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                        Point Of View Sheilla

O silêncio na casa se tornara incômodo agora que Gabriela não está mais presente, minhas filhas realmente se cansaram da aula já que logo após comerem e brincarem com a mais velha, se acomodaram para dormir novamente. A falta das risadas das três juntas me atinge mais do que eu esperava, um marasmo arrebatador. O sorriso travesso da mulher quando se escondia das minhas filhas, o olhar astuto de Ninna toda vez que a encontrava e a gargalhada alta de Liz quando tinha que correr para não ser pega foi terapêutico para mim, narcotizou meu corpo como morfina e nem insulina seria capaz de aliviar o quanto a doce cena me deixou derretida.

Deixei Gabriela na porta de sua casa e não anotei seu número, nem seu Instagram, nem mesmo sei com o que trabalha ou onde trabalha. Nos despedimos com a promessa de repetir o dia, nos vermos novamente, mas como isso seria possível se as únicas informações que eu tenho da garota é que seu nome é Gabriela Guimarães, gosta de espada de São Jorge, tem pizza de morango com chocolate como favorita, Frozen é o seu filme preferido e é fã assídua de vôlei? Como posso reencontra-la se só sei que ela é linda, tem cachos brilhantes, sorri mexendo nos olhos, franze a sobrancelha e gesticula de uma forma diferente? Se todas as informações que tenho sobre ela é como ela é engraçada e encantadora e não o seu número, como vou vê-la de novo?

O cheiro de Petits Et Mamans continuou em todos os cantos da minha sala, principalmente no cobertor que ela usara para se cobrir. Não é um perfume infantil, mas também não é um perfume que represente mulheres feitas. É jovial. O cheiro floral amadeirado, quase que almiscarado é inconfundível, reconheceria em qualquer lugar que eu fosse no primeiro segundo. Talvez seja assim que eu a reveja, sentindo o seu perfume. Ou talvez, sendo ainda mais otimista, eu escute seu riso contido em algum canto da cidade. Espero, apenas espero que isso não demore muito. Nem se eu me dedicar muito conseguiria entender porque estou tão preocupada com isso, tão intrigada com aquela mulher.

- Boa noite, lindinha! - A voz atrás de mim me arrancou dos meus melhores pensamentos, me trazendo de volta para a realidade não tão agradável. - Que bagunça nessa casa, Sheilla. A empregada não veio?

- Liberei-a pela chuva. - Disse bronca, sem olhar para trás para manter contato visual. Sua voz já entrega que não está sóbrio e o quanto eu puder ignorar seu rosto, eu irei.

- Eu pago para que ela trabalhe, pouco me importo com a chuva. Não faça isso novamente. - E como sempre, sua personalidade mudou bruscamente de homem adorável para o ríspido que realmente é. Dessa vez, olhei para trás fitando seu rosto.

- Você não me diz o que fazer.

- Quem esteve aqui? - Me questionou apontando com os olhos para as duas taças de vinho vazias na mesa, que esqueci de recolher. Praguejei aos céus por tamanha ingenuidade, não que eu tivesse algo a esconder, mas todo motivo para evitar briga é sempre útil.

- A Thaisa, passamos a tarde juntas. - Me olhou desafiador enquanto dava uma risada sem graça, caminhando até a mesa e segurando uma das taças.

- Engraçado, lindinha, eu vi a Thaisa com o namorado no bar aqui do lado e ela me disse que você não respondeu as mensagens dela pela tarde. Imagino que ela não teria motivos para mentir, certo? - Soltou a taça no chão, quebrando a em um milhão de pedaços pela sala. Minha única reação foi tampar parcialmente os ouvidos e fechar os olhos pelo impacto. - Não vai dizer nada?

- Não tenho nada para dizer, Brenno, tive uma visita.

- Visita? Teve uma visita? - Me contentei em apenas concordar com a cabeça, qualquer coisa que eu falar irá piorar e na verdade, não tenho motivos para me justificar. - Quem é o cara, Sheilla? Se você ainda tem alguma esperança que esse casamento continue, me diga agora, quem é o cara?

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