Filhos do fogo - Selene

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A caminho do meu quarto não trocamos nenhuma palavra. Chegamos a porta e entramos, olho para minha mãe e a vejo sentando em uma poltrona.

- Pode ir se trocar - diz se virando para mim - Eu espero aqui.

Aceno em concordância e vou ao closet, a criada me ajuda a tirá-lo e me trás uma camisola de dormir, rosa claro. Alguns minutos depois vou ao quarto.

- Ainda está aqui? - pergunto.

- Sim, quero conversar - responde séria

- Tudo bem - vou até a outra poltrona a sua frente e me sento. Aelin me observa por um longo tempo.

- Você foi bem hoje, fico feliz - finalmente diz algo - Estou preocupada, algo não está certo e não sei oque é - sua expressão é séria e franzi a testa - Tem alguma coisa que quer me contar? Pode dizer - finaliza e olha pra mim. Elena.

- Na história que contou hoje - uma pausa - Quando veio para o castelo, conheceu a rainha Elena? - seu rosto fica pálido.

- Oqu... Oque sabe sobre ela? - gagueja - Selene, oque aconteceu enquanto esteve aqui? - sua voz soa muito assustada como nunca vi antes.

- Uma manhã acordei com alguém me chamando - e conto tudo a ela, e sua expressão de medo permanece.

- Isso é muito sério Selene - olha para o canto do quarto onde está a passagem - Sabe que portão ela fala? - balanço a cabeça em negatividade - É o portão de Wird, onde há passagens para ir em qualquer outro mundo existente. Inclusive os Walg, por causa deles tivemos a guerra e quase morremos tentando forjar o portão novamente - sua expressão é fria.

- Então é esse portão - sussurro - Não vou abrir ele, seja lá oque vai acontecer, não se preocupe - tento acalmar a situação.

- Se Elena veio avisar, é por que devemos nos preocupar - Aelin levanta e vai até a passagem - Espero muito que não esteja fazendo seus joguinhos - fala, mas não para mim.

- Do que está falando? - Porém não sou rápida o suficiente, Aelin já abre a passagem e desce as escadas.

- Espere! - grito, visto uma capa branca para me cobrir e tento alcança- lá - Mãe! - pelos deuses como ela é rápida.

Passo por corredores só consigo ver o caminho que Aelin faz acendendo todas as lamparinas nas paredes de pedra escura. Corro o mais rápido possível até chegar a uma porta já aberta. A porta do mausoléu do rei e da rainha antigos.  Entro e deparo com duas rainhas; minha mãe e Elena. Ambas se encarando.

- Olá Aelin - Elena diz por fim - E oi para você também Selene - a menção do meu nome fez minha mãe estremecer, porém não transparece medo algum.

- Não ouse usar minha filha, Elena - a voz de Aelin é raiva e medo - Oque está acontecendo? - pergunta.

- Sua filha no futuro não tão distante deixará o mau entrar - explica.

- Não vou fazer nada disto - retruco. Aelin a encara e se aproxima, as duas tem quase a mesma altura.

- Explique melhor - exige - Por que Selene faria isso?

- Não posso dizer mais que isso. Sabe como funciona - Aelin revira os olhos - Não sou sua inimiga Aelin, fiz oque fiz para garantir sua sobrevivência - sibila.

Aelin volta seu olhar até mim, está preocupada e muito.

- Eu sei que não - diz e se volta para Elena - Vou ficar atenta - garante.

Então a rainha antiga simplesmente desaparece, num piscar de olhos.
Na volta para meu quarto minha mãe não diz nada e sua expressão é fria e pensativa. Me sento na poltrona escorando a cabeça nas mãos. Aelin faz o mesmo e olha para o nada. Ficamos ali um bom tempo, sem trocar uma palavra até soar uma batida na porta.

- Entre - falo num tom entediado, Rowan aparece usando uma calça preta, camisa branca com uma capa verde por cima. Sua expressão é séria. Minha mãe se vira logo para ele.

- Oque houve? - pergunta.

- Encontraram um guarda morto - diz com um franzir de testa.

- Assassinaram um oficial? - pergunto com os olhos arregalados.

- Sim. Já estão investigando oque aconteceu, o encontraram num canto no corredor que dá a biblioteca real -   Aelin se levanta num estampido e saí do quarto com a porta aberta.

- Pai, oque você acha que seja? - seu olhar recai sobre mim e sua expressão está sombria.

- Não sei - nunca o vi assim - Durma um pouco Selene, a noite foi longa - diz com olhar acolhedor - Vou ver sua mãe - e saí.

Fasso oque me pede. Mas com tudo oque aconteceu, não consigo dormir, me reviro na cama noite adentro, até às pálpebras pesarem e durmo.

                                   *

O lugar é escuro e sombrio, há uma mata atrás e no centro uma ruína de pedras cinzas rachadas. Talvez um dia fosse um templo. Um lago o cerca quando me aproximo mais do templo com apenas um caminho em terra firme para atravessar. Assim que entro na ruína tochas se acendem, revelando oque um dia foi um grande salão de orações a deusa Mala, escritas e símbolos antigos estão entalhados na parede. Não entendo porquê a deusa do fogo tem um templo com água ao seu redor, não faz o menor sentido. Na sombra de uma pilastra sai alguém e se aproxima, usa um capuz preto, seu rosto fica na sombra.

- Quem é você? - pergunto, então para a uma distância de 3 metros e tira o capuz.

  É uma mulher, seu cabelo platinado desce em uma cascata quase até a cintura, os olhos azul turquezas estão sombrios, mais escuros e usa uma máscara preta que cobre sua boca. A roupa de couro preta cheia de detalhes, há facas na cintura e uma espada nas costas. Ela ergue a mão e retira a máscara. Fico imóvel. Sou eu!. Sou eu numa versão mais sombria. Então ela retira a espada das costas, está suja de sangue e pinga no chão desço o olhar e uma poça de sangue aparece, dou um salto para trás ao ver Aelin com as mãos na barriga estancando o sangue cor de rubi que transborda.

- Selen... - tenta dizer se engasgando com sangue na boca.

                               *

Acordo sobressaltada e ofegante. Um pesadelo. Foi apenas um pesadelo. Levo a mão a testa e retiro suor. Levanto e vou ao banheiro, jogo água no rosto e seco. Apoio os braços na pia e olho para o espelho na minha frente. Estou pálida. Meu estômago se revira e vomito todo o jantar. Respiro fundo, de novo e de novo.

- Foi só um pesadelo - digo a mim mesma

Lavo a boca para tirar o gosto ruim. Respiro fundo novamente. Então vou ao quarto e não durmo mais.



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