XXV

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Point Of View Sheilla Castro

- Por que tanta pressa? - Uma voz masculina soou atrás de mim e não é preciso olhar para saber quem é, posso reconhecer somente pela forma como meus olhos reviram por instinto. - E que rosto molhado é esse? O que aconteceu? - Se eu não virei para olhá-lo, ele girou pelo meu corpo até parar na minha frente.

Visto a roupa mais formal que pude achar às pressas, estive muito ocupada por toda a manhã - e madrugada - pensando em Gabriela para me lembrar do casamento, tão pouco para planejar algo decente. Mas, apesar do pouco tempo e ansiedade corroendo por todo o corpo, eu até que escolhi algo bom. Estava bonita, pelo menos. Mas, não adianta tanto um vestido solene se, em contrapartida, meu rosto está sofrido e a voz, que deveria ser firme, treme mais que de usuário de talidomida.

Brenno me encara de cima até embaixo algumas vezes enquanto espera a minha resposta; eu não pretendo responder nada, nem saberia o que dizer. Antes de ser meu ex, ele é o pai das minhas filhas e sei que é esse o motivo de sua preocupação, me olha pesaroso com os olhos semicerrados e não diz nada, continua esperando. Seus olhos avaliativos já começam a me causar desconforto e deduzo que é melhor responder qualquer coisa só para sair dessa situação. E então digo:

- Nada aconteceu, só não dormi bem essa noite.

- E chorou porquê não dormiu bem? - Perguntou irônico, quase rindo.

- Não chorei, não. - Tenho os olhos marejados, o coração doendo fisicamente, a boca seca e a voz embargada, mas não chorei.

- Certo, não chorou. - Riu fraco e tomou o celular em mãos, entendi isso como minha deixa para sair. - Não, espere um pouco.

Não sei porque acatei, acho que já estou muito cansada para ir contra a maré, mas o fiz. Um relógio imaginário faz um tic-tac na minha cabeça enquanto espero o que ele tem para dizer, já me sinto arrependida da decisão.

Depois de tanto encarar o celular, o guardou e virou para mim de novo.

- Tenho uma coisa amanhã. - Iniciou. - Tem como pegar as meninas um dia antes?

- Não é um problema. - Na verdade, é a solução. Thaisa é uma ótima companhia, mas nada como as risadas das minhas meninas complementando a casa. - As busco hoje?

- Não, não hoje. Deixo elas na sua casa amanhã. Ainda está com Thaisa?

Não queria que ele soubesse onde estou morando, apenas para evitar qualquer incômodo. Agora é tarde.

- Sim, na Thaisa.

- Te ligo quando estiver indo. - O tic-tac do relógio cedeu espaço para um batuque de percussão, agora a realidade está ainda mais próxima e isso é barulhento. - Fique bem, Sheilla.

[10:45] Sheilla Castro: Onde está?

[10:45] Thaisa Daher: Já acabou aí?
Por que tão rápido?
Tudo bem?

[10:46] Sheilla Castro: Nada bem. Ainda está aqui?

[10:46] Thaisa Daher: Sim, chego em um minuto.

Não estou triste, não é melancólico ou depressivo; é irritante. Não estou enraivecida por não ter sido escolhida, muito menos por tê-la visto com a garota. É muito mais sobre ela ter lido a carta e, ainda sim, ter ido no mesmo lugar e na mesma hora apenas para me mostrar qual foi sua escolha. Digo, uma mensagem de texto já faria o mesmo efeito e seria menos humilhante, pelo menos.

Em um loop torturante, a cena de Mia olhando para mim e sorrindo não para de rodar na minha cabeça e por alguns segundos, apenas alguns, parecia que só ela sabia o que realmente se passava ali. Ela tinha aquele olhar de vitória e Gabriela, que deveria ser quem me olha com deboche, estava de costas e parecia mesmo alheia a situação.

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