III

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                        Point Of View Sheilla

Não sei quanto tempo levei parada ao lado da garota, mas tenho certeza que para ela durou ainda mais, já que estava estática na chuva que encharcava toda a sua roupa. Independentemente dela não ser uma boa profissional, dela servir café salgado e uma torta que descobri posteriormente que estava queimada, eu nunca iria conseguir deixá-la aqui sozinha na chuva, ainda mais em um manhã deserta como essa. Fitei seus olhos enquanto aguardava que ela entrasse no carro, abri a porta do carona tentando pressionar sua decisão. Era impossível de identificar o que ela estava pensando, já que seguia com a máscara cobrindo parcialmente seu rosto, o que eu me incomodei por querer, por algum motivo, enxergar ela por completo.

  - Obrigada! - Falou depois de longos segundos em silêncio e olhei-a confusa, realmente sem entender o motivo.

  - Você pode agradecer depois que entrar no carro. - Empurrei mais a porta do carona e olhei para o banco, indicando que ela deveria entrar antes que a chuva piorasse.

  - Não vou entrar no seu carro, estou agradecendo por ter causado minha demissão. - A garota de cabelo preto disse entredentes, agora mesmo com a máscara foi nítida sua irritação, ignorando meu chamado e voltando a andar.

  - Garota, não seja tola, está chovendo e vai piorar ainda mais. Entre no carro. - Praticamente ordenei enquanto acompanhava seus passos com o carro, hora ou outra olhando para trás para enxergar se algum outro se aproximava.

  - Vai à merda. - Praguejou batendo a porta do carro e voltando a andar, agora em passos ainda mais rápidos, parando apenas para dar sinal ao primeiro ônibus que passou, que ela nem mesmo leu o destino.

E assim ela subiu, sem olhar para trás e ignorando meus chamados para o carro. Eu não sei o porquê estou fazendo tanto esforço para ajudá-la, ou porquê estou me sentindo tão preocupada em ver ela na chuva se nem mesmo a conheço, mas algo nos seus olhos prendeu minha atenção e me sinto quase como tentada a ver ela mais uma vez. Talvez seja culpa por ter feito-a perder o emprego, não sei o quanto ela precisava dele, provável que o salário a fosse útil. Nossa! Me sinto culpada por ter a ferrado, intrigada com o seu olhar e irritada por ser tão teimosa, mesmo nem a conhecendo. Eu gostaria de conhecer. Passei alguns segundos parada olhando para o nada enquanto tentava entender o que acabara de acontecer, até perceber a garota descendo do ônibus novamente. Ahá! Com certeza deve ter percebido que estava sendo teimosa desnecessariamente.

  - Se arrependeu de negar minha carona? - Sorri satisfeita ao parar novamente o carro ao seu lado, abrindo pela terceira vez a porta para mesma, que apenas suspirou exausta e adentrou o carro.

  - Ônibus não aceita cheque. - Disse após sentar no banco do carona, estava completamente molhada e se sacudindo um pouco como se tentasse aliviar o frio.

- E isso não é óbvio? - Pelo canto do olho a vi revirando os olhos, fechei os vidros para ligar o aquecedor no intuito de aliviar o seu frio e quis rir com sua expressão assustada. - Relaxa! É só para te manter aquecida. Onde você mora?

- Por que eu te diria onde eu moro? - Arqueou a sobrancelha confusa e não pude segurar o riso. - Do que está rindo?

- Como posso te deixar em casa se não me disser onde mora? - Finalmente dei partida com o carro, ainda sem saber aonde devia ir.

- Você faz isso todos os dias? É estúpida com atendentes, faz com que sejam demitidas e depois oferece carona com esse jeito intimidador?

- Você me acha intimidadora? - Perguntei tentando segurar o riso e mesmo que com o rosto relativamente coberto, tenho certeza que ela está corada. Seria muito estranho se eu pedisse para que ela tirasse a máscara? - Sim, faço todos os dias, mas só com garotas bonitas que salgam o meu café. Vai me dizer onde mora ou prefere que eu rode por toda a cidade até adivinhar qual a sua casa?

Coffee Break | SHEIBI Onde histórias criam vida. Descubra agora