XXIII

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                    Point Of View Narrador

- Desculpa! - Foi a primeira coisa que Gabriela disse ao separar os lábios, muito antes do esperado por Mia, inclusive. Não permitiu que o beijo se intensificasse, cortando qualquer tentativa da mais nova que não entendia ao certo porquê tanta relutância.

- Fiz alguma coisa errada? - Indagou ainda confusa, mas não irritada; estava derretida com o quanto Gabriela estava bonita com os lábios rosados.

- Não! - Com uma corrente de ansiedade passando por seu corpo, se afastou. - Não fez nada de errado, é só que..

- Diga.

- Eu preciso mesmo ir.

Gabi não queria deixar a garota ali sozinha, mas não queria que parecesse que há alguma chance disso se tornar algo além de amizade também. Sua boca tem gosto de cerveja, suas mãos estão geladas e os olhos mal se abrem; ela não consegue parar de pensar na boca sabor amora de Sheilla, nem em seu cheiro de Jasmin e seus olhos de KillBill. E ainda que ela tente mentir para si própria, Mia nunca será isso.

E não há um problema em não ser, Gabriela adoraria conhecê-la em outras situações. Contudo, nem a pessoa mais vivida do mundo se torna interessante depois de Sheilla Castro entrar em sua vida. Se antes era morno, ela fez ferver. E se Gabi agora está apática, pensar em Sheilla a revigora.

Lâmia teria que chegar alguns meses antes, caso quisesse esse feito. E ainda assim, não seria análogo.

- Não pode fugir, Gabriela. - Segurou a mulher pela mão, fez um carinho em seus dedos e a deu um sorriso acolhedor. Gabi gostou do apoio, mas queria a pedir para não falar seu nome assim. Não ainda. - Não pode.

- Não estou fugindo. - Ela sabe que está.

- Não sou uma maníaca, não vou continuar te pressionando. - Mia soltou sua mão e entreabriu os braços, não a puxou para um abraço, esperou que ela viesse por conta própria, se assim fosse sua vontade. E ela fez.

- Não queria que parecesse que estou te enganando. Pareceu isso? - Estava preocupada em passar para a mais nova o que sentiu, sabe o quanto é doloroso.

- Não, Gabi. - O sentimento não era engano, era mais como frustração. Idealizou esse momento em sua própria cabeça e não esperava que fugisse tanto dos planos. - São coisas da vida. Eu gosto de você e não é recíproco, ainda podemos ser amigas. - Suspirou não tão aliviada, continuou se sentindo mal por ter deixado ir tão longe e mais por saber que amizades assim nunca dão certo. - Estou tranquila vivendo com essa dor.

- Me descul..

- Se pedir desculpas mais uma vez, vou começar a me sentir humilhada. - A abraçou de lado, caminhando para a escada do mezanino. - Nunca peça desculpas pelo o que sente, muito menos pelo o que não sente. Sabe pelo o que deve me pedir desculpas?

- Me diga.

- Por não ter me convidado para jogar Ludo ainda, não pense que esqueci isso. - Gabriela riu fraco, fez mesmo essa promessa para garota. No Natal, bêbada e sofrendo de paixão, mas fez.

- Você seria, tipo, a dupla perfeita para Juma. - Gabi concluiu no fim da escada, seguindo Mia até a bancada do bartender.

- E Ludo é em dupla? - Riu fraco da forma como a garota pronuncia "dupla", achou encantador. Mia percebeu e riu junto.

- Não, mas jogamos assim em casa. - Enunciou e se sentou na frente da garota, esperando ela vestir o avental e acertar a máscara antes de continuar dizendo. - E sério, você e Juma se sairiam bem.

Coffee Break | SHEIBI Onde histórias criam vida. Descubra agora