INTERLÚDIO

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 - Pois eu não entendo nada dessas coisas – Thiago dizia para Diogo que se maravilhava com cada obra da exposição que recém inaugurara em um centro cultural – Tá valendo pelos petiscos e os vinhos mesmo – riu.

- E pela vista, amigo – Diogo completou olhando um rapaz sentado.

- Ai, o Thiago de outros tempos – respirou fundo.

- Ia tá fazendo festa aqui. Você e essa sua radicalidade, não precisa virar celibatário, Thiago – Diogo argumentava.

- Ainda preciso descobrir o que sou, diz meu psicólogo – respondeu dando de ombros.

O vernissage ainda estava começando, mas o espaço já estava aberto e o público era diverso, ia de universitários alegres com taças de vinhos e canapés nas mãos, a acadêmicos das artes plásticas, fotógrafos famosos da cidade, se via aqui e ali idosos interessados em arte contemporânea, se demoravam um pouco mais em fotografias de corpos nus que se entrelaçavam, sem formas indefinidas.

Thiago ainda estava superando seu episódio, a tomada de consciência do vazio, ou oquinho como apelidara nos últimos dias, havia sido um passo enorme, segundo seu terapeuta, para um novo caminhar que ele nem sabia se queria dar o primeiro passo, mas aparentemente tinha que dar. Era inevitável começar um novo ciclo em sua vida, não que ficar com pessoas de modo despretensioso fosse algo a ser descartado completamente, mas estivera a tanto tempo em relacionamentos curtos ou desinteressados que não sabia como se relacionar ou quem era quando se relacionava.

O clima era festivo, afinal um coletivo artístico e todos os seus convidados comemoravam o feito de expor 48 obras em um espaço de grande visibilidade na cidade, o que gerou burburinho suficiente para entrevistas, artigos, discussões em programas de rádio e até uma participação na agenda cultural de um jornal local.

Entre os corpos transeuntes, Liz trabalhava em busca de entender melhor o evento, a proposta da exposição, os objetivos do coletivo e o que os visitantes estavam achando. Uma das coisas que adorava fazer em eventos do tipo era se sentar em um lugar vago e apenas observar a movimentação, os assuntos, a postura e análises. E assim estava quando Carol veio às pressas e sentou-se ao seu lado.

- Liz! LIZ! – a urgência quase a sacudiu do seu método.

- Que foi, garota? – disse impaciente, odiava ser interrompida no seu pequeno prazer de ouvir as conversas nos diferentes grupos.

- A Camila, a tal da garota da agência, está aqui! – disse cutucando a amiga.

- Camila que estávamos falando ontem? – Liz sorriu largamente.

- Sim! Ela mesma, você precisa ver, talvez ela seja bem seu estilinho – disse e percebeu um incomodo instantâneo.

- Meu o que? – Liz perguntou e antes que pudesse ser respondida foi interrompida.

- Quem é viva sempre aparece, né?

- Patrícia? Nossa! – Liz respondeu a moça que se aproximava – E aí? Como você tá?

- Eu estou bem e você... Faz... Sei lá...

- Três anos que você não dorme na nossa casa – disse Camila aparecendo na conversa e fazendo com que Carol ficasse estática.

- Oi Camila – Liz deu um sorriso amarelo de desgosto – Agradável como sempre – respirou fundo – Essa é a Carol, minha amiga. Pati e Camila, sua sombra.

- Até hoje vocês têm essas coisas? – Patrícia questionou.

- Ela nunca me pediu desculpas – Camila disse dando de ombros.

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