Filhos do fogo - Selene

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O sol começou a apontar no horizonte, estou indo para as passagens secretas para tentar sair pelos fundos e ninguém nos ver. Damen me disse que estaria nós estábulos, com dois cavalos Asterion para a viagem. Tive que ser muito discreta, e aparentando entediada para ninguém reparar.
Pego roupas, suprimentos, um mapa, e claro que não vou sair numa missão sem proteção, então levo um anel de esmeralda que Rowan me deu de presente. Mandou fazer num ferreiro feérico, e o encantou para proteção com meu sangue.
Após passar pelas passagens, saio em uma sala de quadros pendurados nas paredes da família Havilliard. Não há ninguém e dali vou para um corretor de pedra polida e quartzo. Viro a esquerda e depois direita, desviando de oficiais em patrulha e indo para fora do palácio. Ao virar um último corredor dou de cara com Lyan. Fico imóvel. Ele me olha da cabeça aos pés, com dúvida e surpresa em seus olhos.

- Oque está fazendo? - indaga e me encara

- Estou... -  tento pensar no que dizer até - Indo acampar - Lyan franze a testa e emendo - E você, faz oque aqui neste horário?

- Sempre treino , mas hoje não consegui dormir direito e treinei mais cedo que o habitual - explica, ele me encara novamente - Vai mesmo acampar?

- Vou, por que? - que droga, eu já deveria estar lá.

- Estranho, porquê ao que parece está carregando muitas coisas aí - diz apontando para a bolsa - Certo, devo estar te atrasando, até mais Selene.

- Até breve Lyan - digo e ele abre caminho para que eu siga em frente, que é oque fasso.

Chego aos estábulos e vejo Damen nos fundos, vestido um capuz cinza para disfarçar. Sem roupas de príncipe hoje. Também me vesti com roupas de montaria. Vou até ele.

- Está atrasada, princesa - diz sarcástico e aponta para o cavalo malhado - Vamos, suba, temos que ir agora.

- Oi para você também, príncipe - digo após subir o cavalo, Damen dá um sorriso em troca e sobe no cavalo cor de onix.

- Pelas árvores, a direita, depois seguimos pelo rio, oque acha? - pergunta. Olho para o mapa e vejo o trajeto.

- Sim, é o melhor caminho, mas depois devemos desviar as florestas perto dos Caninos Brancos - explico, Damen acena em concordância.

- De acordo então - ele me olha profundamente e sorri de canto - Morath que nos aguarde.

E então seguimos por esse caminho por alguns dias, parando apenas para comer e tomar banho no rio. Penso em Lyan, se ficou preocupado com meu sumiço. Porém pela sua expressão da nossa última conversa no corredor, ele sabia. Ou suspeitava de algo. Espero que saiba que jamais o machucaria, me importo com ele.
Depois do nosso beijo, na festa de casamento de Reaghan e Jade, senti que nossos sentimentos são mútuos. Tenho esse dever a cumprir, me casar com ele. Ainda sim, serei eu mesma, e se quiserem esconder segredos, então buscarei eu mesma. Uma coisa é certa, não serei o fantoche de nada nem ninguém. Como minha mãe me ensinou: Sou Selene Whitethorn Galathynius, e não terei medo.
 
                                 *

Avisto a Floresta Carvalhal ficando para trás e na frente as ruínas de Morath. Realmente esse lugar cheira a morte e coisas muito piores. Oque aconteceu aqui no passado, foi inegavelmente terror e muito horrores. Passamos por entulhos das pedras quebradas. Tudo fede. Tapo o nariz com o lenço no meu pescoço, vejo que Damen faz o mesmo. Oque Kaltain Rompier fez foi incrível, mas obsceno. Se sacrificou para explodir o local, e a maioria dos terrores de Erawan sendo criados.
Uma névoa cobre uma parte do lugar, onde 2 figuras escuras estão paradas. Descemos dos cavalos e o deixamos amarados ali perto. E nos voltamos para os possíveis oficiais da guarda de Adarlan. A cada passo consigo ver melhor na névoa seus rostos, seus uniformes são pretos, bem diferentes dos que vejo em Forte da Fenda. Damen segura meu braço e paramos numa distância segura deles.

- Eles são estranhos, nunca vi ninguém de uniforme preto na guarda - sussurra só para que eu possa ouvir - Que bom que trouxe uma espada a mais para você.

- Você trouxe espadas? - indago perplexa, sei que seria sábio, mas perigoso.

- Mas é claro né - diz e me entrega uma espada detalhada com signa de Terrasen e o cabo encrustada de prata e ouro, e um ferro escuro fazendo o formato, incrivelmente linda - Pare de admirar e vamos ver no que vai dar com esses oficiais - reviro os olhos para ele e vamos.

Os oficiais são estranhos mesmo, parecem pálidos apesar do calor do verão, esguios os olhos afundados como se não dormissem a muito tempo.

- Senhores - começa Damen se dirigindo aos guardas - É por aqui a passagem? - pergunta já sabendo a resposta, com certeza é ali. Eles nem se movem.

- Ninguém tem permissão de entrar - responde um apenas. Eu e o príncipe nós entre- olhamos.

- Viemos em nome do rei Dorian e rainha Aelin para entrarmos - digo tentando soar convincente - Deixe nos entrar - ordeno com uma voz mais ríspida.

- Devo avisar que é perigoso - diz o outro, ainda imóvel, então olha por cima do meu ombro - Ele também? - pergunta e me viro imediatamente e me deparo com Lyan ali. Que diabos está fazendo, quero dizer. O olho com raiva, isso fica para depois.

- Sim - responde Lyan - As ordens da rainha Aelin e rei Rowan - tenho vontade de esgana- lo por estar aqui.

- Certo, e por ali - diz o oficial sombrio abrindo caminho e apontando para frente.

Olhamos e vamos nesta direção, lado a lado, Damen a minha esquerda e Lyan a direita. Sinto a tensão vinda de todos nós, da atual situação. Mas seguimos em frente, por um caminho de terra seca desviando entulhos e pedras da fortaleza. A névoa continua no ar. Uma passagem subterrânea se estende em nossa direção com portas de ferro, abertas. Vejo ambos respirando fundo e eu também. E entramos no breu.

- Selene - diz Damen com tom de pedido. Entendo o que quer dizer e formo chamas em minha mão e atiro em algumas tochas apagadas.

- Podem me dizer que merda é essa?! - Repreende Lyan para a visão que se estende ao nosso redor.

O lugar é todo feito de uma pedra preta, mas um preto tão profundo que  absorve todo o brilho. Como se odiasse luz e o fogo. Meu fogo. Vários corpos estão espalhados, carcaça de serpentes aladas, as bruxas que engravidaram de valgs. Sinto arrepio, sei que foi aqui, algumas coisas ninguém consegue apagar, por mais que queiram.
Um caixão de ferro está ao centro, algo dentro brilha. Sigo até lá, sem me importar. O cheiro daquele lugar parece errado, muito estranho, realmente. Dentro avisto uma pequena pedra ou seria mais parecida com uma lasca de marfim e um símbolo desenhado. Os machos vão até mim e também olham para o objeto.

- Oque será que é isto? - pergunta Damen ao meu lado.

Toco o metal frio e um arrepio se estende novamente. O pego e me afasto. Tento analisar melhor.

- Não sei, parece só uma pedra com um símbolo - respondo e então ergo o olhar para eles - Isso é uma chave - sussurro, claro que é, ouvi sobre as lascas do portão de Wird. Só não sei como existe isso aqui se o portão está completo... E selado.

- Mas que merda! - xinga Damen - O portão não está completo, ele foi corrompido.

- Impossível - dispara Lyan - Aelin e os outros o repararam - olho para ambos tentando entender oque está havendo.

- Sim, concertou, mas e se alguém o abriu novamente, deixando isso aqui - aponto para a pedra de marfim - Alguém abriu uma fenda para outros mundos, agora qualquer um pode ter acesso.

Todos xingamos ao saber oque pode acontecer. Em breve.







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