo parecia um caos, mas ela estava levando, estava aprendendo a lidar com essas dificuldades e tentando sobreviver ao caos. O que lhe angustiava e que não se sentia pronta para lidar era com o que havia descoberto há algumas semanas. Se perguntava como isso havia acontecido, nem Liz e nem Dora comentaram coisa alguma, então podiam não saber nem sobre o pacote recebido e nem as últimas notícias.
Respirou fundo. Não gostaria de ter que contar e nem tinha o direito de esconder. Era uma situação que por si só tinha tudo para dar mais problema e drama, algo que ela não podia lidar agora. E o pior de tudo é que não tinha sequer escolha. Era uma situação daquelas que ela odiava por não ter para onde ir. Dentro das decisões possíveis, escolheu esperar acabar a campanha, faltavam apenas 10 dias e seria melhor assim.
– Ei, tudo certo aí?
Thiago perguntou vendo a garota olhar fixo para o horizonte de mesas e cadeiras, alheia aos movimentos e todas as pessoas indo e vindo.
– Carol? – tocou em seu ombro e a viu se virar assustada - Tá tudo bem?
– Ah, sim. Tá sim.
– É coisa da campanha? Alguém falou algo com você?
– Não! Não! É coisa de outra natureza mesmo, só tô perdida aqui em pensamentos. Já vou focar, não se preocupa.
Carol sabia que Thiago não estava preocupado com a dinâmica do trabalho ou entrega desse tipo, ela tinha aprendido com a convivência a entender suas preocupações no geral. Por mais que Thiago fosse amigo de Dora e Liz há alguns anos, eles não tinham uma relação próxima, não até estarem mais de 12h por dia juntos no trabalho.
– Não estou preocupado exatamente com seu foco, Carol. A sua expressão que não está tão boa.
– Ah... - seus olhos marejaram inesperadamente – vai ficar tudo bem.
– Você precisa de um tempo? Eu sei que essa campanha está bastante pesada e, sendo bem sincero, já estamos com praticamente toda a sua parte pronta, então...
– Não... obrigada. Eu realmente só estou bem perdida nos meus pensamentos.
– Ok... se precisar de alguma coisa, conta comigo – encostou no braço de Carol e curvar a boca em um sorriso simples, diria até que meio tímido, mas não quis forçar a questão.
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Caminhos Cruzados
RomanceNarrar uma história é, de certa forma, brincar com a imaginação e organizar o tempo e as palavras. Em Caminhos Cruzados, os tempos se misturam e dançam em sua própria música. Dora, Liz , Carol e Thiago dão o tom dessa jornada e descobriremos junto...