O dia amanheceu com a porta abrindo e a mãe lhe dando um beijo. O pai, encostado no portal, lhe olhava com carinho. A visão dos dois ali, animados e cheios de empolgação, afastavam qualquer humor azedo de ter sido acordada tão cedo.
- Minha filha, meus parabéns! – a mãe repetia mais uma vez.
- Tem surpresa e café da manhã – o pai completava.
- Eu sei que você ODEIA ser acordada, mas...
- Chegou um presente enorme! – o pai não conseguia se conter e quase contava a tal surpresa.
- Que? – Carol tentava acordar minimamente.
- Shiu!
Carol, com muito custo, levantou e verificou o mundo ao redor, o pai já havia saído da porta e a mãe se encaminhava para sair. Ouviu a porta da sala abrir ao longe, sabia que era Dora e Malu, o tradicional café da manhã estava completo.
Antes mesmo que pudesse colocar os pés no chão foi abraçada com intensidade por Malu, que trouxe em suas mãos um desenho, um cartão feito especialmente para a tia, e um embrulho quadrado com todo o cuidado. Ao abrir descobriu a máquina fotográfica analógica que tanto desejava. Procurou por Dora e a viu assistindo a cena.
- Obrigada! Como você descobriu que eu queria essa? – disse impressionada com a irmã.
- Desde que você tem, sei lá, 16 anos você procura esse modelo.
- Caramba! E você lembra disso desde então? Onde você achou?
- Longa história que envolve uma pessoa conhecida em Berlim e um transporte complexo e que eu achei que não chegaria a tempo.
- Obrigada... De verdade – agradeceu e se levantou para dar um abraço na irmã.
- Faz o que? Uns cinco anos que a gente não se abraça? – Dora disse se surpreendendo como fazia tempo que elas não se tinham esse tipo de afeto.
- Não. Sei lá. Talvez? Estranho, né?
- É. É bom... Ei, volta aqui – gargalhou e puxou a irmã para mais um abraço.
- Sim. É bom.
- Chegou um pacote gigantesco pra você lá fora. Vi o coitado do porteiro trazendo.
- Gente, que diabos é isso? Papai não tava se aguentando pra contar.
- Corre lá antes que ele e a Malu abram e esqueçam completamente que é um presente de aniversário e que eles não são os aniversariantes – brincou.
Carol sabia que o dia seria repleto de programas picados, café da manhã com a família, almoço com alguns amigos que não poderiam ir à noite para o bar que marcou a festa, durante a tarde tentaria organizar o que ainda faltava para a festa e a noite ficaria entregue à comemoração e ao álcool sem compromisso algum, assim esperava.
- Ei, Dora, você vai hoje? – perguntou entre um pão de queijo e o café.
- Hum... Quero ir sim, mas depende se papai e mamãe ficarão com a Malu – disse de modo evasivo.
- Você vai? Meu Deus!
- Não disse que vou, mas que quero ir.
- Mãe, você vai fazer o que hoje? – Carol perguntou aos berros.
- Eu?
- É você, mãe – Dora disse.
- Eu e seu pai vamos à feira agora e...
- Malu vai com a gente, né? – Luiz Carlos perguntou esperançoso.
- Vai? – Dora perguntou olhando para os três.
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Caminhos Cruzados
Lãng mạnNarrar uma história é, de certa forma, brincar com a imaginação e organizar o tempo e as palavras. Em Caminhos Cruzados, os tempos se misturam e dançam em sua própria música. Dora, Liz , Carol e Thiago dão o tom dessa jornada e descobriremos junto...