Filhos do fogo - Selene

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Entro na banheira com cuidado, com ajuda da criada, me sento. A água está morna, com temperatura perfeita para o clima. Aelin entra logo em seguida com uma esponja macia e sabonete de lavanda. Seu longo cabelo loiro está preso num coque. Ela dispensa a criada e se aproxima de mim.

- Posso? - pergunta indicando o sabonete a esponja.

- Claro - me viro de costas para ela, afasto o cabelo pra frente.

- Minha maior vontade agora é ir lá e torturar ele até implorar pela morte - diz com a voz carregada de raiva, quando vou argumentar, ela completa - Mas sei que se eu ferir ele, também vou ferir o Lyan.

- Ele tinha muita força e de alguma forma drenou meu poder, como? - pergunto.

- Eles têm as pedras de obsidiana - responde - Aquelas pedras sugam seu poder e também podem te controlar, como fizeram com o Lyan.

- Precisamos salvar ele - digo preocupada.

- Uma coisa de cada vez, primeiro você precisa ficar bem, para depois poder ajudá-lo - diz carinhosamente.

  Começa a esfregar minhas costas com ternura e delicadeza. Em movimentos de vai e vem e o cheiro de lavanda preenche o ar. Das costas passa para os ombros e braços e quando acaba pede para me virar. Me viro, mas não consigo deixar ela tocar.

- Não, por fav... - começo a falar de cabeça baixa.

- Não - Aelin levanta meu queixo com a mão - Olhe para mim - olho - Não precisa se explicar nem pedir "por favor" - assinto - Agora me diz onde dói?

- Entre... minhas pernas - digo trêmula, minha mãe fecha os olhos por um momento e respira fundo.

- Um curandeiro vai precisar examinar - diz, olho para ela horrorizada - É necessário, não sabemos se... não sabemos o quanto pode ter te machucado.

- Não - me sinto tremer, minha mãe toca meu braço de leve - Ninguém vai encostar em mim - aviso

- Calma, tudo bem - consola - Não fique assim, ao menos, então me deixe ver se é grave? - aceno em concordância.

- Mas não me toque.

- Não vou, prometo.

Levanto da banheira e Aelin me cobre com uma toalha. Vou à beirada da banheira e me sento na madeira fria. Minha mãe veste um roupão branco e vem até mim e a deixo ver. Ela tenta não tocar, mas percebo que se estremece ao ver.

- Não tem nada grave - diz erguendo seu olhar a mim - Mas vai levar no mínimo uma semana para sumir esses roxos.

Assinto, e levanto. Aelin me dirige ao closet. Escolho um conjunto confortável, camisa branca e calça azul. Já minha mãe veste uma camisola azul, que vai até o meio da coxa.
Saímos do closet até o quarto, Rowan ainda espera no sofá. Olha para sua esposa e para mim.

- Dorme juntas hoje, vou dormir em outro quarto para te deixar à vontade - diz se referindo a mim.

- Não quero incomodar - replicou

- Não está incomodando de forma alguma, Selene - em seus olhos vejo tristeza e amor - Fique, sei que sua mãe quer cuidar de você. E eu não devo estar incluso - a voz soa triste.

- Não é pessoal pai - digo rapidamente - Vou voltar a te abraçar, mas não por hora - tento consolar.

- Era eu que devia te consolar - diz complacente - Vou ficar bem - afirma.

Rowan se despede de Aelin e sai do quarto. Me viro para vê- la, que sorri carinhosa para mim e me guia para a cama. Apaga as lamparinas, deixando apenas a lareira. Vou até o meio da cama e minha mãe ao me lado. Puxa o cebertor e passa seus braços ao meu redor, me aninhando, e beija minha testa.

- Não vou me despedaçar mãe - digo me referindo ao zelo excessivo.

- Acho que preciso mais de você do que você de mim no momento - sussurra - Vou sugar toda sua dor até que não sobre nenhuma - diz com a voz embarganhada.

Lágrimas escorrem de meu rosto, junto de Aelin. Ela se culpa, mesmo não sendo sua culpa. Ele tinha razão, me machucando, também machucaria ainda mais minha mãe. Nada é mais importante para ela do que as pessoas que ama, principalmente a família.
Adormeço em seus braços em um sono profundo e sonho com o mesmo homem alado de olhos azuis claros. Mas desta vez algo muda:

Estamos num campo, é de noite e o homem com asas de morcego se aproxima e raiva transparece de seus olhos.

- Quem a machucou? - fala com uma voz profunda de completa escuridão - Vou te achar - completa - Parceira.

Fico paralisada. Parceira? Mas isso é possível? É só um sonho?

- Não - responde a minha última pergunta, ele se aproxima e ergue sua mão para tocar as mechas prateadas do meu cabelo - Você é linda, a mais bela entre todas - sua voz soa sincera - Vou te achar - promete - E quem tocar em você novamente vai desejar nunca ter nascido.

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