VIII

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                        Point Of View Gabriela

Faz três dias que Lorenne pediu Juma em namoro, o qual ela aceitou de imediato, e agora minhas amigas vivem em um mundo distante todo o tempo, que nem mesmo se essa fosse minha vontade, eu poderia ser incluída também. É um mundo delas. Não obstante, eu tenho o meu mundo também: Um pouco mais caótico que o das mesmas, consideravelmente mais confuso e, não menos importante, muito menos romântico. Foram três dias que tive mais tempo do que nunca para pensar, o que não mudara nada na minha cabeça, que continua mais perdida do que nunca. Mas agora perdida e com um contato na agenda.

Três dias com um número salvo, tentando pensar em uma forma de chamá-la sem soar desesperada, sem que se assuste. 72 horas abrindo e fechando a nossa conversa vazia, ponderando o que posso vir a fazer para mudar isso. Apenas chamá-la de forma casual e aguardar por uma resposta? Mas ela nem mesmo é casual. Poderia perguntar como estão as garotas, entretanto, não acho que esteja em uma posição de falar sobre suas filhas. Posso implora-la para vir a minha casa e comemorar a festa, pasmem, de três dias de namoro das minhas melhores amigas, ela nem mesmo aceitaria. Ou posso, por fim, apenas mandar um áudio fazendo barulhos monossilábicos para que assim ela entenda minha confusão. 18:45 de terça-feira aponta no horário, marcando três dias exatos que a encontrei. E fazendo valer a regra de três dias, mesmo que não tenhamos tido um encontro, agora tenho mais certeza do que nunca que preciso falar algo ou perderei a chance para sempre.

[18:46] Gabriela Guimarães: Boa noite, Sheilla!
Desculpe não tê-la chamado antes, não quis atrapalhar o fim de semana, caso estivesse com a família.

Milésimos de segundos após clicar em enviar, voltei a enxergar milhões de problemas na mensagem: E se estiver muito tarde? E se fui muito sugestiva? E se ela nem mesmo se lembrar mais quem eu sou? Ela já tem o costume de esquecer das pessoas. Coloquei o celular de canto e abafei minha cabeça com um travesseiro, quase que gritando, tentando me controlar para não deletar a mensagem e começar do zero. Demoraram pouquíssimos instantes até sentir o celular vibrar ao meu lado, que para mim foram longos e torturantes como assistir peça infantil, sinalizando uma mensagem da mulher que eu já tinha feito questão de salvar o contato.

[18:48] Sheilla Castro: Boa noite, Gabriela!

É a única coisa que irá dizer? Se contentará apenas com um "Boa noite, Gabriela!"? Eu nem mesmo quero um "Boa noite!", não estou tendo uma noite boa.

[18:55] Sheilla Castro: Desculpe! Estava fazendo uma última coisa.
Como você está? Achei que tivesse esquecido de mim, na verdade.

[18:55] Gabriela Guimarães: Nem em outra vida hahahah estou ótima e você, como está?

[18:55] Sheilla Castro: Me sinto melhor agora que sei que não me odeia.

[18:56] Gabriela Guimarães: Eu nunca cometeria tal blasfêmia.

[18:56] Sheilla Castro: Me perdoe se estiver sendo precipitada, mas o que fará pela noite?
Tenho horário na exposição de artes do centro, não queria ir sozinha e não há companhia melhor do que de uma mulher bonita.

Céus! Céus! Céus! Pense, Gabriela, o que você pode responder? Meu coração batendo mais freneticamente do que nunca, as mãos trêmulas agora suam em nervosismo e a minha cabeça não decide o melhor jeito de responder. Lorenne se incomodará se eu faltar sua festa de três dias? Afinal de contas, eu já estava presente na do dia um e dois, mesmo que ela insista que a do dia três é a mais importante. Não é justo fazer isso com a minha melhor amiga, ainda que sendo minha maior vontade.

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