XIII

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                          Point Of View Sheilla

- E então, flor sintética? - A garota do meu lado questionou rindo, olhando para as flores em uma das suas mãos, a outra está entrelaçada com a minha.

- Você disse que não gosta de cuidar, não é? Economizei o seu tempo. - E assim, ela riu ainda mais, quase que fechando os olhos. - Há um cartão aí, mas leia apenas quando estiver em casa.

- Por que? - Fitou o pequeno cartão entre uma flor verde e uma rosa. Nem mesmo as cores escolhidas fazem algum sentido.

- Porque é muito constrangedor, até para mim. - Expliquei, recebendo sua revirada de olhos.

- Nunca acharia isso sobre nada que te envolve. - Explicou, ainda sem me olhar, mas me fazendo sorrir só de notar seu rosto sério observando cada detalhe das flores em suas mãos. Nem há tantas minúcias assim. - Espero que não esteja com uma roupa muito fora do padrão.

- Você está perfeita para qualquer coisa! - Tento manter toda a minha atenção no trânsito, entretanto, tudo sobre a mulher ao meu lado me parece ser mais chamativo.

- E você deve dizer isso para todas. - A surpresa pela sua fala foi tanta que não pude controlar a minha gargalhada que saiu, sem o meu consentimento, tomando o ambiente. - Do que está rindo?

- Não há outras. - Deixei um selinho demorado sobre sua mão, querendo prolongar o máximo possível aquele contato.

- Outros, então?

E com essa simples pergunta, senti a culpa transbordar das minhas razões, novamente. Tenho um outro, que não me importa, mas existe. 21:12, agora ele deve estar cruzando a porta da entrada de casa e indo dormir, em um quarto diferente, mas ainda sim na mesma casa, sob o mesmo teto. Na teoria, ela é a outra, contudo, é impossível pensar assim. Ela nunca seria só isso.

- Sheilla? - Despertou-me de volta das minhas divagações, me olhando com aqueles olhinhos que parecem ler cada porção do universo.

- Também não há. - Ainda que não sendo de toda a verdade, o seu sorriso satisfeito fez valer a pena.

Não está na minha índole mentir, ainda menos com algo assim, portanto, agora se tornou oportuno. Seu sorriso brilhava um pouco mais, sua mão segurava a minha mais firme e os seus olhos passavam uma segurança que eu gosto. Eu preciso.

- Não vai mesmo me dizer aonde vai? - Perguntou.

- Já está em frente. - Apontei com a cabeça para o restaurante, observando-o também pela primeira vez. Carol estava certa, é mesmo muito discreto.

Como fiz quando a busquei, fiz também agora: Sai primeiro, atravessei o carro em passos rápidos e abri a porta para a mais nova. Em forma de agradecimento, ela juntou nossas mãos de novo, tão firme que eu nunca poderia sair dali. E eu nem mesmo quero. Sua roupa está tão linda, seu rosto é tão bonito, que sinto-me enciumada de saber que outras pessoas a podem ver assim, tão fenomenal. Em contrapartida, meu ego se torna ainda maior agora. Todos a olham, mas por essa noite, apenas eu a tenho do lado.

Seu olhar parecia me pedir calma e sua boca, sempre que abria para solfejar meu nome, parecia um pedido silencioso por um beijo. A música no fundo, por sua vez, parece tentar nos enlaçar, nossas vozes combinam com o ritmo amantético, quase como se fôssemos a inspiração da composição. E talvez, em um mundo paralelo, sejamos mesmo.

E agora com o vinho em mesa, estávamos sozinhas ali de novo.

Me abraça, me aperta. Me enfeita num beijo. Toca ao fundo.

Coffee Break | SHEIBI Onde histórias criam vida. Descubra agora