BALÃO

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As semanas se misturavam em um borrão de acontecimentos, na maior parte do tempo era seguir o ritmo e fazer o que precisava ser feito, sem pensar muito, sem sentir muito. Sobrava pouco tempo para si, para observar ao redor, mas ainda assim Liz se deu alguns minutos e contemplou a luz do Sol se esgueirando no térreo do prédio, as manchinhas do piso em evidência com a claridade, o dia sem nuvem, o calor mesmo tão cedo. Respirou fundo pensando no tanto que ainda tinha a fazer, a campanha seguia um ritmo intenso, o portal de notícias não se cansava de inovar querendo mais e mais. Se perguntava como ainda estava dando conta de tudo acontecendo ao mesmo tempo. Quando Thiago lhe chamou para ajudar na campanha já sabia o nível de exigência, mas não contava que Luiz não lhe daria licença do portal, já se sentia grata que ele aceitou que o trabalho que fizesse fosse à distância, não queria complicar as relações que estavam estranhas com o editor.

Se encostou na pilastra enquanto pensava na vida e aguardava Carol descer, não estavam exatamente atrasadas, mas se Carol não aparecesse em alguns minutos estariam. E poucas coisas lhe irritavam tanto quanto chegar atrasada, gostava de ter tempo para um café antes que o caos do trabalho lhe atingisse.

– Ei – foi puxada de seu próprio universo.

– Oi. – respondeu achando que era Carol, mas se assustou ao virar e se dar conta que era Dora – Ah...

– Bom dia – sorriu fracamente.

– Bom dia. – Liz a observou com calma, não a via há algum tempo, fitou seu rosto por um tempo, procurando sinais do que lhe era familiar e do que estava diferente.

– Liz, eu... – ela começou e vacilou ao ver as sobrancelhas franzidas de Liz a sua frente – Eu queria pedir desculpas por...

– Ter sumido? – Liz disse abrindo um sorriso irônico.

– Também. Mas por ter ido na sua casa aquele dia, eu... – respirou fundo – Eu...

– Você tava sofrendo, Dora, tá tudo bem. Por isso nem precisava pedir desculpas.

– Por ter sumido? – sorriu e colocou a cabeça de lado.

– Talvez... – disse apertando os lábios e passando a carteira de cigarro de uma mão para a outra.

– Eu fiquei com vergonha e, sei lá, eu só me isolei – Dora disse dando de ombros, sem graça.

– A gente era amiga também, sabe? – encarou Dora de modo duro.

– Era? – Dora vacilou a voz.

– É. Era. Sei lá... – Liz disse e percebeu que não havia pensado bem sobre isso.

– Olha Liz, eu sei que eu tenho sido uma estranha ultimamente...

– No mínimo estranha. – Liz completou e Dora respirou fundo.

– Sim. No mínimo estranha, mas eu não tenho interesse de deixar de ser sua amiga, eu só precisava de um tempo – disse de uma vez só.

– Eu sei, Dora. Mas eu também fiquei para trás, a Bruna me deixou, e agora você, então... – abriu os braços.

– A gente podia sair e conversar, o que você acha?

– Pode ser.

– Oi, oi, oi! Vamos, Liz? Tô atrasada já? – Carol chegou dando um beijo em Dora e depois em Liz.

– Não, ainda não – Liz riu olhando as horas no relógio.

– Ah, ufa! Já tava imaginando você reclamando daqui até lá que eu demorei demais. Tchau, Dora. Malu ainda não acordou, viu?

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