XXVIII

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algum tempo atrás.

             Point Of View Gabriela

  O peso sobre meu colo é familiar e, ainda que não consiga distinguir quem é a responsável com os olhos fechados, deixo que os cabelos cheirosos inebriem meus sonhos acordados.

Permito-me suspirar uma. duas. três vezes.
Agora, mais desperta, o cheiro de amora é inconfundível.

- Está acordada.

Sua voz rouca se pronuncia antes que eu faça qualquer ação, sei que está sorrindo e sorrio de volta sem abrir os olhos. Não sei quem toma mais cuidado para apertar o abraço, provável que seja ela.

- Como sabe? - Perguntei. Eu já sei qual será sua resposta e adoro ouvir. Todos os dias, há oito meses e vinte seis dias, sei o que dirá. Afago os cabelos da sua nuca e sei que acordei tarde demais, estão úmidos e ela já deve ter adiantado muita coisa.

- O bebê me avisou. - Com a ponta do dedo indicador, desenhou um vai-vem em minha barriga.

  Não consigo controlar o riso, gosto como sua voz soa.

- Ele é um fofoqueiro, então. - E ela riu de volta, sendo pega de surpresa pela resposta. - Dormi muito?

- Hmm. - Finalmente levantou a cabeça para me olhar, os olhos bonitos falam antes de sua voz.

Quarto suspiro e ainda nem levantei da cama.

- Um pouco, sim. - Respondeu, por fim. - Precisei deixar as meninas comerem doces de manhã para desistirem da ideia de te acordar.

- Devia ter deixado.

- Não, claro que não. - Selou os lábios no canto da minha boca e em seguida, na minha barriga. Ergueu o tronco e com seu olhar exigente, me fez sentar na cama também. - Você estava cansada, né? E além do mais, vocês já vão passar o dia inteiro juntas.

- Não é como se isso fosse diferente dos outros dias. E em todos os outros dias elas me acordam. - Conclui satisfeita e Sheilla assentiu. Não delonguei em ir para o banheiro, sinto uma saudade apertar quase que física para ver as meninas.

  Dormi às 21:40 e o relógio, agora pela manhã, marca 11:32. São quatorze horas sem ver as pequenas e isso não é pouco para uma alma apaixonada e, acima de tudo, à flor da pele de hormônios agora. E hoje é quarta.

Flor da pele.

Quase cômico pensar que em uma noite de bebedeira em Amsterdam, às 4 e alguma coisa da manhã, eu e Sheilla tatuamos uma flor na pele. Permanentemente. Agora está meio espaçada pelo bebê e a tulipa está mais para um girassol.

  Depois de nove doses de whisky sou incapaz de discernir o que é boa e má ideia, mais ainda de lembrar-me com clareza o que aconteceu. Acredito, então, nas palavras da minha mulher e ela disse: Você assistiu Gabriela? Ela tinha uma flor no cabelo, quero uma flor na pele da minha Gabriela que é quem deixa-me a flor da pele.

É claro que com outras palavras. Algumas palavras inventadas, outras emboladas. Em algumas falou de trás para frente. Na verdade, única palavra que ela acertou foi Gabriela. O segundo Gabriela, o meu Gabriela. Pobre Sônia Braga, virou Gabrila.

  Voei ao escovar os dentes, lavei o rosto ainda mais rápido. Pensei em cruzar a porta assim que sai do banheiro, mas Castro me fita tão lindamente que não resisto. Tem os olhos de lua minguante me encarando e o lábio inferior quase cobre os de cima. É fofa.

- Seu cabelo tá maravilhoso hoje. - Segurei sua cabeça com as mãos para trazer mais para perto, deixando um beijo no topo. - Que cheiro bom! Eu poderia comê-lo agora.

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