Filhos do fogo - Selene

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Faz uma hora que estou no quarto sentada na cama, tentando me acalmar. Então ouço uma batida na porta e logo depois Aelin entra.

- Não quero conversar - digo ainda nervosa.

- Mas eu sim - diz e senta ao meu lado - E quero que me escute - me encara - Certo? - reviro os olhos.

- Certo - respondo.

- Eu amo você filha - fala enfim - E quero que fique bem.

- Não, você não quer - digo nervosa - Se fosse verdade não iria permitir isso!

- É verdade - fala calmante - Quero que entenda que estou te protegendo, por que eu não fui - termina com tom triste, mas não ligo.

- Então, não quero que me proteja - e encaro minha mãe com raiva e fica pálida.

- Calma Selene - avisa - Controle!

- Está falando do que?! - digo sem entender. Então olho para o meu vestido onde estava minha mão. Queimado.

- Mãe? - chamo.

- Olha pra mim - Diz - Olha pra mim! - estão olho, seus olhos brilham com o fogo.

- Oque está acontecendo? - pergunto assustada, isso nunca aconteceu, nunca.

- Venha comigo - levanta e me puxa - Você precisa esfriar - diz me levando ao banheiro.

- Aqui - diz apontando para a uma banheira branca que já está cheia, por que uma criada a encheu para meu banho, que esfriou - Entre - ordena.

- É... - Gaguejo.

- Tire a roupa Selene e entra - ordena com a voz ríspida, porém vejo que está assustada, não por ela e sim por mim.

Começo a tirar o vestido já queimado, e então a lingerie e entro com calma na água fria. Estremeço ao toque frio e fico totalmente submersa, apenas com a cabeça fora. Consigo sentir aquela ardência esfriando aos poucos, minha mãe me olha preocupada.

- Melhor? - pergunta.

- Um pouco - respondo - Você já passou por isso, não é? - pergunto curiosa, pelo modo rápido que agiu, já teve experiência própria. Desvia o olhar, mas compreende.

- Já - se volta pra mim - E sei exatamente como está se sentindo - concluí - Em relação a tudo isso.

Fico confusa, ela nunca me contou muitas coisas sobre si. Ao ver a confusão no meu olhar acrescenta.

- Depois da morte dos seus avós, eu fugi, não só para me salvar e sim fugi de mim mesma durante muito tempo - Aelin se aproxima e se encosta na lateral da banheira - E foi seu pai que me fez encarar isso e foi horrível reviver tudo, porém necessário. Então fui aprendendo a controlar isso - diz apontando para o vestido queimado. Fogo.

- Está me dizendo que eu tenho o mesmo poder que você teve na época? - pergunto pasma.

- Sim - minha mãe sussurra - Alguns lordes desconfiam disto e querem controlar você - ela abaixa a cabeça - Como tentaram fazer comigo.

- Que vão todos queimar no inferno! - disparo e a rainha solta um grunhido em concordância - Não há nada que você possa fazer a não ser fazer oque pedem?

- Posso, mas essa alternativa não é discutível - diz.

- Por quê?

- Por que?, foi minha culpa de meus pais terem morrido! - rebate - As pessoas tinham medo de mim, do meu poder. Os lordes quiseram me submeter, não tive nenhum treinamento, assim ficava a mercê deles! De seu controle! - diz com raiva, mas não de mim, e sim do que fizeram Aelin sofrer, levo minha mão até a dela.

- Eu sinto muito, mas não aceito que eles possam nos controlar e nós fazer sofrer no processo - digo calma, e a ardência que queimava em mim, cessou.

- E não vai, dou minha vida mas você não vai, jamais - fala em tom carinhoso - Faz oque peço, se case e prometo que vai dar tudo certo, por favor - Implora e seus olhos brilham de esperança.

- Quem é? - Aelin entende minha pergunta e respira fundo.

- Lyan - diz enfim - Lyan Lorchan - não consigo acreditar, Lyan?

- Como...? - gaguejo - Ele não me disse nada, foi Lyan que me trouxe até aqui em segurança e... - encaro minha mãe e vejo o bastante para entender.

- Você - disparo - Você pediu para que me encontrasse e me levasse em segurança para Adarlan, sabia que viria até aqui, então o enviou, não foi? Meu noivo?!

- Sim - responde com o tom rouco - Disse para que protegesse você, por que você não suportava minha presença! - diz e lágrimas caem de seu rosto, mas sua expressão é fria e cansada.

- Não mesmo - e sou sincera.

Saio da banheira, pego uma toalha e vou ao closet, deixando minha mãe sozinha.
Escolho uma roupa confortável ao invés de vestido. Falta 1 hora para a festa. Vou até o quarto e vejo Aelin sentada na cama e ergue seu olhar ao me ver entrar.

- Tudo bem - fala com os olhos lacrimejando - Fassa oque quiser - seca as lágrimas e continua - Mas o casamento vai acontecer e se nunca mais quiser me ver ou me odiar - completa - É um preço que pagarei - então a rainha se levanta a vai até a porta.

- Espere - minha fala sai um pouco mais que um sussurro - Não odeio você - minha mãe se vira e solta um suspiro.

- Amo você Selene - continua - E sempre vou cuidar de você, mesmo que não seja mais criança, saiba que estarei aqui, sempre - vou até ela e a abraço, minha mãe me abraça carinhosamente e firme.

- Também amo você mãe - sussurro e a sinto estremecer um pouco.

- Fico feliz - concluí - Espero que um dia me entenda.

Aelin se afasta, se despede e vai embora, quando me dou conta também está caindo lágrimas do meu rosto. Não de tristeza, mas de alívio e felicidade, por ter uma única conversa decente em muito tempo.








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