Point Of View Narrador - Gabriela
67 dias se passaram, 9 semanas. Gabriela desistiu de si, tentou seguir em frente e desistiu da ideia. Passou a virada do ano sozinha em casa, trancada dentro do quarto e assistindo infinitos Stories de todos que conheciam, apenas na tentativa de ver qualquer frame de Sheilla. Não encontrou nada e dormiu antes das 1am.
Gabriela não conseguiu vedar os olhos na primeira semana depois de tudo, ficava acordada por toda a noite, encarando as paredes brancas e então, pela manhã, só virava o lado na cama. Na segunda semana, decidiu que o problema estava na tonalidade do seu quarto, mais especificamente, em seu teto tão claro que iluminava suas noites e a impedia de dormir. E, depois de 9 dias, ela levantou da cama para algo além de necessidades humanas básicas. Saiu pela porta, comprou dois baldes de tinta lilás e pintou todo o cômodo, desde as paredes extremas até todo a extensão do teto, não deixando nenhum espaço em branco.
Não demorou muito mais que duas horas para se arrepender, o lilás a lembrava que Sheilla odiava e, em sua tentativa de fazer algo que Sheilla não gosta, acabou descobrindo que ela também já não aprova tanto assim. O branco, que a mantinha acordada, foi substituído pelo lilás, que a traz ondas incontroláveis de choro. Não conseguia evitar, quando se dá por si, já estava se lamentando por ser uma cor tão ruim.
No décimo terceiro dia, Gabriela saiu às 5 da manhã, antes de todos da sua casa acordarem e comprou um balde de tinta verde oliva. Contudo, antes de começar a pintar, suas amigas resolveram fazer uma intervenção. Isso já passou dos limites, pensam.
- Gabi, isso é uma intervenção. - Lorenne segurou seu pulso, impedindo que continuasse a abrir o pote. - Chega de pintura.
- A casa está com cheiro de solvente há dias. - Juma reforçou, tirando a tinta de suas mãos e colocando atrás de si.
- Essa será a última. - Deu a volta na garota, pegando o balde de volta.
- Por que está fazendo isso?
Lorenne tenta disfarçar, não quer demonstrar tanto, mas nunca esteve tão preocupada. É quase uma babá para Gabi, a impede de fazer imprudências, mas não pode controlar seus sentimentos. Não há necessidade de ter muito conhecimento mental para entender que, mesmo que não diga em palavras, todas suas atitudes mostram que ainda está instável. Não come por conta própria, esquece-se de beber água e toma decisões que não fazem sentido. Pintar o quarto duas vezes em uma mesma semana?
- Só não gostei do lilás, quero mudar. - Disse simples, abriu o pote e analisou se aquela quantidade iria dar para tudo. Provavelmente sim, pensou.
- Garanto que verde não vai ficar bom também, Gabi. - Lorenne fechou de volta, ignorando os resmungos da sua amiga. - Precisa parar com isso.
- Estou bem assim, agora se me dão licença, tenho quatro paredes e um teto para consertar. - E empurrou suas amigas para fora do quarto, fingindo não ouvir nada que diziam. Não ouviu as ajudas oferecidas, nem palavras de suporte; só ouviu sua própria voz interior a pressionando para fazer aquilo.
Após duas semanas, Gabriela tem um quarto parcialmente cor ardósia. A tinta não deu mesmo para toda a pintura, apenas uns 70% dela, alguns pontos ficaram intercalados entre as cores se misturando vagamente, mas não por completo. Seu teto parece um cosplay do Charada, uma linha lilás e outra verde em sequência, o que ela achou cômico; a favorita e a preterida de Sheilla, como uma verdadeira charada que apenas ela seria capaz de entender.
Gabriela confia em padrões, a vida se torna mais fácil quando não depende apenas dela. Esse é o motivo para crer, fielmente, que é necessário 67 dias para superar alguém. Até mesmo marcou isso em sua agenda e sua motivação mais forte para levantar da cama todos os dias é riscar um novo dia no calendário, quase como uma presidiária; no entanto, seu único crime é não conseguir seguir em frente.
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Coffee Break | SHEIBI
RomanceGabriela é uma jogadora de vôlei bem sucedida, a melhor da sua posição, mas em decorrência da pandemia teve que sair da Turquia e voltar para o Brasil. Na intenção de não ficar parada e nem sozinha, Gabriela aceitou um emprego em uma cafeteria no Mi...